sábado, 16 de fevereiro de 2013

Declaração de renúncia do Papa Benedito XVI


DECLARATIO

Caríssimos Irmãos,
convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para  administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.
Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.
BENEDICTUS PP XVI

DISCURSO DO SANTO PADRE À ORDEM SOBERANA MILITAR DE MALTA

DISCURSO DO SANTO PADRE
À ORDEM SOBERANA MILITAR DE MALTA
Sábado, 9 de Fevereiro de 2013

Queridos Irmãos e Irmãs!
Com alegria, acolho e saúdo a cada um de vós, Cavaleiros e Damas, Capelães e voluntários, da Ordem Soberana Militar de Malta. Saúdo de modo especial Sua Alteza Eminentíssima o Grão-Mestre Frei Matthew Festing, agradecendo-lhe as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos vós; agradeço também a oferta monetária que me quisestes entregar e que destinei a uma obra de caridade. Dirijo uma saudação afectuosa aos Cardeais e aos Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, nomeadamente ao meu Secretário de Estado, que acaba de presidir à Eucaristia, e ao Cardeal Paolo Sardi, Patrono da Ordem, a quem agradeço a solicitude com que se empenha na consolidação do vínculo especial que vos une à Igreja Católica e de modo peculiar à Santa Sé. Com gratidão, saúdo D. Angelo Acerbi, vosso Prelado. Por fim, saúdo os membros do Corpo Diplomático, bem como todas as altas personalidades e autoridades aqui presentes.
Este encontro é motivado pela passagem do nono centenário do solene privilégio Pie postulatio voluntatis, de 15 de Fevereiro de 1113, pelo qual o Papa Pascoal II colocava a recém-nascida «fraternidade hospitalar» de Jerusalém, dedicada a São João Baptista, sob a tutela da Igreja e a tornava soberana, constituindo-a como Ordem de direito eclesial com a faculdade de eleger livremente os seus superiores, sem interferência da parte de outras autoridades seculares ou religiosas. Esta importante ocorrência reveste-se de um significado especial no contexto do Ano da Fé, durante o qual a Igreja é chamada a renovar a alegria e o compromisso de acreditar em Jesus Cristo, único Salvador do mundo. A este respeito, também vós sois chamados a acolher este tempo de graça, para aprofundar o conhecimento do Senhor e fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé, através do testemunho da vossa vida e do vosso serviço nos dias de hoje.
A vossa Ordem distinguiu-se, desde o início, pela sua fidelidade à Igreja e ao Sucessor de Pedro, bem como pela sua irrenunciável fisionomia espiritual, caracterizada por um alto ideal religioso. Continuai a caminhar por esta estrada, testemunhando concretamente a força transformadora da fé. Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir Jesus, e depois foram pelo mundo inteiro, cumprindo o mandato de levar o Evangelho a toda a criatura; sem medo algum, anunciaram a todos a força da cruz e a alegria da ressurreição de Cristo, das quais tinham sido testemunhas diretas. Pela fé, os mártires deram a sua vida, mostrando a verdade do Evangelho que os transformara e fizera capazes de chegar até ao dom maior, fruto do amor, com o perdão dos seus próprios perseguidores. E pela fé, ao longo dos séculos, os membros da vossa Ordem prodigalizaram-se, primeiro, na assistência dos doentes em Jerusalém e, depois, no amparo dos peregrinos na Terra Santa, expostos a graves perigos, escrevendo gloriosas páginas de caridade cristã e defesa da cristandade. No século XIX, a Ordem abriu-se a espaços novos e mais amplos de atividade no campo da assistência e ao serviço dos doentes e dos pobres, mas sem nunca renunciar aos ideais originários, mormente ao duma intensa vida espiritual de cada um dos seus membros. E o vosso empenho deve prosseguir na mesma direção, com uma atenção muito particular à consagração religiosa – a dos Professos – que constitui o coração da Ordem. Não deveis esquecer jamais as vossas raízes, quando o Beato Geraldo e os seus companheiros se consagraram com os votos ao serviço dos pobres, tendo o privilégio Pie postulatio voluntatis sancionado a sua vocação. Assim os membros da recém-nascida instituição apresentavam-se com os traços da vida religiosa: o empenho por alcançar a perfeição cristã através da profissão dos três votos, o carisma a que se consagravam e a fraternidade entre os membros. Também hoje a vocação do professo deve ser objecto de grande solicitude, naturalmente sem descuidar a vida espiritual de todos.
Neste sentido, quando comparada com outras realidades comprometidas internacionalmente na assistência aos doentes, na solidariedade e na promoção humana, a vossa Ordem distingue-se pela inspiração cristã que deve orientar constantemente o compromisso social dos seus membros. Sabei preservar e cultivar este vosso carácter qualificativo e trabalhai com renovado ardor apostólico, sempre numa atitude de profunda sintonia com o Magistério da Igreja. A vossa obra preciosa e benfazeja, articulada em vários âmbitos e realizada em diversas partes do mundo, concentrada de modo particular no serviço ao doente através de estruturas hospitalares e sanitárias, não é simples filantropia mas expressão eficaz e testemunho vivo de amor evangélico.
Na Sagrada Escritura, o apelo ao amor do próximo está ligado com o mandamento de amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (cf. Mc 12, 29-31). Por conseguinte, o amor do próximo corresponde ao mandato e ao exemplo de Cristo, se estiver fundado num verdadeiro amor a Deus. Assim o cristão, com a própria dedicação, pode fazer experimentar aos outros a ternura providente do Pai celeste, graças a uma conformação cada vez mais profunda a Cristo. Entretanto para dar amor aos irmãos, é necessário tirá-lo da fornalha da caridade divina por meio da oração, da escuta assídua da Palavra de Deus e de uma vida centrada na Eucaristia. A vossa vida de cada dia deve estar permeada pela presença de Jesus, sob cujo olhar sois chamados a colocar também os sofrimentos dos doentes, a solidão dos idosos, as dificuldades dos deficientes. Indo ao encontro destas pessoas, vós servis Cristo: «Sempre que fizerdes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40) – diz o Senhor.
Queridos amigos, continuai a trabalhar na sociedade e no mundo ao longo das estradas-mestras indicadas pelo Evangelho: a fé e a caridade, para reavivar a esperança. A fé, como testemunho de adesão a Cristo e de compromisso na missão evangélica, que vos estimula a uma presença sempre mais viva na comunidade eclesial e a uma pertença cada vez mais consciente ao Povo de Deus; a caridade, como expressão de fraternidade em Cristo, através das obras de misericórdia a favor dos doentes, dos pobres, dos necessitados de amor, conforto e assistência, dos atribulados pela solidão, a desorientação e as novas pobrezas materiais e espirituais. Estes ideais estão bem expressos no vosso lema: «Tuitio fidei et obsequium pauperum». Nestas palavras, está bem sintetizado o carisma da vossa Ordem que, como sujeito de direito internacional, não aspira a exercer poderes nem influências de carácter mundano, mas deseja desempenhar com plena liberdade a sua missão em prol do bem integral do homem, espírito e corpo, atendendo tanto aos indivíduos como à comunidade, sobretudo àqueles que mais precisam de esperança e de amor.
A Santíssima Virgem – a Bem-aventurada Virgem de Filermo – sustente com a sua proteção materna os vossos propósitos e projetos; o vosso protetor celeste São João Baptista e o Beato Geraldo, os Santos e Beatos da Ordem vos acompanhem com a sua intercessão. Quanto a mim, asseguro-vos a minha oração por vós aqui presentes, por todos os membros da Ordem, bem como pelos numerosos e beneméritos voluntários, incluindo o consistente grupo das crianças, e por quantos vos coadjuvam nas vossas atividades, ao mesmo tempo que de coração vos concedo, extensiva às vossas famílias, uma especial Bênção Apostólica.
Obrigado!