tag:blogger.com,1999:blog-87591645893860738502024-03-05T10:20:36.428-03:00A fé explicada por Bento XVIBuscando en Internethttp://www.blogger.com/profile/16269047450036686235noreply@blogger.comBlogger52125tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-22644907889542871262013-07-07T11:32:00.000-03:002013-07-07T11:32:06.388-03:00 AUDIÊNCIA GERAL Praça de São Pedro, Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2013<div align="center">
<b>
<span style="color: #663300; font-family: Times New Roman; font-size: medium;"><i>AUDIÊNCIA GERAL</i></span></b></div>
<div align="center">
<em><span style="color: #663300;">Praça de S<span style="font-family: Times New Roman;">ão
Pedro</span></span></em><span style="color: #663300;"><em><br />
Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2013</em></span></div>
<div align="center">
<br /><span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;"><b></b></span></div>
<br />
<em>Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado!<br />
Ilustres Autoridades!<br />
Amados irmãos e irmãs!</em><br />
Agradeço-vos por terdes vindo em tão grande número a esta minha última Audiência
Geral.<br />
De coração, obrigado! Sinto-me verdadeiramente comovido e vejo a Igreja viva! E
acho que devemos dizer obrigado também ao Criador pelo bom tempo que nos dá
agora, ainda no Inverno.<br />
Como fez o Apóstolo Paulo no texto bíblico que ouvimos, também eu sinto em meu
coração que devo sobretudo agradecer a Deus, que guia e faz crescer a Igreja,
que semeia a sua Palavra e assim alimenta a fé no seu Povo. Neste momento,
alarga-se o horizonte do meu espírito e abraça toda a Igreja espalhada pelo
mundo; e dou graças a Deus pelas «notícias» que pude receber, nestes anos de
ministério petrino, acerca da fé no Senhor Jesus Cristo, da caridade que circula
realmente no Corpo da Igreja e o faz viver no amor, e da esperança que nos abre
e orienta para a vida em plenitude, para a pátria do Céu.<br />
Sinto que tenho a todos comigo na oração, num presente que é o de Deus, onde
reúno cada encontro, cada viagem, cada visita pastoral. Reúno tudo e todos na
oração, para os confiar ao Senhor, pedindo-Lhe que tenhamos pleno conhecimento
da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual, e possamos
comportar-nos de maneira digna d’Ele, do seu amor, dando frutos em toda a boa
obra (cf. <i>Col</i> 1, 9-10).<br />
Neste momento, reina em mim uma grande confiança, porque sei, sabemos todos nós,
que a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida. O
Evangelho purifica e renova, dá frutos por todo o lado onde a comunidade dos
fiéis o escuta e acolhe a graça de Deus na verdade e na caridade. Esta é a minha
confiança, esta é a minha alegria.<br />
Quando, no dia
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/elezione/index_po.htm">19 de Abril de quase oito anos atrás</a>, aceitei assumir o
ministério petrino, uma certeza firme se apoderou de mim e sempre me acompanhou:
esta certeza de que a Igreja vive da Palavra de Deus. Naquele momento, como já
disse várias vezes, as palavras que ressoaram no meu coração foram: Senhor,
porque me pedis isto…, uma coisa imensa!? Este é um grande peso que me colocais
sobre os ombros, mas se Vós mo pedis, à vossa palavra lançarei as redes, seguro
de que me guiareis, mesmo com todas as minhas fraquezas. E, oito anos depois,
posso dizer que o Senhor me guiou verdadeiramente, permaneceu junto de mim, pude
diariamente notar a sua presença. Foi um pedaço de caminho da Igreja que teve
momentos de alegria e luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São
Pedro com os Apóstolos na barca no lago da Galileia: o Senhor deu-nos muitos
dias de sol e brisa suave, dias em que a pesca foi abundante; mas houve também
momentos em que as águas estavam agitadas e o vento contrário – como, aliás, em
toda a história da Igreja – e o Senhor parecia dormir. Contudo sempre soube que,
naquela barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha,
não é nossa, mas é d’Ele. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz,
certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi
e é uma certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração
transborda de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e
também a mim a sua consolação, a sua luz, o seu amor.<br />
Estamos no <i>
<a href="http://www.vatican.va/special/annus_fidei/index_po.htm">Ano da Fé</a></i>, que desejei precisamente para reforçar a nossa fé
em Deus, num contexto que parece colocá-Lo cada vez mais de lado. Queria
convidar todos a renovarem a confiança firme no Senhor, a entregarem-se como
crianças nos braços de Deus, seguros de que aqueles braços nos sustentam sempre
e nos permitem caminhar todos os dias, mesmo no cansaço. Queria que cada um se
sentisse amado por aquele Deus que entregou o seu Filho por nós e nos mostrou o
seu amor sem limites. Queria que cada um sentisse a alegria de ser cristão. Numa
bela oração, que se recita diariamente pela manhã, diz-se: «Eu Vos adoro, meu
Deus, e Vos amo com todo o coração. Agradeço-Vos por me terdes criado, feito
cristão...». Sim! Estamos contentes pelo dom da fé; é o bem mais precioso, que
ninguém nos pode tirar! Agradeçamos ao Senhor por isso mesmo todos os dias, com
a oração e com uma vida cristã coerente. Deus nos ama, mas espera que também nós
O amemos!<br />
Mas não é só a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho
na condução da barca de Pedro, embora recaia sobre ele a primeira
responsabilidade. Eu nunca me senti sozinho, ao carregar as alegrias e o peso do
ministério petrino; o Senhor colocou junto de mim tantas pessoas que, com
generosidade e amor a Deus e à Igreja, me ajudaram e estiveram ao meu lado. E em
primeiro lugar vós, amados Irmãos Cardeais: a vossa sabedoria, os vossos
conselhos, a vossa amizade foram preciosos para mim; os meus Colaboradores, a
começar pelo meu Secretário de Estado que me acompanhou fielmente ao longo
destes anos; a Secretaria de Estado e a Cúria Romana inteira, bem como todos
aqueles que, nos mais variados sectores, prestam o seu serviço à Santa Sé: são
muitos rostos que não sobressaem, permanecem na sombra, mas precisamente no
silêncio, na dedicação quotidiana, com espírito de fé e humildade, foram para
mim um apoio seguro e fiável. Um pensamento especial para a Igreja de Roma, a
minha diocese! Não posso esquecer os Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, as
pessoas consagradas e todo o Povo de Deus: nas visitas pastorais, nos encontros,
nas audiências, nas viagens, sempre senti grande solicitude e profundo afecto;
mas também eu amei a todos e cada um sem distinção, com aquela caridade pastoral
que é o coração de cada Pastor, sobretudo do Bispo de Roma, do Sucessor do
Apóstolo Pedro. Todos os dias tinha presente cada um de vós na oração, com o
coração de pai.<br />
Depois, queria que a minha saudação e o meu agradecimento chegassem a todos: o
coração de um Papa abraça o mundo inteiro. E queria expressar a minha gratidão
ao Corpo Diplomático junto da Santa Sé, tornando presente a grande família das
nações. Aqui penso também a todos aqueles que trabalham por uma boa comunicação,
e agradeço-lhes o seu serviço importante.<br />
Neste momento, queria agradecer verdadeiramente do coração também às inúmeras
pessoas, de todo o mundo, que nas últimas semanas me enviaram comoventes sinais
de atenção, amizade e oração. Sim! O Papa nunca está sozinho, pude
experimentá-lo agora mais uma vez e duma maneira tão grande que toca o coração.
O Papa pertence a todos, e muitíssimas pessoas se sentem estreitamente unidas a
ele. É verdade que recebo cartas dos grandes do mundo – dos Chefes de Estado,
dos líderes religiosos, dos representantes do mundo da cultura, etc. –, mas
recebo também muitíssimas cartas de pessoas simples que me escrevem simplesmente
com o seu coração e me fazem sentir o seu afecto, que brota do facto de estarmos
unidos com Jesus Cristo, na Igreja. Estas pessoas não me escrevem como se faz,
por exemplo, a um príncipe ou a um grande que não se conhece; mas escrevem-me
como irmãos e irmãs ou como filhos e filhas, com o sentido de um vínculo
familiar muito afectuoso. Aqui pode-se tocar com a mão o que é a Igreja: não uma
organização, uma associação para fins religiosos ou humanitários, mas um corpo
vivo, uma comunhão de irmãos e irmãs no Corpo de Jesus Cristo, que nos une a
todos. Poder experimentar a Igreja deste modo e quase tocar com as mãos a força
da sua verdade e do seu amor é motivo de alegria, num tempo em que muitos falam
do seu declínio. Mas vejamos como a Igreja está viva hoje!<br />
Nestes últimos meses, senti que as minhas forças tinham diminuído, e pedi a Deus
com insistência, na oração, que me iluminasse com a sua luz para me fazer tomar
a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja . Dei este
passo com plena consciência da sua gravidade e também novidade, mas com uma
profunda serenidade de espírito. Amar a Igreja significa também ter a coragem de
fazer escolhas difíceis, dolorosas, tendo sempre diante dos olhos o bem da
Igreja e não a nós mesmos.<br />
Permiti-me, aqui, voltar mais uma vez àquele
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/elezione/index_po.htm">19 de Abril de 2005</a>. A gravidade da decisão
esteve precisamente no facto de que, daquele momento em diante, me comprometera
sempre e para sempre com o Senhor. Sempre: quem assume o ministério petrino
deixa de ter qualquer vida privada. Pertence sempre e totalmente a todos, a toda
a Igreja. A sua vida fica, por assim dizer, totalmente despojada da dimensão
privada. Pude experimentar, e estou a experimentá-lo precisamente agora, que um
recebe a vida precisamente quando a dá. Eu disse, antes, que muitas pessoas que
amam o Senhor, amam também o Sucessor de São Pedro e estão-lhe afeiçoadas; que o
Papa tem verdadeiramente irmãos e irmãs, filhos e filhas em todo o mundo, e que
se sente seguro no abraço da vossa comunhão; é assim, porque deixou de se
pertencer a si mesmo, pertence a todos e todos pertencem a ele.<br />
Mas o «sempre» é também um «para sempre»: não haverá mais um regresso à vida
privada. E a minha decisão de renunciar ao exercício activo do ministério não
revoga isto; não volto à vida privada, a uma vida de viagens, encontros,
recepções, conferências, etc. Não abandono a cruz, mas permaneço de forma nova
junto do Senhor Crucificado. Deixo de trazer a potestade do ofício em prol do
governo da Igreja, mas no serviço da oração permaneço, por assim dizer, no
recinto de São Pedro. Nisto, ser-me-á de grande exemplo São Bento, cujo nome
adoptei como Papa. Ele mostrou-nos o caminho para uma vida, que, activa ou
passiva, está votada totalmente à obra de Deus.<br />
Agradeço a todos e cada um ainda pelo respeito e compreensão com que acolhestes
esta decisão tão importante. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja,
através da oração e da reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa
que procurei diariamente viver até agora, e quero viver sempre. Peço que me
recordeis diante de Deus, e sobretudo que rezeis pelos Cardeais, chamados a uma
tarefa tão relevante, e pelo novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Que o Senhor o
acompanhe com a luz e a força do seu Espírito!<br />
Invocamos a materna intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja,
pedindo-Lhe que acompanhe cada um de nós e toda a comunidade eclesial; a Ela nos
entregamos, com profunda confiança.<br />
Queridos amigos! Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos
momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé, que é a única visão
verdadeira do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada
um de vós, habite sempre a jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado,
não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor. Obrigado!<br />
<br />
<hr />
<strong>Saudação</strong><br />
<br />
Amados peregrinos de língua portuguesa, agradeço-vos o respeito e a
compreensão com que acolhestes a minha decisão. Continuarei a acompanhar o
caminho da Igreja, na oração e na reflexão, com a mesma dedicação ao Senhor e à
sua Esposa que vivi até agora e quero viver sempre. Peço que vos recordeis de
mim diante de Deus e sobretudo que rezeis pelos Cardeais chamados a escolher o
novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Confio-vos ao Senhor, e a todos concedo a
Bênção Apostólica.
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-76780799529178541352013-07-07T11:23:00.000-03:002013-07-07T11:23:08.255-03:00CARTA ENCÍCLICA LUMEN FIDEI DO SUMO PONTÍFICE FRANCISCO<div align="CENTER">
<span style="color: #663300;">CARTA
ENCÍCLICA<i><br />
<b><span style="font-size: medium;">LUMEN
FIDEI<br />
</span></b>
</i>DO SUMO
PONTÍFICE<br />
<b>FRANCISCO<br />
</b>AOS BISPOS<br />
AOS
PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS<br />
ÀS PESSOAS
CONSAGRADAS<br />
E A TODOS
OS FIÉIS LEIGOS</span></div>
<div align="CENTER">
<span style="color: #663300;">SOBRE A FÉ</span></div>
<br />
1. A luz da fé é a
expressão com que a
tradição da Igreja
designou o grande dom
trazido por Jesus. Eis
como Ele Se nos
apresenta, no Evangelho
de João: « Eu vim ao
mundo como luz, para que
todo o que crê em Mim
não fique nas trevas » (<i>Jo
</i>12, 46). E São Paulo
exprime-se nestes
termos: « Porque o Deus
que disse: "das trevas
brilhe a luz", foi quem
brilhou nos nossos
corações » (<i>2 Cor </i>
4, 6). No mundo pagão,
com fome de luz,
tinha-se desenvolvido o
culto do deus Sol, <i>
Sol invictus</i>,
invocado na sua aurora.
Embora o sol renascesse
cada dia, facilmente se
percebia que era incapaz
de irradiar a sua luz
sobre toda a existência
do homem. De facto, o
sol não ilumina toda a
realidade, sendo os seus
raios incapazes de
chegar até às sombras da
morte, onde a vista
humana se fecha para a
sua luz. Aliás « nunca
se viu ninguém — afirma
o mártir São Justino —
pronto a morrer pela sua
fé no sol ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn1" name="_ftnref1" title="">[1]</a>
Conscientes do amplo
horizonte que a fé lhes
abria, os cristãos
chamaram a Cristo o
verdadeiro Sol, « cujos
raios dão a vida ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn2" name="_ftnref2" title="">[2]</a> A
Marta, em lágrimas pela
morte do irmão Lázaro,
Jesus diz-lhe: « Eu não
te disse que, se
acreditares, verás a
glória de Deus? » (<i>Jo
</i>11, 40). Quem
acredita, vê;
vê com uma luz que
ilumina todo o percurso da
estrada, porque nos vem de
Cristo ressuscitado, estrela
da manhã que não tem ocaso.
<br />
<i>
<b>Uma luz
ilusória?</b> <br />
</i>
2.
E contudo podemos
ouvir a objecção que se
levanta de muitos dos
nossos contemporâneos,
quando se lhes fala
desta luz da fé. Nos
tempos modernos,
pensou-se que tal luz
poderia ter sido
suficiente para as
sociedades antigas, mas
não servia para os novos
tempos, para o homem
tornado adulto,
orgulhoso da sua razão,
desejoso de explorar de
forma nova o futuro.
Nesta perspectiva, a fé
aparecia como uma luz
ilusória, que impedia o
homem de cultivar a
ousadia do saber. O
jovem Nietzsche
convidava a irmã
Elisabeth a arriscar,
percorrendo vias novas
(…), na incerteza de
proceder de forma
autónoma ». E
acrescentava: « Neste
ponto, separam-se os
caminhos da humanidade:
se queres alcançar a paz
da alma e a felicidade,
contenta-te com a fé;
mas, se queres ser uma
discípula da verdade,
então investiga ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn3" name="_ftnref3" title="">[3]</a> O
crer opor-se-ia ao
indagar. Partindo daqui,
Nietzsche desenvolverá a
sua crítica ao
cristianismo por ter
diminuído o alcance da
existência humana,
espoliando a vida de
novidade e aventura.
Neste caso, a fé seria
uma espécie de ilusão de
luz, que impede o nosso
caminho de homens livres
rumo ao amanhã.
3.
Por este caminho, a
fé acabou por ser
associada com a
escuridão. E, a fim de
conviver com a luz da
razão, pensou-se na
possibilidade de a
conservar, de lhe
encontrar um espaço: o
espaço para a fé
abria-se onde a razão
não podia iluminar, onde
o homem já não podia ter
certezas. Deste modo, a
fé foi entendida como um
salto no vazio, que
fazemos por falta de luz
e impelidos por um
sentimento cego, ou como
uma luz subjectiva,
talvez capaz de aquecer
o coração e consolar
pessoalmente, mas
impossível de ser
proposta aos outros como
luz objectiva e comum
para iluminar o caminho.
Entretanto, pouco a
pouco, foi-se vendo que
a luz da razão autónoma
não consegue iluminar
suficientemente o
futuro; este, no fim de
contas, permanece na sua
obscuridade e deixa o
homem no temor do
desconhecido. E, assim,
o homem renunciou à
busca de uma luz grande,
de uma verdade grande,
para se contentar com
pequenas luzes que
iluminam por breves
instantes, mas são
incapazes de desvendar a
estrada. Quando falta a
luz, tudo se torna
confuso: é impossível
distinguir o bem do mal,
diferenciar a estrada
que conduz à meta
daquela que nos faz
girar repetidamente em
círculo, sem direcção.
<br />
<i>
<b>Uma luz a
redescobrir </b> <br />
</i>
4.
Por isso, urge
recuperar o carácter de
luz que é próprio da fé,
pois, quando a sua chama
se apaga, todas as
outras luzes acabam
também por perder o seu
vigor. De facto, a luz
da fé possui um carácter singular,
sendo capaz de iluminar toda
a existência do homem. Ora,
para que uma luz seja tão
poderosa, não pode dimanar
de nós mesmos; tem de vir de
uma fonte mais originária,
deve porvir em última
análise de Deus. A fé nasce
no encontro com o Deus vivo,
que nos chama e revela o seu
amor: um amor que nos
precede e sobre o qual
podemos apoiar-nos para
construir solidamente a
vida. Transformados por este
amor, recebemos olhos novos
e experimentamos que há nele
uma grande promessa de
plenitude e se nos abre a
visão do futuro. A fé, que
recebemos de Deus como dom
sobrenatural, aparece-nos
como luz para a estrada
orientando os nossos passos
no tempo. Por um lado,
provém do passado: é a luz
duma memória basilar — a da
vida de Jesus –, onde o seu
amor se manifestou
plenamente fiável, capaz de
vencer a morte. Mas, por
outro lado e ao mesmo tempo,
dado que Cristo ressuscitou
e nos atrai de além da
morte, a fé é luz que vem do
futuro, que descerra diante
de nós horizontes grandes e
nos leva a ultrapassar o
nosso « eu » isolado
abrindo-o à amplitude da
comunhão. Deste modo,
compreendemos que a fé não
mora na escuridão, mas é uma
luz para as nossas trevas.
Dante, na <i>Divina Comédia</i>,
depois de ter confessado
diante de São Pedro a sua
fé, descreve-a como uma «
centelha / que se expande
depois em viva chama / e,
como estrela no céu, em mim
cintila ». <a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn4" name="_ftnref4" title="">[4]</a> É
precisamente desta luz da fé que quero
falar, desejando que cresça
a fim de iluminar o presente
até se tornar estrela
que mostra os horizontes do
nosso caminho, num tempo em
que o homem vive
particularmente carecido de
luz.
5.
Antes da sua paixão,
o Senhor assegurava a
Pedro: « Eu roguei por
ti, para que a tua fé
não desfaleça » (<i>Lc
</i>22, 32). Depois
pediu-lhe para «
confirmar os irmãos » na
mesma fé. Consciente da
tarefa confiada ao
Sucessor de Pedro,
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/index_po.htm">Bento XVI</a> quis
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/motu_proprio/documents/hf_ben-xvi_motu-proprio_20111011_porta-fidei_po.html">proclamar</a> este
<i>
<a href="http://www.vatican.va/special/annus_fidei/index_po.htm">Ano da Fé</a></i>, um
tempo de graça que nos
tem ajudado a sentir a
grande alegria de crer,
a reavivar a percepção
da amplitude de
horizontes que a fé
descerra, para a
confessar na sua unidade
e integridade, fiéis à
memória do Senhor,
sustentados pela sua
presença e pela acção do
Espírito Santo. A
convicção duma fé que
faz grande e plena a
vida, centrada em Cristo
e na força da sua graça,
animava a missão dos
primeiros cristãos. Nas
Actas dos Mártires,
lemos este diálogo entre
o prefeito romano
Rústico e o cristão
Hierax: « Onde estão os
teus pais? » —
perguntava o juiz ao
mártir; este respondeu:
« O nosso verdadeiro pai
é Cristo, e nossa mãe a
fé n’Ele ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn5" name="_ftnref5" title="">[5]</a> Para
aqueles cristãos, a fé,
enquanto encontro com o
Deus vivo que Se
manifestou em Cristo,
era uma « mãe », porque
os fazia vir à luz,
gerava neles a vida
divina, uma nova
experiência, uma visão luminosa da existência,
pela qual estavam prontos a
dar testemunho público até
ao fim. <br />
6.
O
<i>
<a href="http://www.vatican.va/special/annus_fidei/index_po.htm">Ano da Fé</a> </i>teve início no
cinquentenário da
abertura do Concílio
Vaticano II. Esta
coincidência permite-nos
ver que o mesmo foi um
Concílio sobre a fé,<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn6" name="_ftnref6" title="">[6]</a>
por nos ter convidado a
repor, no centro da
nossa vida eclesial e
pessoal, o primado de
Deus em Cristo. Na
verdade, a Igreja nunca
dá por descontada a fé,
pois sabe que este dom
de Deus deve ser nutrido
e revigorado sem cessar
para continuar a
orientar o caminho dela.
O Concílio Vaticano II
fez brilhar a fé no
âmbito da experiência
humana, percorrendo
assim os caminhos do
homem contemporâneo.
Desta forma, se viu como
a fé enriquece a
existência humana em
todas as suas dimensões.
7. Estas considerações
sobre a fé — em
continuidade com tudo o
que o magistério da
Igreja pronunciou acerca
desta virtude teologal <a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn7" name="_ftnref7" title="">[7]</a>
— pretendem juntar-se a
tudo aquilo que
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/index_po.htm">Bento XVI</a> escreveu nas cartas
encíclicas sobre a
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate_po.html">caridade</a>
e a
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20071130_spe-salvi_po.html">esperança</a>. Ele já tinha
quase concluído um primeiro
esboço desta carta encíclica
sobre a fé. Estou-lhe
profundamente agradecido e,
na fraternidade de Cristo,
assumo o seu precioso
trabalho, limitando-me a
acrescentar ao texto
qualquer nova contribuição.
De facto, o Sucessor de
Pedro, ontem, hoje e amanhã,
sempre está chamado a «
confirmar os irmãos » no
tesouro incomensurável da fé
que Deus dá a cada homem
como luz para o seu caminho.
<br />
Na fé, dom de Deus e
virtude sobrenatural por Ele
infundida, reconhecemos que
um grande Amor nos foi
oferecido, que uma Palavra
estupenda nos foi dirigida:
acolhendo esta Palavra que é
Jesus Cristo — Palavra
encarnada –, o Espírito
Santo transforma-nos,
ilumina o caminho do futuro
e faz crescer em nós as asas
da esperança para o
percorrermos com alegria.
Fé, esperança e caridade
constituem, numa
interligação admirável, o
dinamismo da vida cristã
rumo à plena comunhão com
Deus. Mas, como é este
caminho que a fé desvenda
diante de nós? Donde provém
a sua luz, tão poderosa que
permite iluminar o caminho
duma vida bem sucedida e
fecunda, cheia de fruto?<br />
<br />
<div align="center">
CAPÍTULO
I </div>
<div align="CENTER">
<b>ACREDITÁMOS NO AMOR<br />
</b>(cf.
1 <i>Jo </i>4, 16) </div>
<i>
<b>Abraão,
nosso pai na fé</b> <br />
</i>
8.
A fé desvenda-nos o
caminho e acompanha os
nossos passos na
história. Por isso, se
quisermos compreender o
que é a fé, temos de
explanar o seu percurso,
o caminho dos homens
crentes, com os
primeiros testemunhos já
no Antigo Testamento. Um
posto singular ocupa
Abraão, nosso pai na fé.
Na sua vida, acontece um
facto impressionante:
Deus dirige-lhe a
Palavra, revela-Se
como um Deus que fala e
o chama por nome. A fé
está ligada à escuta.
Abraão não vê Deus, mas
ouve a sua voz. Deste
modo, a fé assume um
carácter pessoal: o
Senhor não é o Deus de
um lugar, nem mesmo o
Deus vinculado a um
tempo sagrado
específico, mas o Deus
de uma pessoa,
concretamente o Deus de
Abraão, Isaac e Jacob,
capaz de entrar em
contacto com o homem e
estabelecer com ele uma
aliança. A fé é a
resposta a uma Palavra
que interpela
pessoalmente, a um Tu
que nos chama por nome.
9. Esta Palavra
comunica a Abraão uma
chamada e uma promessa.
Contém, antes de tudo, uma chamada a sair da
própria terra, convite a
abrir-se a uma vida nova,
início de um êxodo que o
encaminha para um futuro
inesperado. A perspectiva,
que a fé vai proporcionar a
Abraão, estará sempre ligada
com este passo em frente que
ele deve realizar: a fé « vê
» na medida em que caminha,
em que entra no espaço
aberto pela Palavra de Deus.
Mas tal Palavra contém ainda
uma promessa: a tua
descendência será numerosa,
serás pai de um grande povo
(cf. <i>Gn </i>13, 16; 15,
5; 22, 17). É verdade que a
fé de Abraão, enquanto
resposta a uma Palavra que a
precede, será sempre um acto
de memória; contudo esta
memória não o fixa no
passado, porque, sendo
memória de uma promessa, se
torna capaz de abrir ao
futuro, de iluminar os
passos ao longo do caminho.
Assim se vê como a fé,
enquanto memória do futuro,
está intimamente ligada com
a esperança. <br />
10. A Abraão pede-se para
se confiar a esta Palavra. A
fé compreende que a palavra
— uma realidade
aparentemente efémera e
passageira —, quando é
pronunciada pelo Deus fiel,
torna-se no que de mais
seguro e inabalável possa
haver, possibilitando a
continuidade do nosso
caminho no tempo. A fé
acolhe esta Palavra como
rocha segura, sobre a qual
se pode construir com
alicerces firmes. Por isso,
na Bíblia hebraica, a fé é
indicada pela palavra <i>
‘emûnah</i>, que deriva do
verbo <i>‘amàn</i>, cuja
raiz significa « sustentar
». O termo <i>‘emûnah </i>
tanto pode significar a
fidelidade de Deus como a fé
do homem. O homem fiel recebe a sua força do
confiar-se nas mãos do Deus
fiel. Jogando com dois
significados da palavra —
presentes tanto no
termo grego <i>pistós </i>
como no correspondente
latino <i>fidelis </i>–, São
Cirilo de Jerusalém exaltará
a dignidade do cristão, que
recebe o mesmo nome de Deus:
ambos são chamados « fiéis
».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn8" name="_ftnref8" title="">[8]</a> E Santo Agostinho
explica-o assim: « O homem
fiel é aquele que crê no
Deus que promete; o Deus
fiel é aquele que concede o
que prometeu ao homem ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn9" name="_ftnref9" title="">[9]</a> <br />
11. Há ainda um aspecto
da história de Abraão que é
importante para se
compreender a sua fé. A
Palavra de Deus, embora
traga consigo novidade e
surpresa, não é de forma
alguma alheia à experiência
do Patriarca. Na voz que se
lhe dirige, Abraão reconhece
um apelo profundo, desde
sempre inscrito no mais
íntimo do seu ser. Deus
associa a sua promessa com
aquele « ponto » onde
desde sempre a existência do
homem se mostra promissora,
ou seja, a paternidade, a
geração duma nova vida: «
Sara, tua mulher, dar-te-á
um filho, a quem hás-de
chamar Isaac » (<i>Gn </i>
17, 19). O mesmo Deus que
pede a Abraão para se
confiar totalmente a Ele,
revela-Se como a fonte donde
provém toda a vida. Desta
forma, a fé une-se com a
Paternidade de Deus, da qual
brota a criação: o Deus que
chama Abraão é o Deus
criador, aquele que « chama
à existência o que não
existe » (<i>Rm </i>4, 17),
aquele que, « antes da fundação do mundo, (...) nos
predestinou para sermos
adoptados como seus filhos »
(<i>Ef </i>1, 4-5).
No caso de Abraão, a fé em
Deus ilumina as raízes mais
profundas do seu ser:
permite-lhe reconhecer a
fonte de bondade que está na
origem de todas as coisas, e
confirmar que a sua vida não
deriva do nada nem do acaso,
mas de uma chamada e um amor
pessoais. O Deus misterioso
que o chamou não é um Deus
estranho, mas a origem de
tudo e que tudo sustenta. A
grande prova da fé de
Abraão, o sacrifício do
filho Isaac, manifestará até
que ponto este amor
originador é capaz de
garantir a vida mesmo para
além da morte. A Palavra que
foi capaz de suscitar um
filho no seu corpo « já sem
vida (…), como sem vida
estava o seio » de Sara
estéril (<i>Rm </i>4, 19),
também será capaz de
garantir a promessa de um
futuro para além de qualquer
ameaça ou perigo (cf. <i>Heb
</i>11, 19; <i>Rm </i>4,
21). <br />
<i>
<div align="JUSTIFY">
<b>A fé de
Israel </b> </div>
</i>
12.
A história do povo
de Israel, no livro do
Êxodo, continua na
esteira da fé de Abraão.
De novo, a fé nasce de
um dom originador:
Israel abre-se à acção
de Deus, que quer
libertá-lo da sua
miséria. A fé é chamada
a um longo caminho, para
poder adorar o Senhor no
Sinai e herdar uma terra
prometida. O amor divino
possui os traços de um
pai que conduz seu filho
pelo caminho (cf. <i>Dt
</i>1, 31). A confissão
de fé de Israel
desenrola-se como uma
narração dos benefícios
de Deus, da sua acção
para libertar e conduzir
o povo (cf. <i>
Dt </i>26, 5-11);
narração esta, que o povo
transmite de geração em
geração. A luz de Deus
brilha para Israel, através
da comemoração dos factos
realizados pelo Senhor,
recordados e confessados no
culto, transmitidos pelos
pais aos filhos. Deste modo
aprendemos que a luz trazida
pela fé está ligada com a
narração concreta da vida,
com a grata lembrança dos
benefícios de Deus e com o
progressivo cumprimento das
suas promessas. A
arquitectura gótica
exprimiu-o muito bem: nas
grandes catedrais, a luz
chega do céu através dos
vitrais onde está
representada a história
sagrada. A luz de Deus
vem-nos através da narração
da sua revelação e, assim, é
capaz de iluminar o nosso
caminho no tempo, recordando
os benefícios divinos e
mostrando como se cumprem as
suas promessas.
13. A história de Israel
mostra-nos ainda a tentação
da incredulidade, em que o
povo caiu várias vezes.
Aparece aqui o contrário da
fé: a idolatria. Enquanto
Moisés fala com Deus no
Sinai, o povo não suporta o
mistério do rosto divino
escondido, não suporta o
tempo de espera. Por sua
natureza, a fé pede para se
renunciar à posse imediata
que a visão parece oferecer;
é um convite para se abrir à
fonte da luz, respeitando o
mistério próprio de um Rosto
que pretende revelar-se de
forma pessoal e no momento
oportuno. Martin Buber
citava esta definição da
idolatria, dada pelo rabino
de Kock: há idolatria, «
quando um rosto se dirige
reverente a um rosto que não
é rosto ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn10" name="_ftnref10" title="">[10]</a> Em vez
da fé em Deus, prefere-se
adorar o ídolo, cujo rosto
se pode fixar e cuja origem
é conhecida, porque foi
feito por nós. Diante do
ídolo, não se corre o risco
de uma possível chamada que
nos faça sair das próprias
seguranças, porque os ídolos
« têm boca, mas não falam »
(<i>Sal </i>115, 5).
Compreende-se assim que o
ídolo é um pretexto para se
colocar a si mesmo no centro
da realidade, na adoração da
obra das próprias mãos.
Perdida a orientação
fundamental que dá unidade à
sua existência, o homem
dispersa-se na
multiplicidade dos seus
desejos; negando-se a
esperar o tempo da promessa,
desintegra-se nos mil
instantes da sua história.
Por isso, a idolatria é
sempre politeísmo, movimento
sem meta de um senhor para
outro. A idolatria não
oferece um caminho, mas uma
multiplicidade de veredas
que não conduzem a uma meta
certa, antes se configuram
como um labirinto. Quem não
quer confiar-se a Deus, deve
ouvir as vozes dos muitos
ídolos que lhe gritam: «
Confia-te a mim! » A fé,
enquanto ligada à conversão,
é o contrário da idolatria:
é separação dos ídolos para
voltar ao Deus vivo, através
de um encontro pessoal.
Acreditar significa
confiar-se a um amor
misericordioso que sempre
acolhe e perdoa, que
sustenta e guia a
existência, que se mostra
poderoso na sua capacidade
de endireitar os desvios da
nossa história. A fé
consiste na disponibilidade
a deixar-se incessantemente transformar
pela chamada de Deus.
Paradoxalmente, neste
voltar-se continuamente para
o Senhor, o homem encontra
uma estrada segura que o
liberta do movimento
dispersivo a que o sujeitam
os ídolos. <br />
14.
Na fé de Israel,
sobressai também a
figura de Moisés, o
mediador. O povo não
pode ver o rosto de
Deus; é Moisés que fala
com Jahvé na montanha e
comunica a todos a
vontade do Senhor. Com
esta presença do
mediador, Israel
aprendeu a caminhar
unido. O acto de fé do
indivíduo insere-se numa
comunidade, no « nós »
comum do povo, que, na
fé, é como um só homem:
« o meu filho
primogénito », assim
Deus designará todo o
Israel (cf. <i>Ex </i>4,
22). Aqui a mediação não
se torna um obstáculo,
mas uma abertura: no
encontro com os outros,
o olhar abre-se para uma
verdade maior que nós
mesmos. Jean Jacques
Rousseau lamentava-se
por não poder ver Deus
pessoalmente: « Quantos
homens entre mim e Deus!
» <a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn11" name="_ftnref11" title="">[11]</a> « Será assim tão
simples e natural que
Deus tenha ido ter com
Moisés para falar a Jean
Jacques Rousseau? »<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn12" name="_ftnref12" title="">[12]</a> A
partir de uma concepção
individualista e
limitada do conhecimento
é impossível compreender
o sentido da mediação:
esta capacidade de
participar na visão do
outro, saber
compartilhado que é o
conhecimento próprio do
amor. A fé é um dom
gratuito de Deus, que
exige a humildade e a
coragem de fiar-se e entregar-se
para ver o caminho luminoso
do encontro entre Deus e os
homens, a história da
salvação.
<i>
<div align="JUSTIFY">
<b>A
plenitude da fé cristã </b> </div>
</i>
15.
« Abraão (...)
exultou pensando em ver
o meu dia; viu-o e ficou
feliz » (<i>Jo </i>8,
56). De acordo com estas
palavras de Jesus, a fé
de Abraão estava
orientada para Ele, de
certo modo era visão
antecipada do seu
mistério. Assim o
entende Santo Agostinho,
quando afirma que os
Patriarcas se salvaram
pela fé; não fé em
Cristo já chegado, mas
fé em Cristo que havia
de vir, fé proclive para
o evento futuro de
Jesus.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn13" name="_ftnref13" title="">[13]</a> A fé cristã
está centrada em Cristo;
é confissão de que Jesus
é o Senhor e que Deus O
ressuscitou de entre os
mortos (cf. <i>Rm </i>
10, 9). Todas as linhas
do Antigo Testamento se
concentram em Cristo:
Ele torna-Se o « sim »
definitivo a todas as
promessas, fundamento
último do nosso « Amen »
a Deus (cf. <i>2 Cor </i>
1, 20). A história de
Jesus é a manifestação
plena da fiabilidade de
Deus. Se Israel
recordava os grandes
actos de amor de Deus,
que formavam o centro da
sua confissão e abriam o
horizonte da sua fé,
agora a vida de Jesus
aparece como o lugar da
intervenção definitiva
de Deus, a suprema
manifestação do seu amor
por nós. A palavra que
Deus nos dirige em Jesus
já não é uma entre
muitas outras, mas a sua
Palavra eterna (cf. <i>
Heb </i>1,
1-2). Não há nenhuma
garantia maior que Deus
possa dar para nos
certificar do seu amor, como
nos lembra São Paulo (cf. <i>
Rm </i>8, 31-39). Portanto,
a fé cristã é fé no Amor
pleno, no seu poder eficaz,
na sua capacidade de
transformar o mundo e
iluminar o tempo. « Nós
conhecemos o amor que Deus
nos tem, pois cremos nele »
(1 <i>Jo </i>4, 16). A fé
identifica, no amor de Deus
manifestado em Jesus, o
fundamento sobre o qual
assenta a realidade e o seu
destino último.
16.
A maior prova da
fiabilidade do amor de
Cristo encontra-se na
sua morte pelo homem. Se
dar a vida pelos amigos
é a maior prova de amor
(cf. <i>Jo </i>15, 13),
Jesus ofereceu a sua
vida por todos, mesmo
por aqueles que eram
inimigos, para
transformar o coração. É
por isso que os
evangelistas situam, na
hora da Cruz, o momento
culminante do olhar de
fé: naquela hora
resplandece o amor
divino em toda a sua
sublimidade e amplitude.
São João colocará aqui o
seu testemunho solene,
quando, juntamente com a
Mãe de Jesus, contemplou
Aquele que trespassaram
(cf. <i>Jo </i>19, 37):
« Aquele que viu estas
coisas é que dá
testemunho delas e o seu
testemunho é verdadeiro.
E ele bem sabe que diz a
verdade, para vós
crerdes também » (<i>Jo
</i>19, 35). Na sua obra
<i>O Idiota, </i>Fiódor
Mikhailovich Dostoiévski
faz o protagonista — o
príncipe Myskin — dizer,
à vista do quadro de
Cristo morto no
sepulcro, pintado por
Hans Holbein o Jovem: «
Aquele quadro poderia mesmo fazer perder a fé a
alguém »;<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn14" name="_ftnref14" title="">[14]</a> de facto,
o quadro representa, de
forma muito crua, os efeitos
destruidores da morte no
corpo de Cristo. E todavia é
precisamente na contemplação
da morte de Jesus que a fé
se reforça e recebe uma luz
fulgurante, é quando ela se
revela como fé no seu amor
inabalável por nós, que é
capaz de penetrar na morte
para nos salvar. Neste amor
que não se subtraiu à morte
para manifestar quanto me
ama, é possível crer; a sua
totalidade vence toda e
qualquer suspeita e permite
confiar-nos plenamente a
Cristo. <br />
17. Ora, a morte de
Cristo desvenda a total
fiabilidade do amor de Deus
à luz da sua ressurreição.
Enquanto ressuscitado,
Cristo é testemunha fiável,
digna de fé (cf. <i>Ap </i>
1, 5; <i>Heb </i>2, 17),
apoio firme para a nossa fé.
« Se Cristo não ressuscitou,
é vã a vossa fé », afirma
São Paulo (<i>1 Cor </i>15,
17). Se o amor do Pai não
tivesse feito Jesus
ressurgir dos mortos, se não
tivesse podido restituir a
vida ao seu corpo, não seria
um amor plenamente fiável,
capaz de iluminar também as
trevas da morte. Quando São
Paulo fala da sua nova vida
em Cristo, refere que a vive
« na fé do Filho de Deus que
me amou e a Si mesmo Se
entregou por mim » (<i>Gl
</i>2, 20). Esta « fé do
Filho de Deus » é certamente
a fé do Apóstolo dos gentios
em Jesus, mas supõe também a
fiabilidade de Jesus, que se
funda, sem dúvida, no seu
amor até à morte, mas também no facto de Ele
ser Filho de Deus.
Precisamente porque é o
Filho, porque está radicado
de modo absoluto no Pai,
Jesus pôde vencer a morte e
fazer resplandecer em
plenitude a vida. A nossa
cultura perdeu a noção desta
presença concreta de Deus,
da sua acção no mundo;
pensamos que Deus Se
encontra só no além, noutro
nível de realidade, separado
das nossas relações
concretas. Mas, se fosse
assim, isto é, se Deus fosse
incapaz de agir no mundo, o
seu amor não seria
verdadeiramente poderoso,
verdadeiramente real e, por
conseguinte, não seria
sequer verdadeiro amor,
capaz de cumprir a
felicidade que promete. E,
então, seria completamente
indiferente crer ou não crer
n’Ele. Ao contrário, os
cristãos confessam o amor
concreto e poderoso de Deus,
que actua verdadeiramente na
história e determina o seu
destino final; um amor que
se fez passível de encontro,
que se revelou em plenitude
na paixão, morte e
ressurreição de Cristo. <br />
18.
A plenitude a que
Jesus leva a fé possui
outro aspecto decisivo:
na fé, Cristo não é
apenas Aquele em quem
acreditamos, a maior
manifestação do amor de
Deus, mas é também
Aquele a quem nos unimos
para poder acreditar. A
fé não só olha para
Jesus, mas olha também a
partir da perspectiva de
Jesus e com os seus
olhos: é uma
participação no seu modo
de ver. Em muitos
âmbitos da vida,
fiamo-nos de outras
pessoas que conhecem as
coisas melhor do que
nós: temos confiança no
arquitecto que constrói
a nossa
casa, no farmacêutico que
nos fornece o remédio para a
cura, no advogado que nos
defende no tribunal.
Precisamos também de alguém
que seja fiável e perito nas
coisas de Deus: Jesus, seu
Filho, apresenta-Se
como Aquele que nos explica
Deus (cf. <i>Jo </i>1, 18).
A vida de Cristo, a sua
maneira de conhecer o Pai,
de viver totalmente em
relação com Ele abre um
espaço novo à experiência
humana, e nós podemos entrar
nele. São João exprimiu a
importância que a relação
pessoal com Jesus tem para a
nossa fé, através de vários
usos do verbo <i>crer</i>.
Juntamente com o « crer que
» é verdade o que Jesus nos
diz (cf. <i>Jo </i>14, 10;
20, 31), João usa mais duas
expressões: « crer a
(sinónimo de dar crédito a)
» Jesus e « crer em » Jesus.
« Cremos a » Jesus, quando
aceitamos a sua palavra, o
seu testemunho, porque Ele é
verdadeiro (cf. <i>Jo </i>6,
30). « Cremos em » Jesus,
quando O acolhemos
pessoalmente na nossa vida e
nos confiamos a Ele,
aderindo a Ele no amor e
seguindo-O ao longo do
caminho (cf. <i>Jo </i>2,
11; 6, 47; 12, 44).
Para nos
permitir conhecê-Lo,
acolhê-Lo e segui-Lo, o
Filho de Deus assumiu a
nossa carne; e, assim, a sua
visão do Pai deu-se também
de forma humana, através de
um caminho e um percurso no
tempo. A fé cristã é fé na
encarnação do Verbo e na sua
ressurreição na carne; é fé
num Deus que Se fez tão
próximo que entrou na nossa
história. A fé no Filho de
Deus feito homem em Jesus de
Nazaré não nos separa da
realidade; antes permite-nos
individuar o seu significado
mais profundo, descobrir
quanto Deus ama este mundo e o
orienta sem cessar para Si;
e isto leva o cristão a
comprometer-se, a viver de
modo ainda mais intenso o
seu caminho sobre a terra.
<br />
<i>
<div align="JUSTIFY">
<b>A
salvação pela fé</b> </div>
</i>
19.
A partir desta
participação no modo de
ver de Jesus, o apóstolo
Paulo deixou-nos, nos
seus escritos, uma
descrição da existência
crente. Aquele que
acredita, ao aceitar o
dom da fé, é
transformado numa nova
criatura, recebe um novo
ser, um ser filial,
torna-se filho no Filho:
« <i>Abbá</i>, Pai » é a
palavra mais
característica da
experiência de Jesus,
que se torna centro da
experiência cristã (cf.
<i>Rm </i>8, 15). A vida
na fé, enquanto
existência filial, é
reconhecer o dom
originário e radical que
está na base da
existência do homem,
podendo resumir-se nesta
frase de São Paulo aos
Coríntios: « Que tens tu
que não tenhas recebido?
» (<i>1 Cor </i>4, 7). É
precisamente aqui que se
situa o cerne da
polémica do Apóstolo com
os fariseus: a discussão
sobre a salvação pela fé
ou pelas obras da lei.
Aquilo que São Paulo
rejeita é a atitude de
quem se quer justificar
a si mesmo diante de
Deus através das
próprias obras; esta
pessoa, mesmo quando
obedece aos mandamentos,
mesmo quando realiza
obras boas, coloca-se
a si própria no centro e
não reconhece que a
origem do bem é Deus.
Quem actua assim, quem
quer ser fonte da sua
própria justiça,
depressa a vê exaurir-se
e descobre que não pode
sequer aguentar-se na
fidelidade à lei;
fecha-se, isolando-se
do Senhor e dos outros,
e, por isso, a sua vida torna-se vã, as suas
obras estéreis, como árvore
longe da água. Assim se
exprime Santo Agostinho com
a sua linguagem concisa e
eficaz: « Não te afastes
d’Aquele que te fez, nem
mesmo para te encontrares a
ti ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn15" name="_ftnref15" title="">[15]</a> Quando o
homem pensa que,
afastando-se de Deus,
encontrar-se-á a si mesmo, a
sua existência fracassa (cf.
<i>Lc </i>15, 11-24). O
início da salvação é a
abertura a algo que nos
antecede, a um dom
originário que sustenta a
vida e a guarda na
existência. Só abrindo-nos a
esta origem e reconhecendo-a
é que podemos ser
transformados, deixando que
a salvação actue em nós e
torne a vida fecunda, cheia
de frutos bons. A salvação
pela fé consiste em
reconhecer o primado do dom
de Deus, como resume São
Paulo: « Porque é pela graça
que estais salvos, por meio
da fé. E isto não vem de
vós, é dom de Deus » (<i>Ef
</i>2, 8).
20. A nova lógica da fé
centra-se em Cristo. A fé em
Cristo salva-nos, porque é
n’Ele que a vida se abre
radicalmente a um Amor que
nos precede e transforma a
partir de dentro, que age em
nós e connosco. Vê-se isto
claramente na exegese que o
Apóstolo dos gentios faz de
um texto do Deuteronómio;
uma exegese que se insere na
dinâmica mais profunda do
Antigo Testamento. Moisés
diz ao povo que o mandamento
de Deus não está demasiado
alto nem demasiado longe do
homem; não se deve dizer: «
Quem subirá por nós até ao céu e no-la
irá buscar? » ou « Quem
atravessará o mar e no-la
irá buscar? » (cf.
<i>Dt </i>30, 11-14). Esta
proximidade da palavra de
Deus é concretizada por São
Paulo na presença de Jesus
no cristão. « Não digas no
teu coração: Quem subirá ao
céu? Seria para fazer com
que Cristo descesse. Nem
digas: Quem descerá ao
abismo? Seria para fazer com
que Cristo subisse de entre
os mortos » (<i>Rm </i>10,
6-7). Cristo desceu à terra
e ressuscitou dos mortos:
com a sua encarnação e
ressurreição, o Filho de
Deus abraçou o percurso
inteiro do homem e habita
nos nossos corações por meio
do Espírito Santo. A fé sabe
que Deus Se tornou muito
próximo de nós, que Cristo
nos foi oferecido como
grande dom que nos
transforma interiormente,
que habita em nós, e assim
nos dá a luz que ilumina a
origem e o fim da vida, o
arco inteiro do percurso
humano. <br />
21.
Podemos assim
compreender a novidade,
a que a fé nos conduz. O
crente é transformado
pelo Amor, ao qual se
abriu na fé; e, na sua
abertura a este Amor que
lhe é oferecido, a sua
existência dilata-se
para além dele próprio.
São Paulo pode afirmar:
« Já não sou eu que
vivo, mas é Cristo que
vive em mim » (<i>Gl </i>
2, 20), e exortar: « Que
Cristo, pela fé, habite
nos vossos corações » (<i>Ef
</i>3, 17). Na fé, o «
eu » do crente dilata-se
para ser habitado por um
Outro, para viver num
Outro, e assim a sua
vida amplia-se no Amor.
É aqui que se situa a
acção própria do
Espírito Santo: o
cristão pode ter os
olhos de Jesus, os seus
sentimentos, a sua
predisposição filial, porque
é feito participante
do seu Amor, que é o
Espírito; é neste Amor que
se recebe, de algum modo, a
visão própria de Jesus. Fora
desta conformação no Amor,
fora da presença do Espírito
que o infunde nos nossos
corações (cf. <i>Rm </i>5,
5), é impossível confessar
Jesus como Senhor (cf. <i>1
Cor </i>12, 3).
<i>
<div align="JUSTIFY">
<b>A forma
eclesial da fé</b> </div>
</i>
22.
Deste modo, a vida
do fiel torna-se
existência eclesial.
Quando São Paulo fala
aos cristãos de Roma do
único corpo que todos os
crentes formam em
Cristo, exorta-os a não
se vangloriarem, mas a
avaliarem-se « de acordo
com a medida de fé que
Deus distribuiu a cada
um » (<i>Rm </i>12, 3).
O crente aprende a
ver-se a si mesmo a
partir da fé que
professa. A figura de
Cristo é o espelho em
que descobre realizada a
sua própria imagem. E
dado que Cristo abraça
em Si mesmo todos os
crentes que formam o seu
corpo, o cristão
compreende-se a si mesmo
neste corpo, em relação
primordial com Cristo e
os irmãos na fé. A
imagem do corpo não
pretende reduzir o
crente a simples parte
de um todo anónimo, a
mero elemento de uma
grande engrenagem;
antes, sublinha a união
vital de Cristo com os
crentes e de todos os
crentes entre si (cf. <i>
Rm </i>12, 4-5). Os
cristãos sejam « todos
um só » (cf. <i>Gl </i>
3, 28), sem perder a sua
individualidade, e, no
serviço aos outros, cada
um ganha profundamente o
próprio ser.
Compreende-se assim por
que motivo, fora deste
corpo, desta unidade da
Igreja em Cristo
— desta Igreja que,
segundo as palavras de
Romano Guardini, « é a
portadora histórica do olhar
global de Cristo sobre o
mundo »,<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn16" name="_ftnref16" title="">[16]</a> —, a fé
perca a sua « medida », já
não encontre o seu
equilíbrio, nem o espaço
necessário para se manter de
pé. A fé tem uma forma
necessariamente eclesial, é
professada partindo do corpo
de Cristo, como comunhão
concreta dos crentes. A
partir deste lugar eclesial,
ela abre o indivíduo cristão
a todos os homens. Uma vez
escutada, a palavra de
Cristo, pelo seu próprio
dinamismo, transforma-se em
resposta no cristão,
tornando-se ela mesma
palavra pronunciada,
confissão de fé. São Paulo
afirma: « Realmente com o
coração se crê (…) e com a
boca se faz a profissão de
fé » (<i>Rm </i>10, 10). A
fé não é um facto privado,
uma concepção
individualista, uma opinião
subjectiva, mas nasce de uma
escuta e destina-se a ser
pronunciada e a tornar-se
anúncio. Com efeito, « como
hão-de acreditar n’Aquele de
quem não ouviram falar? E
como hão-de ouvir falar, sem
alguém que O anuncie? (<i>Rm
</i>10, 14). Concluindo, a
fé torna-se operativa no
cristão a partir do dom
recebido, a partir do Amor
que o atrai para Cristo (cf.
<i>Gl </i>5, 6) e torna
participante do caminho da
Igreja, peregrina na
história rumo à perfeição.
Para quem foi assim
transformado, abre-se um
novo modo de ver, a fé
torna-se luz para os seus
olhos.
<br />
<div align="CENTER">
CAPÍTULO II</div>
<div align="CENTER">
<b>SE NÃO ACREDITARDES,
<br />
NÃO COMPREENDEREIS<br />
</b> (cf. <i>
Is </i>7, 9) </div>
<i>
<div align="JUSTIFY">
<b>Fé e
verdade</b> </div>
</i>
23.
Se não acreditardes,
não compreendereis (cf.
<i>Is </i>7, 9): foi
assim que a versão grega
da Bíblia hebraica — a
tradução dos Setenta,
feita em Alexandria do
Egipto — traduziu as
palavras do profeta
Isaías ao rei Acaz,
fazendo aparecer como
central, na fé, a
questão do conhecimento
da verdade. Entretanto,
no texto hebraico, há
uma leitura diferente;
aqui o profeta diz ao
rei: « Se não o
acreditardes, não
subsistireis ». Existe
aqui um jogo de palavras
com duas formas do verbo
<i>‘amàn</i>: «
acreditardes » (<i>ta’aminu</i>)
e « subsistireis » (<i>te’amenu</i>).
Apavorado com a força
dos seus inimigos, o rei
busca a segurança que
lhe pode vir de uma
aliança com o grande
império da Assíria; mas
o profeta convida-o a
confiar apenas na
verdadeira rocha que não
vacila: o Deus de
Israel. Uma vez que Deus
é fiável, é razoável ter
fé n’Ele, construir a
própria segurança sobre
a sua Palavra. Este é o
Deus que Isaías chamará
mais adiante, por duas
vezes, o Deus-Amen, o «
Deus fiel » (cf. <i>Is
</i>65, 16), fundamento
inabalável de fidelidade
à aliança. Poder-se-ia
pensar que a versão
grega da Bíblia,
traduzindo « subsistir »
por « compreender »,
tivesse realizado uma
mudança profunda do
texto, passando da noção
bíblica de
entrega a Deus à noção
grega de compreensão. E no
entanto esta tradução, que
aceitava certamente o
diálogo com a cultura
helenista, não é alheia à
dinâmica profunda do texto
hebraico; a firmeza que
Isaías promete ao rei passa,
realmente, pela compreensão
do agir de Deus e da unidade
que Ele dá à vida do homem e
à história do povo. O
profeta exorta a compreender
os caminhos do Senhor,
encontrando na fidelidade de
Deus o plano de sabedoria
que governa os séculos. Esta
síntese entre o «
compreender » e o «
subsistir » é expressa por
Santo Agostinho, nas suas <i>
Confissões</i>, quando fala
da verdade em que se pode
confiar para conseguirmos
ficar de pé: « Estarei firme
e consolidar-me-ei em Ti,
(…) na tua verdade ».
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn17" name="_ftnref17" title="">[17]</a>
Vendo o contexto, sabemos
que este Padre da Igreja
quer mostrar que esta
verdade fidedigna de Deus é,
como resulta da Bíblia, a
sua presença fiel ao longo
da história, a sua
capacidade de manter unidos
os tempos, recolhendo a
dispersão dos dias do
homem.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn18" name="_ftnref18" title="">[18]</a>
24. Lido a esta luz, o
texto de Isaías faz-nos
concluir: o homem precisa de
conhecimento, precisa de
verdade, porque sem ela não
se mantém de pé, não
caminha. Sem verdade, a fé
não salva, não torna seguros
os nossos passos. Seria uma
linda fábula, a projecção
dos nossos desejos de
felicidade, algo que nos
satisfaz só na medida em que
nos quisermos iludir; ou
então reduzir-se-ia a um sentimento
bom que consola e afaga, mas
permanece sujeito às nossas
mudanças de ânimo, à
variação dos tempos, incapaz
de sustentar um caminho
constante na vida. Se a fé
fosse isso, então o rei Acaz
teria razão para não jogar a
sua vida e a segurança do
seu reino sobre uma emoção.
Mas não é! Precisamente pela
sua ligação intrínseca com a
verdade, a fé é capaz de
oferecer uma luz nova,
superior aos cálculos do
rei, porque vê mais longe,
compreende o agir de Deus,
que é fiel à sua aliança e
às suas promessas. <br />
25.
Lembrar esta ligação
da fé com a verdade é
hoje mais necessário do
que nunca, precisamente
por causa da crise de
verdade em que vivemos.
Na cultura
contemporânea, tende-se
frequentemente a aceitar
como verdade apenas a da
tecnologia: é verdadeiro
aquilo que o homem
consegue construir e
medir com a sua ciência;
é verdadeiro porque
funciona, e assim torna
a vida mais cómoda e
aprazível. Esta verdade
parece ser, hoje, a
única certa, a única
partilhável com os
outros, a única sobre a
qual se pode
conjuntamente discutir e
comprometer-se; depois
haveria as verdades do
indivíduo, como ser
autêntico face àquilo
que cada um sente no seu
íntimo, válidas apenas
para o sujeito mas que
não podem ser propostas
aos outros com a
pretensão de servir o
bem comum. A verdade
grande, aquela que
explica o conjunto da
vida pessoal e social, é
vista com suspeita.
Porventura não foi esta
— perguntam-se — a
verdade pretendida pelos
grandes totalitarismos
do século passado, uma
verdade que impunha a
própria concepção global
para esmagar a história
concreta do indivíduo? No
fim, resta apenas um
relativismo, no qual a
questão sobre a verdade de
tudo — que, no fundo, é
também a questão de Deus —
já não interessa. Nesta
perspectiva, é lógico que se
pretenda eliminar a ligação
da religião com a verdade,
porque esta associação
estaria na raiz do
fanatismo, que quer emudecer
quem não partilha da crença
própria. A este respeito,
pode-se falar de uma
grande obnubilação da
memória no nosso mundo
contemporâneo; de facto, a
busca da verdade é uma
questão de memória, de
memória profunda, porque
visa algo que nos precede e,
desta forma, pode conseguir
unir-nos para além do nosso
« eu » pequeno e limitado; é
uma questão relativa à
origem de tudo, a cuja luz
se pode ver a meta e também
o sentido da estrada comum.
<i>
<div align="JUSTIFY">
<b>Conhecimento da verdade e
amor </b> </div>
</i>
26.
Nesta situação,
poderá a fé cristã
prestar um serviço ao
bem comum relativamente
à maneira correcta de
entender a verdade? Para
termos uma resposta, é
necessário reflectir
sobre o tipo de
conhecimento próprio da
fé. Pode ajudar-nos esta
frase de Paulo: «
Acredita-se com o
coração » (<i>Rm </i>10,
10). Este, na Bíblia, é
o centro do homem, onde
se entrecruzam todas as
suas dimensões: o corpo
e o espírito, a
interioridade da pessoa
e a sua abertura ao
mundo e aos outros, a
inteligência, a vontade,
a afectividade. O
coração pode
manter unidas estas
dimensões, porque é o lugar
onde nos abrimos à verdade e
ao amor, deixando que nos
toquem e transformem
profundamente. A fé
transforma a pessoa inteira,
precisamente na medida em
que ela se abre ao amor; é
neste entrelaçamento da fé
com o amor que se compreende
a forma de conhecimento
própria da fé, a sua força
de convicção, a sua
capacidade de iluminar os
nossos passos. A fé conhece
na medida em que está ligada
ao amor, já que o próprio
amor traz uma luz. A
compreensão da fé é aquela
que nasce quando recebemos o
grande amor de Deus, que nos
transforma interiormente e
nos dá olhos novos para ver
a realidade.
27. É conhecido o modo
como o filósofo Ludwig
Wittgenstein explicou a
ligação entre a fé e a
certeza. Segundo ele,
acreditar seria comparável à
experiência do enamoramento,
concebida como algo de
subjectivo, impossível de
propor como verdade válida
para todos.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn19" name="_ftnref19" title="">[19]</a> De
facto, aos olhos do homem
moderno, parece que a
questão do amor não teria
nada a ver com a verdade; o
amor surge, hoje, como uma
experiência ligada, não à
verdade, mas ao mundo
inconstante dos sentimentos.
<br />
Mas, será
esta verdadeiramente uma
descrição adequada do amor?
Na realidade, o amor não se
pode reduzir a um sentimento
que vai e vem. É verdade que
o amor tem a ver com a nossa
afectividade, mas para a
abrir à pessoa amada, e
assim iniciar um caminho que
faz sair da reclusão no
próprio eu e dirigir-se para
a outra pessoa, a fim de
construir uma relação
duradoura; o amor visa a
união com a pessoa amada. E
aqui se manifesta em que
sentido o amor tem
necessidade da verdade:
apenas na medida em que o
amor estiver fundado na
verdade é que pode perdurar
no tempo, superar o instante
efémero e permanecer firme
para sustentar um caminho
comum. Se o amor não tivesse
relação com a verdade,
estaria sujeito à alteração
dos sentimentos e não
superaria a prova do tempo.
Diversamente, o amor
verdadeiro unifica todos os
elementos da nossa
personalidade e torna-se uma
luz nova que aponta para uma
vida grande e plena. Sem a
verdade, o amor não pode
oferecer um vínculo sólido,
não consegue arrancar o « eu
» para fora do seu
isolamento, nem libertá-lo
do instante fugidio para
edificar a vida e produzir
fruto.
<br />
Se o amor
tem necessidade da verdade,
também a verdade precisa do
amor; amor e verdade não se
podem separar. Sem o amor, a
verdade torna-se fria,
impessoal, gravosa para a
vida concreta da pessoa. A
verdade que buscamos, a
verdade que dá significado
aos nossos passos,
ilumina-nos quando somos
tocados pelo amor. Quem ama,
compreende que o amor é
experiência da verdade,
compreende que é
precisamente ele que abre os
nossos olhos para verem a
realidade inteira, de
maneira nova, em união com a
pessoa amada. Neste sentido,
escreveu São Gregório Magno que
o próprio amor é um
conhecimento, <a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn20" name="_ftnref20" title="">[20]</a> traz
consigo uma lógica nova.
Trata-se de um modo
relacional de olhar o mundo,
que se torna conhecimento
partilhado, visão na visão
do outro e visão comum sobre
todas as coisas. Na Idade
Média, Guilherme de Saint
Thierry adopta esta
tradição, ao comentar um
versículo do Cântico dos
Cânticos no qual o amado diz
à amada: « Como são lindos
os teus olhos de pomba! » (<i>Ct
</i>1, 15). <a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn21" name="_ftnref21" title="">[21]</a> Estes dois
olhos — explica Saint
Thierry — são a razão crente
e o amor, que se tornam um
único olhar para chegar à
contemplação de Deus, quando
a inteligência se faz «
entendimento de um amor
iluminado ». <a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn22" name="_ftnref22" title="">[22]</a> <br />
28.
Esta descoberta do
amor como fonte de
conhecimento, que
pertence à experiência
primordial de cada
homem, encontra uma
expressão categorizada
na concepção bíblica da
fé. Israel, saboreando o
amor com que Deus o
escolheu e gerou como
povo, chega a
compreender a unidade do
desígnio divino, desde a
origem à sua realização.
O conhecimento da fé,
pelo facto de nascer do
amor de Deus que
estabelece a Aliança, é
conhecimento que ilumina
um caminho na história.
É por isso também que,
na Bíblia, verdade e
fidelidade caminham
juntas: o Deus verdadeiro é o Deus fiel,
Aquele que mantém as suas
promessas e permite,
com o decorrer do tempo,
compreender o seu desígnio.
Através da experiência dos
profetas, no sofrimento do
exílio e na esperança de um
regresso definitivo à Cidade
Santa, Israel intuiu que
esta verdade de Deus se
estendia mais além da
própria história, abraçando
a história inteira do mundo
a começar da criação. O
conhecimento da fé ilumina
não só o caminho particular
de um povo, mas também o
percurso inteiro do mundo
criado, desde a origem até à
sua consumação.
<i>
<b>A fé como
escuta e visão </b> <br />
</i>
29.
Justamente porque o
conhecimento da fé está
ligado à aliança de um
Deus fiel, que
estabelece uma relação
de amor com o homem e
lhe dirige a Palavra, é
apresentado pela Bíblia
como escuta, aparece
associado com o ouvido.
São Paulo usará uma
fórmula que se tornou
clássica: « <i>fides ex
auditu </i>— a fé vem da
escuta » (<i>Rm </i>10,
17). O conhecimento
associado à palavra é
sempre conhecimento
pessoal, que reconhece a
voz, se lhe abre
livremente e a segue
obedientemente. Por
isso, São Paulo falou da
« obediência da fé »
(cf. <i>Rm </i>1, 5; 16,
26).<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn23" name="_ftnref23" title="">[23]</a> Além disso, a fé
é conhecimento ligado ao transcorrer
do tempo que a palavra
necessita para ser
explicitada: é conhecimento
que só se aprende num
percurso de seguimento. A
escuta ajuda a identificar
bem o nexo entre
conhecimento e amor.
A
propósito do conhecimento da
verdade, pretendeu-se por
vezes contrapor a escuta à
visão, a qual seria peculiar
da cultura grega. Se a luz,
por um lado, oferece a
contemplação da totalidade a
que o homem sempre aspirou,
por outro, parece não deixar
espaço à liberdade, pois
desce do céu e chega
directamente à vista, sem
lhe pedir que responda. Além
disso, parece convidar a uma
contemplação estática,
separada do tempo concreto
em que o homem goza e sofre.
Segundo esta concepção,
haveria oposição entre a
abordagem bíblica do
conhecimento e a grega, a
qual, na sua busca duma
compreensão completa da
realidade, teria associado o
conhecimento com a visão.
<br />
Mas tal
suposta oposição não é
corroborada de forma alguma
pelos dados bíblicos: o
Antigo Testamento combinou
os dois tipos de
conhecimento, unindo a
escuta da Palavra de Deus
com o desejo de ver o seu
rosto. Isto tornou possível
entabular diálogo com a
cultura helenista, um diálogo
que pertence ao coração da
Escritura. O ouvido atesta não só a
chamada pessoal e a
obediência, mas também que a
verdade se revela no tempo;
a vista, por sua vez,
oferece a visão plena de
todo o percurso, permitindo
situar-nos no grande
projecto de Deus; sem tal
visão, disporíamos apenas
de fragmentos isolados de um
todo desconhecido. <br />
30.
A conexão entre o
ver e o ouvir, como
órgãos do conhecimento
da fé, aparece com a
máxima clareza no
Evangelho de João, onde
acreditar é
simultaneamente ouvir e
ver. A escuta da fé
verifica-se segundo a
forma de conhecimento
própria do amor: é uma
escuta pessoal, que
distingue e reconhece a
voz do Bom Pastor (cf.
<i>Jo </i>10, 3-5); uma
escuta que requer o
seguimento, como
acontece com os
primeiros discípulos
que, « ouvindo [João
Baptista] falar desta
maneira, seguiram Jesus
» (<i>Jo </i>1, 37). Por
outro lado, a fé está
ligada também com a
visão: umas vezes, a
visão dos sinais de
Jesus precede a fé, como
sucede com os judeus
que, depois da
ressurreição de Lázaro,
« ao verem o que Jesus
fez, creram n’Ele » (<i>Jo
</i>11, 45); outras
vezes, é a fé que leva a
uma visão mais profunda:
« Se acreditares, verás
a glória de Deus » (<i>Jo
</i>11, 40). Por fim,
acreditar e ver
cruzam-se: « Quem crê em
Mim (...) crê n’Aquele
que Me enviou; e quem Me
vê a Mim, vê Aquele que
me enviou » (<i>Jo </i>
12, 44-45). O ver,
graças à sua união com o
ouvir, torna-se
seguimento de Cristo; e
a fé aparece como um
caminho do olhar em
que os olhos se habituam
a ver em profundidade. E
assim, na manhã de Páscoa,
de João — que, ainda na
escuridão perante o túmulo
vazio, « viu e começou a
crer » (<i>Jo </i>20, 8) —
passa-se a Maria Madalena —
que já vê Jesus (cf. <i>Jo
</i>20, 14) e quer retê-Lo,
mas é convidada a
contemplá-Lo no seu caminho
para o Pai — até à plena
confissão da própria
Madalena diante dos
discípulos: « Vi o Senhor! »
(<i>Jo </i>20, 18).
Como se
chega a esta síntese entre o
ouvir e o ver? A partir da
pessoa concreta de Jesus,
que Se vê e escuta. Ele é a
Palavra que Se fez carne e
cuja glória contemplámos
(cf. <i>Jo </i>1, 14). A luz
da fé é a luz de um Rosto,
no qual se vê o Pai. De
facto, no quarto Evangelho,
a verdade que a fé apreende
é a manifestação do Pai no
Filho, na sua carne e nas
suas obras terrenas; verdade
essa, que se pode definir
como a « vida luminosa » de
Jesus.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn24" name="_ftnref24" title="">[24]</a> Isto
significa que o conhecimento
da fé não nos convida a
olhar uma verdade puramente
interior; a verdade que a fé
nos descerra é uma verdade
centrada no encontro com
Cristo, na contemplação da
sua vida, na percepção da
sua presença. Neste sentido
e a propósito da visão
corpórea do Ressuscitado,
São Tomás de Aquino fala de
<i>oculata fides </i>(uma fé
que vê) dos Apóstolos:<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn25" name="_ftnref25" title="">[25]</a>
viram Jesus ressuscitado com
os seus olhos e acreditaram, isto é,
puderam penetrar na
profundidade daquilo que
viam para confessar o Filho
de Deus, sentado à direita
do Pai. <br />
31.
Só assim, através da
encarnação, através da
partilha da nossa
humanidade, podia chegar
à plenitude o
conhecimento próprio do
amor. De facto, a luz do
amor nasce quando somos
tocados no coração,
recebendo assim, em nós,
a presença interior do
amado, que nos permite
reconhecer o seu
mistério. Compreendemos
agora por que motivo,
para João, a fé seja,
juntamente com o escutar
e o ver, um tocar, como
nos diz na sua Primeira
Carta: « O que ouvimos,
o que vimos (…) e as
nossas mãos tocaram
relativamente ao Verbo
da Vida… » (<i>1 Jo </i>
1, 1). Por meio da sua
encarnação, com a sua
vinda entre nós, Jesus
tocou-nos e, através dos
sacramentos, ainda hoje
nos toca; desta forma,
transformando o nosso
coração, permitiu-nos —
e permite-nos —
reconhecê-Lo e
confessá-Lo como Filho
de Deus. Pela fé,
podemos tocá-Lo e
receber a força da sua
graça. Santo Agostinho,
comentando a passagem da
hemorroíssa que toca
Jesus para ser curada
(cf. <i>Lc </i>8,
45-46), afirma: « Tocar
com o coração, isto é
crer ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn26" name="_ftnref26" title="">[26]</a> A multidão
comprime-se ao redor de
Jesus, mas não O alcança
com aquele toque pessoal
da fé que reconhece o
seu mistério, o seu ser
Filho que manifesta o
Pai. Só quando somos configurados com
Jesus é que recebemos
o olhar adequado para O ver.
<i>
<b>O diálogo
entre fé e razão</b> <br />
</i>
32.
A fé cristã,
enquanto anuncia a
verdade do amor total de
Deus e abre para a força
deste amor, chega ao
centro mais profundo da
experiência de cada
homem, que vem à luz
graças ao amor e é
chamado ao amor para
permanecer na luz.
Movidos pelo desejo de
iluminar a realidade
inteira a partir do amor
de Deus manifestado em
Jesus e procurando amar
com este mesmo amor, os
primeiros cristãos
encontraram no mundo
grego, na sua fome de
verdade, um parceiro
idóneo para o diálogo. O
encontro da mensagem
evangélica com o
pensamento filosófico do
mundo antigo constituiu
uma passagem decisiva
para o Evangelho chegar
a todos os povos e
favoreceu uma fecunda
sinergia entre fé e
razão, que se foi
desenvolvendo no decurso
dos séculos até aos
nossos dias. O Beato
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/index_po.htm">João Paulo II</a>, na sua
carta encíclica <i>
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_15101998_fides-et-ratio_po.html">Fides
et ratio</a></i>, mostrou
como fé e razão se
reforçam mutuamente. <a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn27" name="_ftnref27" title="">[27]</a>
Depois de ter encontrado
a luz plena do amor de
Jesus, descobrimos que
havia, em todo o nosso
amor, um lampejo daquela
luz e compreendemos qual
era a sua meta
derradeira; e,
simultaneamente, o facto
de o nosso amor trazer
em si uma luz ajuda-nos
a ver o caminho do amor
rumo à plenitude da doação total do Filho de
Deus por nós. Neste
movimento circular, a luz da
fé ilumina todas as nossas
relações humanas, que podem
ser vividas em união com o
amor e a ternura de Cristo.
33.
Na vida de Santo
Agostinho, encontramos
um exemplo significativo
deste caminho: a busca
da razão, com o seu
desejo de verdade e
clareza, aparece
integrada no horizonte
da fé, do qual recebeu
uma nova compreensão.
Por um lado, acolhe a
filosofia grega da luz
com a sua insistência na
visão: o seu encontro
com o neoplatonismo
fez-lhe conhecer o
paradigma da luz, que
desce do alto para
iluminar as coisas,
tornando-se assim um
símbolo de Deus. Desta
maneira, Santo Agostinho
compreendeu a
transcendência divina e
descobriu que todas as
coisas possuem em si uma
transparência, isto é,
que podiam reflectir a
bondade de Deus, o Bem;
assim se libertou do
maniqueísmo, em que
antes vivia, que o
inclinava a pensar que o
bem e o mal lutassem
continuamente entre si,
confundindo-se e
misturando-se, sem
contornos claros. O
facto de ter
compreendido que Deus é
luz deu à sua existência
uma nova orientação, a
capacidade de reconhecer
o mal de que era culpado
e voltar-se para o bem.
<br />
Mas, por
outro lado, na experiência
concreta de Agostinho, que
ele próprio narra nas suas
<i>Confissões</i>, o momento
decisivo no seu caminho de
fé não foi uma visão de Deus
para além deste mundo, mas a
escuta, quando no jardim
ouviu uma voz que lhe dizia:
« Toma e lê »; ele pegou no tomo
com as Cartas de São Paulo,
detendo-se no capítulo
décimo terceiro da Carta aos
Romanos.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn28" name="_ftnref28" title="">[28]</a> Temos aqui
o Deus pessoal da Bíblia,
capaz de falar ao homem,
descer para viver com ele e
acompanhar o seu caminho na
história, manifestando-Se no
tempo da escuta e da
resposta.
<br />
Mas, este
encontro com o Deus da
Palavra não levou Santo
Agostinho a rejeitar a luz e
a visão, mas integrou ambas
as perspectivas, guiado
sempre pela revelação do
amor de Deus em Jesus. Deste
modo, elaborou uma filosofia
da luz que reúne em
si a reciprocidade própria
da palavra e abre um espaço
à liberdade própria do olhar
para a luz: tal como à
palavra corresponde uma
resposta livre, assim também
a luz encontra como resposta
uma imagem que a reflecte.
Deste modo, associando
escuta e visão, Santo
Agostinho pôde referir-se à
« palavra que resplandece no
interior do homem ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn29" name="_ftnref29" title="">[29]</a> A luz
torna-se, por assim dizer, a
luz de uma palavra, porque é
a luz de um Rosto pessoal,
uma luz que, ao
iluminar-nos, nos chama e
quer reflectir-se no nosso
rosto para resplandecer a
partir do nosso íntimo. Por
outro lado, o desejo da
visão do todo, e não apenas
dos fragmentos da história,
continua presente e
cumprir-se-á no fim, quando
o homem — como diz o Santo
de Hipona — poderá ver e
amar;<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn30" name="_ftnref30" title="">[30]</a> e isto, não por ser
capaz de possuir a luz toda,
já que esta será sempre
inexaurível, mas por entrar,
todo inteiro, na luz. <br />
34.
A luz do amor,
própria da fé, pode
iluminar as perguntas do
nosso tempo acerca da
verdade. Muitas vezes,
hoje, a verdade é
reduzida a autenticidade
subjectiva do indivíduo,
válida apenas para a
vida individual. Uma
verdade comum mete-nos
medo, porque a
identificamos — como
dissemos atrás — com a
imposição intransigente
dos totalitarismos; mas,
se ela é a verdade do
amor, se é a verdade que
se mostra no encontro
pessoal com o Outro e
com os outros, então
fica livre da reclusão
no indivíduo e pode
fazer parte do bem
comum. Sendo a verdade
de um amor, não é
verdade que se impõe
pela violência, não é
verdade que esmaga o
indivíduo; nascendo do
amor pode chegar ao
coração, ao centro
pessoal de cada homem;
daqui resulta claramente
que a fé não é
intransigente, mas
cresce na convivência
que respeita o outro. O
crente não é arrogante;
pelo contrário, a
verdade torna-o humilde,
sabendo que, mais do que
possuirmo-la nós, é ela
que nos abraça e possui.
Longe de nos endurecer,
a segurança da fé
põe-nos a caminho e
torna possível o
testemunho e o diálogo
com todos.
Por outro lado, enquanto
unida à verdade do amor, a
luz da fé não é alheia ao
mundo material, porque o
amor vive-se sempre com
corpo e alma; a luz da fé é
luz encarnada, que dimana da
vida luminosa de Jesus. A fé
ilumina também a matéria,
confia na sua ordem, sabe
que nela se abre um
caminho cada vez mais amplo
de harmonia e compreensão.
Deste modo, o olhar da
ciência tira benefício da
fé: esta convida o cientista
a permanecer aberto à
realidade, em toda a sua
riqueza inesgotável. A fé
desperta o sentido crítico,
enquanto impede a pesquisa
de se deter, satisfeita, nas
suas fórmulas e ajuda-a a
compreender que a natureza
sempre as ultrapassa.
Convidando a maravilhar-se
diante do mistério da
criação, a fé alarga os
horizontes da razão para
iluminar melhor o mundo que
se abre aos estudos da
ciência. <br />
<i>
<b>A fé e a
busca de Deus </b> <br />
</i>
35.
A luz da fé em Jesus
ilumina também o caminho
de todos aqueles que
procuram a Deus e
oferece a contribuição
própria do cristianismo
para o diálogo com os
seguidores das
diferentes religiões. A
Carta aos Hebreus
fala-nos do testemunho
dos justos que, antes da
Aliança com Abraão, já
procuravam a Deus com
fé; lá se diz, a
propósito de Henoc, que
« tinha agradado a Deus
», sendo isso impossível
sem a fé, porque « quem
se aproxima de Deus tem
de acreditar que Ele
existe e recompensa
aqueles que O procuram »
(<i>Heb </i>11, 5.6).
Deste modo, é possível
compreender que o
caminho do homem
religioso passa pela
confissão de um Deus que
cuida dele e que Se pode
encontrar. Que outra
recompensa poderia Deus
oferecer àqueles que O
buscam, senão deixar-Se
encontrar a Si mesmo?
Ainda antes de Henoc,
encontramos a figura de
Abel, de quem se louva
igualmente a fé, em
virtude da qual foram agradáveis a
Deus os seus dons, a
oferenda dos primogénitos
dos seus rebanhos (cf. <i>
Heb </i>11, 4). O homem
religioso procura reconhecer
os sinais de Deus nas
experiências diárias da sua
vida, no ciclo das estações,
na fecundidade da terra e em
todo o movimento do
universo. Deus é luminoso,
podendo ser encontrado
também por aqueles que O
buscam de coração sincero.
Imagem
desta busca são os Magos,
guiados pela estrela até
Belém (cf. <i>Mt </i>2,
1-12). A luz de Deus
mostrou-se-lhes como
caminho, como estrela que os
guia ao longo duma estrada a
descobrir. Deste modo, a
estrela fala da paciência de
Deus com os nossos olhos,
que devem habituar-se ao
seu fulgor. Encontrando-se a
caminho, o homem religioso
deve estar pronto a
deixar-se guiar, a sair de
si mesmo para encontrar o
Deus que não cessa de nos
surpreender. Este respeito
de Deus pelos olhos do homem
mostra-nos que, quando o
homem se aproxima d’Ele, a
luz humana não se dissolve
na imensidão luminosa de
Deus, como se fosse um
estrela absorvida pela
aurora, mas torna-se tanto
mais brilhante quanto mais
perto fica do fogo gerador,
como um espelho que reflecte
o resplendor. A confissão de
Jesus, único Salvador,
afirma que toda a luz de
Deus se concentrou n’Ele, na
sua « vida luminosa », em
que se revela a origem e a
consumação da história.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn31" name="_ftnref31" title="">[31]</a>
Não há nenhuma experiência humana, nenhum itinerário
do homem para Deus que não
possa ser acolhido,
iluminado e purificado por
esta luz. Quanto mais o
cristão penetrar no círculo
aberto pela luz de Cristo,
tanto mais será capaz de
compreender e acompanhar o
caminho de cada homem para
Deus. <br />
Configurando-se como
caminho, a fé tem a
ver também com a vida dos
homens que, apesar de não
acreditar, desejam-no fazer
e não cessam de procurar. Na
medida em que se abrem, de
coração sincero, ao amor e
se põem a caminho com a luz
que conseguem captar, já
vivem — sem o saber — no
caminho para a fé: procuram
agir como se Deus existisse,
seja porque reconhecem a sua
importância para encontrar
directrizes firmes na vida
comum, seja porque sentem o
desejo de luz no meio da
escuridão, seja ainda
porque, notando como é
grande e bela a vida, intuem
que a presença de Deus ainda
a tornaria maior. Santo
Ireneu de Lião refere que
Abraão, antes de ouvir a voz
de Deus, já O procurava «
com o desejo ardente do seu
coração » e « percorria todo
o mundo, perguntando-se onde
pudesse estar Deus », até
que « Deus teve piedade
daquele que, sozinho, O
procurava no silêncio ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn32" name="_ftnref32" title="">[32]</a>
Quem se põe a caminho para
praticar o bem, já se
aproxima de Deus, já está
sustentado pela sua ajuda,
porque é próprio da dinâmica
da luz divina iluminar os
nossos olhos, quando
caminhamos para a plenitude
do amor. <br />
<i>
<b>Fé e
teologia</b> <br />
</i>
36.
Como luz que é, a fé
convida-nos a penetrar
nela, a explorar sempre
mais o horizonte que
ilumina, para conhecer
melhor o que amamos.
Deste desejo nasce a
teologia cristã; assim,
é claro que a teologia é
impossível sem a fé e
pertence ao próprio
movimento da fé, que
procura a compreensão
mais profunda da
auto-revelação de Deus,
culminada no Mistério de
Cristo. A primeira
consequência é que, na
teologia, não se
verifica apenas um
esforço da razão para
perscrutar e conhecer,
como nas ciências
experimentais. Deus não
pode ser reduzido a
objecto; Ele é Sujeito
que Se dá a conhecer e
manifesta na relação
pessoa a pessoa. A fé
recta orienta a razão
para se abrir à luz que
vem de Deus, a fim de
que ela, guiada pelo
amor à verdade, possa
conhecer Deus de forma
mais profunda. Os
grandes doutores e
teólogos medievais
declararam que a
teologia, enquanto
ciência da fé, é uma
participação no
conhecimento que Deus
tem de Si mesmo. Por
isso, a teologia não é
apenas palavra sobre
Deus, mas, antes de
tudo, acolhimento e
busca de uma compreensão
mais profunda da palavra
que Deus nos dirige:
palavra que Deus
pronuncia sobre Si
mesmo, porque é um
diálogo eterno de
comunhão, no âmbito do
qual é admitido o
homem.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn33" name="_ftnref33" title="">[33]</a> Assim, é
própria da teologia a humildade, que se deixa «
tocar » por Deus, reconhece
os seus limites face
ao Mistério e se encoraja a
explorar, com a disciplina
própria da razão, as
riquezas insondáveis deste
Mistério.
Além
disso, a teologia partilha a
forma eclesial da fé; a sua
luz é a luz do sujeito
crente que é a Igreja. Isto
implica, por um lado, que a
teologia esteja ao serviço
da fé dos cristãos, vise
humildemente preservar e
aprofundar o crer de todos,
sobretudo dos mais simples;
e por outro, dado que vive
da fé, a teologia não
considera o magistério do
Papa e dos Bispos em
comunhão com ele como algo
de extrínseco, um limite à
sua liberdade, mas, pelo
contrário, como um dos seus
momentos internos
constitutivos, enquanto o
magistério assegura o
contacto com a fonte
originária, oferecendo assim
a certeza de beber na
Palavra de Cristo em toda a
sua integridade. <br />
<br />
<div align="center">
CAPÍTULO III</div>
<div align="center">
<b>TRANSMITO-VOS
AQUILO QUE RECEBI<br />
</b>(cf.
<i>1 Cor </i>15, 3) </div>
<br />
<i>
<b>A Igreja,
mãe da nossa fé</b> <br />
</i>
37.
Quem se abriu ao
amor de Deus, acolheu a
sua voz e recebeu a sua
luz, não pode guardar
este dom para si mesmo.
Uma vez que é escuta e
visão, a fé transmite-se
também como palavra e
como luz; dirigindo-se
aos Coríntios, o
apóstolo Paulo utiliza
precisamente estas duas
imagens. Por um lado,
diz: « Animados do mesmo
espírito de fé, conforme
o que está escrito:
Acreditei e por isso
falei, também nós
acreditamos e por isso
falamos » (<i>2 Cor </i>
4, 13); a palavra
recebida faz-se
resposta, confissão, e
assim ecoa para os
outros, convidando-os a
crer. Por outro, São
Paulo refere-se também à
luz: « E nós todos que,
com o rosto descoberto,
reflectimos a glória do
Senhor, somos
transfigurados na sua
própria imagem » (<i>2
Cor </i>3, 18); é uma
luz que se reflecte de
rosto em rosto, como
sucedeu com Moisés cujo
rosto reflectia a glória
de Deus depois de ter
falado com Ele: « [Deus]
brilhou nos nossos
corações, para irradiar
o conhecimento da glória
de Deus, que resplandece
na face de Cristo » (<i>2
Cor </i>4, 6). A luz de
Jesus brilha no rosto
dos cristãos como num
espelho, e assim se
difunde chegando até
nós, para que também nós
possamos participar
desta visão e reflectir
para outros a sua luz,
da mesma
forma que a luz do círio,
na liturgia de Páscoa,
acende muitas outras velas.
A fé transmite-se por assim
dizer sob a forma de
contacto, de pessoa a
pessoa, como uma chama se
acende noutra chama. Os
cristãos, na sua pobreza,
lançam uma semente tão
fecunda que se torna uma
grande árvore, capaz de
encher o mundo de frutos.
38. A transmissão da fé,
que brilha para as pessoas
de todos os lugares, passa
também através do eixo do
tempo, de geração em
geração. Dado que a fé nasce
de um encontro que acontece
na história e ilumina o
nosso caminho no tempo, a
mesma deve ser transmitida
ao longo dos séculos. É
através de uma cadeia
ininterrupta de testemunhos
que nos chega o rosto de
Jesus. Como é possível isto?
Como se pode estar seguro de
beber no « verdadeiro Jesus
» através dos séculos?
Se o homem fosse um
indivíduo isolado, se
quiséssemos partir apenas do
« eu » individual, que
pretende encontrar em si
mesmo a firmeza do seu
conhecimento, tal certeza
seria impossível; não posso,
por mim mesmo, ver aquilo
que aconteceu numa época tão
distante de mim. Mas, esta
não é a única maneira de o
homem conhecer; a pessoa
vive sempre em relação:
provém de outros, pertence a
outros, a sua vida torna-se
maior no encontro com os
outros; o próprio
conhecimento e consciência
de nós mesmos são de tipo
relacional e estão ligados a
outros que nos precederam, a
começar pelos nossos pais
que nos deram a vida e o
nome. A própria linguagem,
as palavras com que
interpretamos a nossa vida e
a realidade inteira
chegam-nos através dos
outros, conservadas na
memória viva de outros; o
conhecimento de nós mesmos
só é possível quando
participamos duma memória
mais ampla. O mesmo acontece
com a fé, que leva à
plenitude o modo humano de
entender: o passado da fé,
aquele acto de amor de Jesus
que gerou no mundo uma vida
nova, chega até nós na
memória de outros, das
testemunhas, guardado vivo
naquele sujeito único de
memória que é a Igreja; esta
é uma Mãe que nos ensina a
falar a linguagem da fé. São
João insistiu sobre este
aspecto no seu Evangelho,
unindo conjuntamente fé e
memória e associando as duas
à acção do Espírito Santo
que, como diz Jesus, « há-de
recordar-vos tudo » (<i>Jo
</i>14, 26). O Amor, que é o
Espírito e que habita na
Igreja, mantém unidos entre
si todos os tempos e faz-nos
contemporâneos de Jesus,
tornando-Se assim o guia do
nosso caminho na fé. <br />
39. É impossível crer
sozinhos. A fé não é só uma
opção individual que se
realiza na interioridade do
crente, não é uma relação
isolada entre o « eu » do
fiel e o « Tu » divino,
entre o sujeito autónomo e
Deus; mas, por sua natureza,
abre-se ao « nós »,
verifica-se sempre dentro da
comunhão da Igreja. Assim
no-lo recorda a forma
dialogada do Credo, que se
usa na liturgia baptismal. O
crer exprime-se como
resposta a um convite, a uma
palavra que não provém de
mim, mas deve ser escutada;
por isso, insere-se no
interior de um diálogo, não pode ser
uma mera confissão
que nasce do indivíduo: só é
possível responder « creio »
em primeira pessoa, porque
se pertence a uma comunhão
grande, dizendo também «
cremos ». Esta abertura ao «
nós » eclesial realiza-se de
acordo com a abertura
própria do amor de Deus, que
não é apenas relação entre o
Pai e o Filho, entre « eu »
e « tu », mas, no Espírito,
é também um « nós », uma
comunhão de pessoas. Por
isso mesmo, quem crê nunca
está sozinho; e, pela mesma
razão, a fé tende a
difundir-se, a convidar
outros para a sua alegria.
Quem recebe a fé, descobre
que os espaços do próprio «
eu » se alargam, gerando-se
nele novas relações que
enriquecem a vida. Assim o
exprimiu vigorosamente
Tertuliano ao dizer do
catecúmeno que, tendo sido
recebido numa nova família «
depois do banho do novo
nascimento », é acolhido na
casa da Mãe para erguer as
mãos e rezar, juntamente com
os irmãos, o <i>Pai Nosso</i>.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn34" name="_ftnref34" title="">[34]</a> <br />
<i>
<b>Os
sacramentos e a transmissão
da fé </b> <br />
</i>
40.
Como sucede em cada
família, a Igreja
transmite aos seus
filhos o conteúdo da sua
memória. Como se deve
fazer esta transmissão
de modo que nada se
perca, mas antes que
tudo se aprofunde cada
vez mais na herança da
fé? É através da
Tradição Apostólica,
conservada na Igreja com
a assistência do
Espírito Santo, que
temos contacto vivo com a
memória fundadora. E aquilo
que foi transmitido pelos
Apóstolos, como afirma o
Concílio Ecuménico Vaticano
II, « abrange tudo quanto
contribui para a vida santa
do Povo de Deus e para o
aumento da sua fé; e assim a
Igreja, na sua doutrina,
vida e culto, perpetua e
transmite a todas as
gerações tudo aquilo que ela
é e tudo quanto acredita ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn35" name="_ftnref35" title="">[35]</a>
De facto,
a fé tem necessidade de um
âmbito onde se possa
testemunhar e comunicar, e
que o mesmo seja adequado e
proporcionado ao que se
comunica. Para transmitir um
conteúdo meramente
doutrinal, uma ideia, talvez
bastasse um livro ou a
repetição de uma mensagem
oral; mas aquilo que se
comunica na Igreja, o que se
transmite na sua Tradição
viva é a luz nova que nasce
do encontro com o Deus vivo,
uma luz que toca a pessoa no
seu íntimo, no coração,
envolvendo a sua mente,
vontade e afectividade,
abrindo-a a relações vivas
na comunhão com Deus e com
os outros. Para se
transmitir tal plenitude,
existe um meio especial que
põe em jogo a pessoa
inteira: corpo e espírito,
interioridade e relações.
Este meio são os sacramentos
celebrados na liturgia da
Igreja: neles, comunica-se
uma memória encarnada,
ligada aos lugares e épocas
da vida, associada com todos
os sentidos; neles, a pessoa
é envolvida, como membro de
um sujeito vivo, num tecido
de relações comunitárias.
Por isso, se é verdade que
os sacramentos são os sacramentos da fé,<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn36" name="_ftnref36" title="">[36]</a> há
que afirmar também que a fé
tem uma estrutura
sacramental; o despertar da
fé passa pelo despertar de
um novo sentido sacramental
na vida do homem e na
existência cristã, mostrando
como o visível e o material
se abrem para o mistério do
eterno. <br />
41.
A transmissão da fé
verifica-se, em primeiro
lugar, através do
Baptismo. Poderia
parecer que este
sacramento fosse apenas
um modo para simbolizar
a confissão de fé, um
acto pedagógico para
quem precise de imagens
e gestos, e do qual
seria possível
fundamentalmente
prescindir. Mas não é
assim, como no-lo
recorda uma palavra de
São Paulo: « Pelo
Baptismo fomos
sepultados com Cristo na
morte, para que, tal
como Cristo foi
ressuscitado de entre os
mortos pela glória do
Pai, também nós
caminhemos numa vida
nova » (<i>Rm </i>6, 4);
nele, tornamo-nos nova
criatura e filhos
adoptivos de Deus. E
mais adiante o Apóstolo
diz que o cristão foi
confiado a uma « forma
de ensino » (<i>typos
didachés</i>), a que
obedece de coração (cf.
<i>Rm </i>6, 17): no
Baptismo, o homem recebe
também uma doutrina que
deve professar e uma
forma concreta de vida
que requer o
envolvimento de toda a
sua pessoa,
encaminhando-a para o
bem; é transferido para
um novo âmbito, confiado
a um novo ambiente, a
uma nova maneira comum
de agir, na Igreja.
Deste modo, o Baptismo
recorda-nos que a fé não
é obra do indivíduo isolado, não é um
acto que o homem possa
realizar contando apenas com
as próprias forças, mas tem
de ser recebida, entrando na
comunhão eclesial que
transmite o dom de Deus:
ninguém se baptiza a si
mesmo, tal como ninguém vem
sozinho à existência. Fomos
baptizados.
42.
Quais são os
elementos baptismais que
nos introduzem nesta
nova « forma de ensino
»? Sobre o catecúmeno é
invocado, em primeiro
lugar, o nome da
Trindade: Pai, Filho e
Espírito Santo. E deste
modo se oferece, logo
desde o princípio, uma
síntese do caminho da
fé: o Deus que chamou
Abraão e quis chamar-Se
seu Deus, o Deus que
revelou o seu nome a
Moisés, o Deus que, ao
entregar-nos o seu
Filho, nos revelou
plenamente o mistério do
seu Nome, dá à pessoa
baptizada uma nova
identidade filial. Desta
forma, se evidencia o
sentido da imersão na
água que se realiza no
Baptismo: a água é,
simultaneamente, símbolo
de morte, que nos
convida a passar pela
conversão do « eu »
tendo em vista a sua
abertura a um « Eu »
maior, e símbolo de
vida, do ventre onde
renascemos para seguir
Cristo na sua nova
existência. Deste modo,
através da imersão na
água, o Baptismo
fala-nos da estrutura
encarnada da fé. A acção
de Cristo toca-nos na
nossa realidade pessoal,
transformando-nos
radicalmente,
tornando-nos filhos
adoptivos de Deus,
participantes da
natureza divina; e assim
modifica todas as nossas
relações, a nossa
situação concreta na
terra e no universo,
abrindo-as à própria
vida de comunhão d’Ele. Este
dinamismo de transformação
próprio do Baptismo
ajuda-nos a perceber a
importância do catecumenato,
que hoje — mesmo em
sociedades de antigas raízes
cristãs, onde um número
crescente de adultos se
aproxima do sacramento
baptismal — se reveste de
singular relevância para a
nova evangelização. É o
itinerário de preparação
para o Baptismo, para a
transformação da vida
inteira em Cristo. <br />
Para
compreender a ligação entre
o Baptismo e a fé, pode
ajudar-nos a recordação de
um texto do profeta Isaías,
que já aparece associado com
o Baptismo na literatura
cristã antiga: « Terá o seu
refúgio em rochas elevadas,
terá (…) água em abundância
» (<i>Is </i>33, 16).<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn37" name="_ftnref37" title="">[37]</a>
Resgatado da morte pela
água, o baptizado pode
manter-se de pé sobre «
rochas elevadas », porque
encontrou a solidez à qual
confiar-se; e, assim, a água
de morte transformou-se em
água de vida. O texto grego
descrevia-a como água <i>
pistòs</i>, água « fiel »: a
água do Baptismo é fiel,
podendo confiar-nos a ela
porque a sua corrente entra
na dinâmica de amor de
Jesus, fonte de segurança
para o nosso caminho na
vida. <br />
43.
A estrutura do
Baptismo, a sua
configuração como
renascimento no qual
recebemos um nome novo e
uma vida nova, ajuda-nos
a compreender o sentido
e a importância do
Baptismo das crianças.
Uma criança não é capaz
de um acto
livre que acolha a fé:
ainda não a pode confessar
sozinha e, por isso mesmo, é
confessada pelos seus pais e
pelos padrinhos em nome
dela. A fé é vivida no
âmbito da comunidade da
Igreja, insere-se num « nós
» comum. Assim, a criança
pode ser sustentada por
outros, pelos seus pais e
padrinhos, e pode ser
acolhida na fé deles que é a
fé da Igreja, simbolizada
pela luz que o pai toma do
círio na liturgia baptismal.
Esta estrutura do Baptismo
põe em evidência a
importância da sinergia
entre a Igreja e a família
na transmissão da fé. Os
pais são chamados — como diz
Santo Agostinho — não só a
gerar os filhos para a vida,
mas a levá-los a Deus, para
que sejam, através do
Baptismo, regenerados como
filhos de Deus, recebam o
dom da fé.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn38" name="_ftnref38" title="">[38]</a> Assim,
juntamente com a vida,
é-lhes dada a orientação
fundamental da existência e
a segurança de um bom
futuro; orientação esta, que
será ulteriormente
corroborada no sacramento da
Confirmação com o selo
indelével do Espírito Santo.
44.
A natureza
sacramental da fé
encontra a sua máxima
expressão na Eucaristia.
Esta é alimento precioso
da fé, encontro com
Cristo presente de
maneira real no seu acto
supremo de amor: o dom
de Si mesmo que gera
vida. Na Eucaristia,
temos o cruzamento dos
dois eixos sobre os
quais a fé percorre o
seu caminho. Por um
lado,
o eixo da história: a
Eucaristia é acto de
memória, actualização do
mistério, em que o passado,
como um evento de morte e
ressurreição, mostra a sua
capacidade de se abrir ao
futuro, de antecipar a
plenitude final; no-lo
recorda a liturgia com o seu
<i>hodie</i>, o « hoje » dos
mistérios da salvação. Por
outro lado, encontra-se aqui
também o eixo que conduz do
mundo visível ao invisível:
na Eucaristia, aprendemos a
ver a profundidade do real.
O pão e o vinho
transformam-se no Corpo e
Sangue de Cristo, que Se faz
presente no seu caminho
pascal para o Pai: este
movimento introduz-nos,
corpo e alma, no movimento
de toda a criação para a sua
plenitude em Deus. <br />
45.
Na celebração dos
sacramentos, a Igreja
transmite a sua memória,
particularmente com a
profissão de fé. Nesta,
não se trata tanto de
prestar assentimento a
um conjunto de verdades
abstractas, como
sobretudo fazer a vida
toda entrar na comunhão
plena com o Deus Vivo.
Podemos dizer que, no <i>
Credo</i>, o fiel é
convidado a entrar no
mistério que professa e
a deixar-se transformar
por aquilo que confessa.
Para compreender o
sentido desta afirmação,
pensemos em primeiro
lugar no conteúdo do <i>
Credo</i>. Este tem uma
estrutura trinitária: o
Pai e o Filho unem-Se no
Espírito de amor. Deste
modo o crente afirma que
o centro do ser, o
segredo mais profundo de
todas as coisas é a
comunhão divina. Além
disso, o <i>Credo </i>
contém uma confissão
cristológica: repassam-se os mistérios da vida
de Jesus até à sua
morte, ressurreição e ascensão
ao Céu, na esperança da sua
vinda final na glória. E,
consequentemente, afirma-se
que este Deus-comunhão,
permuta de amor entre o Pai
e o Filho no Espírito, é
capaz de abraçar a história
do homem, de introduzi-lo no
seu dinamismo de comunhão,
que tem, no Pai, a sua
origem e meta final. Aquele
que confessa a fé sente-se
implicado na verdade que
confessa; não pode
pronunciar, com verdade, as
palavras do <i>Credo</i>,
sem ser por isso mesmo
transformado, sem mergulhar
na história de amor que o
abraça, que dilata o seu ser
tornando-o parte de uma
grande comunhão, do sujeito
último que pronuncia o <i>
Credo</i>: a Igreja. Todas
as verdades, em que cremos,
afirmam o mistério da vida
nova da fé como caminho de
comunhão com o Deus Vivo.
<i>
<b>Fé,
oração e Decálogo</b> <br />
</i>
46.
Há mais dois
elementos que são
essenciais na
transmissão fiel da
memória da Igreja. O
primeiro é a Oração do
Senhor, o <i>Pai Nosso</i>;
nela, o cristão aprende
a partilhar a própria
experiência espiritual
de Cristo e começa a ver
com os olhos d’Ele. A
partir d’Aquele que é
Luz da Luz, do Filho
Unigénito do Pai, também
nós conhecemos a Deus e
podemos inflamar outros
no desejo de se
aproximarem d’Ele.
Igualmente importante é
ainda a ligação entre a fé e
o Decálogo. Dissemos já que
a fé se apresenta como um
caminho, uma estrada a
percorrer, aberta pelo
encontro com o Deus vivo;
por isso, à luz da fé, da
entrega total ao Deus que
salva, o Decálogo adquire a
sua verdade mais profunda,
contida nas palavras que
introduzem os Dez
Mandamentos: « Eu sou o
Senhor, teu Deus, que te fiz
sair da terra do Egipto » (<i>Ex
</i>20, 2). O Decálogo não é
um conjunto de preceitos
negativos, mas de indicações
concretas para sair do
deserto do « eu »
auto-referencial, fechado em
si mesmo, e entrar em
diálogo com Deus,
deixando-se abraçar pela sua
misericórdia a fim de a
irradiar. Deste modo, a fé
confessa o amor de Deus,
origem e sustentáculo de
tudo, deixa-se mover por
este amor para caminhar rumo
à plenitude da comunhão com
Deus. O Decálogo aparece
como o caminho da gratidão,
da resposta de amor, que é
possível porque, na fé, nos
abrimos à experiência do
amor de Deus que nos
transforma. E este caminho
recebe uma luz nova de tudo
aquilo que Jesus ensina no
Sermão da Montanha (cf. <i>
Mt </i>5 - 7). <br />
Toquei
assim os quatro elementos
que resumem o tesouro de
memória que a Igreja
transmite: a confissão de
fé, a celebração dos
sacramentos, o caminho do
Decálogo, a oração. À volta
deles se estruturou
tradicionalmente a catequese
da Igreja, como se pode ver
no <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html">Catecismo da Igreja
Católica</a></i>, instrumento
fundamental para aquele acto
com que a Igreja comunica o
conteúdo inteiro da fé, «
tudo aquilo que ela é e tudo
quanto acredita ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn39" name="_ftnref39" title="">[39]</a>
<br />
<i>
<b>A unidade
e a integridade da fé</b> </i><br />
<i>
</i>
47.
A unidade da Igreja,
no tempo e no espaço,
está ligada com a
unidade da fé: « Há um
só Corpo e um só
Espírito, (...) uma só
fé » (<i>Ef </i>4, 4-5).
Hoje poderá parecer
realizável a união dos
homens com base num
compromisso comum, na
amizade, na partilha da
mesma sorte com uma meta
comum; mas sentimos
muita dificuldade em
conceber uma unidade na
mesma verdade;
parece-nos que uma união
do género se oporia à
liberdade do pensamento
e à autonomia do
sujeito. Pelo contrário,
a experiência do amor
diz-nos que é possível
termos uma visão comum
precisamente no amor:
neste, aprendemos a ver
a realidade com os olhos
do outro e isto, longe
de nos empobrecer,
enriquece o nosso olhar.
O amor verdadeiro, à
medida do amor divino,
exige a verdade e, no
olhar comum da verdade
que é Jesus Cristo,
torna-se firme e
profundo. Esta é também
a alegria da fé: a
unidade de visão num só
corpo e num só espírito.
Neste sentido, São Leão
Magno podia afirmar: «
Se a fé não é una, não é
fé ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn40" name="_ftnref40" title="">[40]</a>
Qual é o
segredo desta unidade? A fé
é una, em primeiro lugar,
pela unidade de Deus
conhecido e confessado.
Todos os artigos de fé se
referem a Ele, são caminhos
para conhecer o seu ser e o
seu agir; por isso, possuem
uma unidade superior a tudo
quanto possamos construir
com o nosso pensamento,
possuem a unidade que nos
enriquece, porque se
comunica a nós e nos torna
um. <br />
Depois, a
fé é una, porque se dirige
ao único Senhor, à vida de
Jesus, à história concreta
que Ele partilha connosco.
Santo Ireneu de Lião deixou
isto claro, contrapondo-o
aos hereges gnósticos. Estes
sustentavam a existência de
dois tipos de fé: uma fé
rude, a fé dos simples,
imperfeita, que se mantinha
ao nível da carne de Cristo
e da contemplação dos seus
mistérios; e outro tipo de
fé mais profunda e perfeita,
a fé verdadeira reservada
para um círculo restrito de
iniciados, que se elevava
com o intelecto para além da
carne de Jesus rumo aos
mistérios da divindade
desconhecida. Contra esta
pretensão, que ainda em
nossos dias continua a ter o
seu encanto e os seus
seguidores, Santo Ireneu
reafirma que a fé é uma
só, porque passa
sempre pelo ponto concreto
da encarnação, sem nunca
superar a carne e a história
de Cristo, dado que Deus Se
quis revelar plenamente
nela. É por isso que não há
diferença, na fé, entre «
aquele que é capaz de falar
dela mais tempo » e « aquele
que fala pouco », entre
aquele que é mais dotado e
quem se mostra menos capaz:
nem o primeiro pode ampliar
a fé, nem o segundo
diminuí-la.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn41" name="_ftnref41" title="">[41]</a> <br />
Por
último, a fé é una, porque é
partilhada por toda a
Igreja, que é um só corpo e
um só Espírito: na comunhão
do único sujeito que é a
Igreja, recebemos um olhar
comum. Confessando a mesma
fé, apoiamo-nos sobre a
mesma rocha, somos
transformados pelo mesmo
Espírito de amor, irradiamos uma
única luz e temos um único
olhar para penetrar na
realidade. <br />
48.
Dado que a fé é uma
só, deve-se confessar em
toda a sua pureza e
integridade.
Precisamente porque
todos os artigos da fé
estão unitariamente
ligados, negar um deles
— mesmo dos que possam
parecer menos
importantes — equivale a
danificar o todo. Cada
época pode encontrar
pontos da fé mais fáceis
ou mais difíceis de
aceitar; por isso, é
importante vigiar para
que se transmita todo o
depósito da fé (cf. <i>1
Tm </i>6, 20) e para que
se insista oportunamente
sobre todos os aspectos
da confissão de fé. De
facto, visto que a
unidade da fé é a
unidade da Igreja, tirar
algo à fé é fazê-lo à
verdade da comunhão. Os
Padres descreveram a fé
como um corpo, o corpo
da verdade, com diversos
membros, analogamente ao
que se passa no corpo de
Cristo com o seu
prolongamento na
Igreja.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn42" name="_ftnref42" title="">[42]</a> A integridade
da fé foi associada
também com a imagem da
Igreja virgem, com o seu
amor esponsal fiel a
Cristo: danificar a fé
significa danificar a
comunhão com o Senhor.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn43" name="_ftnref43" title="">[43]</a>
A unidade da fé é, por
conseguinte, a de um
organismo vivo, como bem
evidenciou o Beato John
Henry Newman, quando
enumera, entre as notas
características para
distinguir a
continuidade da doutrina
no tempo, o seu poder de
assimilar em si tudo o
que encontra, nos diversos âmbitos em que
se torna presente, nas
diversas culturas que
encontra,<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn44" name="_ftnref44" title="">[44]</a> tudo
purificando e levando à sua
melhor expressão. É assim
que a fé se mostra
universal, católica, porque
a sua luz cresce para
iluminar todo o universo,
toda a história.
49.
Como serviço à
unidade da fé e à sua
transmissão íntegra, o
Senhor deu à Igreja o
dom da sucessão
apostólica. Por seu
intermédio, fica
garantida a continuidade
da memória da Igreja, e
é possível beber, com
certeza, na fonte pura
donde surge a fé; assim
a garantia da ligação
com a origem é-nos dada
por pessoas vivas, o que
equivale à fé viva que a
Igreja transmite. Esta
fé viva assenta sobre a
fidelidade das
testemunhas que foram
escolhidas pelo Senhor
para tal tarefa; por
isso, o magistério fala
sempre em obediência à
Palavra originária,
sobre a qual se baseia a
fé, e é fiável porque se
entrega à Palavra que
escuta, guarda e
expõe.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn45" name="_ftnref45" title="">[45]</a> No discurso de
despedida aos anciãos de
Éfeso, em Mileto,
referido por São Lucas
nos Actos dos Apóstolos,
São Paulo atesta que
cumpriu o encargo, que
lhe foi confiado pelo
Senhor, de lhes anunciar
toda a vontade de Deus
(cf. <i>Act </i>20, 27);
é graças ao magistério
da Igreja que nos pode
chegar, íntegra, esta
vontade e, com ela, a
alegria de a podermos
cumprir plenamente.
<br />
<br />
<div align="center">
CAPÍTULO IV </div>
<div align="center">
<b>DEUS
PREPARA<br />
PARA ELES UMA CIDADE<br />
</b>(cf.
<i>Heb </i>11, 16) </div>
<br />
<i>
<b>A fé e o
bem comum </b> <br />
</i>
50.
Ao apresentar a
história dos patriarcas
e dos justos do Antigo
Testamento, a Carta aos
Hebreus põe em relevo um
aspecto essencial da sua
fé; esta não se
apresenta apenas como um
caminho, mas também como
edificação, preparação
de um lugar onde os
homens possam habitar
uns com os outros. O
primeiro construtor é
Noé, que, na arca,
consegue salvar a sua
família (cf. <i>Heb </i>
11, 7). Depois aparece
Abraão, de quem se diz
que, pela fé, habitara
em tendas, esperando a
cidade de alicerces
firmes (cf. <i>Heb </i>
11, 9-10). Vemos assim
surgir, relacionada com
a fé, uma nova
fiabilidade, uma nova
solidez, que só Deus
pode dar. Se o homem de
fé assenta sobre o
Deus-Amen, o Deus fiel
(cf. <i>Is </i>65, 16),
tornando-se assim firme
ele mesmo, podemos
acrescentar que a
firmeza da fé se refere
também à cidade que Deus
está a preparar para o
homem. A fé revela quão
firmes podem ser os
vínculos entre os
homens, quando Deus Se
torna presente no meio
deles. Não evoca apenas
uma solidez interior,
uma convicção firme do
crente; a fé ilumina
também as relações entre
os homens, porque nasce
do amor e segue a
dinâmica do amor de
Deus. O Deus fiável dá
aos homens uma cidade
fiável.
51.
Devido precisamente
à sua ligação com o amor
(cf. <i>Gl </i>5, 6), a
luz da fé coloca-se ao
serviço concreto da
justiça, do direito e da
paz. A fé nasce do
encontro com o amor
gerador de Deus que
mostra o sentido e a
bondade da nossa vida;
esta é iluminada na
medida em que entra no
dinamismo aberto por
este amor, isto é,
enquanto se torna
caminho e exercício para
a plenitude do amor. A
luz da fé é capaz de
valorizar a riqueza das
relações humanas, a sua
capacidade de
perdurarem, serem
fiáveis, enriquecerem a
vida comum. A fé não
afasta do mundo, nem é
alheia ao esforço
concreto dos nossos
contemporâneos. Sem um
amor fiável, nada
poderia manter
verdadeiramente unidos
os homens: a unidade
entre eles seria
concebível apenas
enquanto fundada sobre a
utilidade, a conjugação
dos interesses, o medo,
mas não sobre a beleza
de viverem juntos, nem
sobre a alegria que a
simples presença do
outro pode gerar. A fé
faz compreender a
arquitectura das
relações humanas, porque
identifica o seu
fundamento último e
destino definitivo em
Deus, no seu amor, e
assim ilumina a arte da
sua construção,
tornando-se um serviço
ao bem comum. Por isso,
a fé é um bem para
todos, um bem comum: a
sua luz não ilumina
apenas o âmbito da
Igreja nem serve somente
para construir uma
cidade eterna no além,
mas ajuda também a
construir as nossas
sociedades de modo que
caminhem para um futuro
de esperança. A Carta
aos Hebreus oferece um
exemplo disto mesmo, ao
nomear entre os homens
de fé Samuel e David, a quem a fé permitiu
« exercerem a justiça » (11,
33). A expressão refere-se
aqui à sua justiça no
governar, àquela sabedoria
que traz a paz ao povo (cf.
<i>1 Sm </i>12, 3-5; <i>2 Sm
</i>8, 15). As mãos da fé
levantam-se para o céu, mas
fazem-no ao mesmo tempo que
edificam, na caridade, uma
cidade construída sobre
relações que têm como
alicerce o amor de Deus. <br />
<i>
<b>A fé e a
família</b> <br />
</i>
52.
No caminho de Abraão
para a cidade futura, a
Carta aos Hebreus alude
à bênção que se
transmite dos pais aos
filhos (cf. 11, 20-21).
O primeiro âmbito da
cidade dos homens
iluminado pela fé é a
família; penso, antes de
mais nada, na união
estável do homem e da
mulher no matrimónio.
Tal união nasce do seu
amor, sinal e presença
do amor de Deus, nasce
do reconhecimento e
aceitação do bem que é a
diferença sexual, em
virtude da qual os
cônjuges se podem unir
numa só carne (cf. <i>Gn
</i>2, 24) e são capazes
de gerar uma nova vida,
manifestação da bondade
do Criador, da sua
sabedoria e do seu
desígnio de amor.
Fundados sobre este
amor, homem e mulher
podem prometer-se amor
mútuo com um gesto que
compromete a vida
inteira e que lembra
muitos traços da fé:
prometer um amor que
dure para sempre é
possível quando se
descobre um desígnio
maior que os próprios
projectos, que nos
sustenta e permite doar
o futuro inteiro à
pessoa amada. Depois, a
fé pode ajudar a
individuar em toda a sua
profundidade e riqueza a
geração dos filhos,
porque faz reconhecer nela o
amor criador que nos
dá e nos entrega o mistério
de uma nova pessoa; foi
assim que Sara, pela sua fé,
se tornou mãe, apoiando-se
na fidelidade de Deus à sua
promessa (cf. <i>Heb </i>11,
11).
53. Em família, a fé
acompanha todas as idades da
vida, a começar pela
infância: as crianças
aprendem a confiar no amor
de seus pais. Por isso, é
importante que os pais
cultivem práticas de fé
comuns na família, que
acompanhem o amadurecimento
da fé dos filhos. Sobretudo
os jovens, que atravessam
uma idade da vida tão
complexa, rica e importante
para a fé, devem sentir a
proximidade e a atenção da
família e da comunidade
eclesial no seu caminho de
crescimento da fé. Todos
vimos como, nas Jornadas
Mundiais da Juventude, os
jovens mostram a alegria da
fé, o compromisso de viver
uma fé cada vez mais sólida
e generosa. Os jovens têm o
desejo de uma vida grande; o
encontro com Cristo, o
deixar-se conquistar e guiar
pelo seu amor alarga o
horizonte da existência,
dá-lhe uma esperança firme
que não desilude. A fé não é
um refúgio para gente sem
coragem, mas a dilatação da
vida: faz descobrir uma
grande chamada — a vocação
ao amor — e assegura que
este amor é fiável, que vale
a pena entregar-se a ele,
porque o seu fundamento se
encontra na fidelidade de
Deus, que é mais forte do
que toda a nossa
fragilidade.<br />
<i>
<b>Uma luz
para a vida em sociedade</b> <br />
</i>
54.
Assimilada e
aprofundada em família,
a fé torna-se luz para
iluminar todas as
relações sociais. Como
experiência da
paternidade e da
misericórdia de Deus,
dilata-se depois em
caminho fraterno. Na
Idade Moderna,
procurou-se construir a
fraternidade universal
entre os homens,
baseando-se na sua
igualdade; mas, pouco a
pouco, fomos
compreendendo que esta
fraternidade, privada do
referimento a um Pai
comum como seu
fundamento último, não
consegue subsistir; por
isso, é necessário
voltar à verdadeira raiz
da fraternidade. Desde o
seu início, a história
de fé foi uma história
de fraternidade, embora
não desprovida de
conflitos. Deus chama
Abraão para sair da sua
terra, prometendo fazer
dele uma única e grande
nação, um grande povo,
sobre o qual repousa a
Bênção divina (cf. <i>Gn
</i>12, 1-3). À medida
que a história da
salvação avança, o homem
descobre que Deus quer
fazer a todos participar
como irmãos da única
bênção, que encontra a
sua plenitude em Jesus,
para que todos se tornem
um só. O amor
inexaurível do Pai é-nos
comunicado em Jesus,
também através da
presença do irmão. A fé
ensina-nos a ver que, em
cada homem, há uma
bênção para mim, que a
luz do rosto de Deus me
ilumina através do rosto
do irmão.
Quantos
benefícios trouxe o olhar da
fé cristã à cidade dos
homens para a sua vida em
comum! Graças à fé,
compreendemos a dignidade
única de cada pessoa, que
não era tão evidente no mundo
antigo. No século II, o
pagão Celso censurava os
cristãos por algo que lhe
parecia uma ilusão e um
engano: pensar que Deus
tivesse criado o mundo para
o homem, colocando-o no
vértice do universo inteiro.
« Porquê pretender que [a
verdura] cresça para os
homens, em vez de crescer
para os mais selvagens dos
animais sem razão? »<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn46" name="_ftnref46" title="">[46]</a>
« Se olhássemos a terra do
alto do céu, que diferença
se nos ofereceria entre as
nossas actividades e as das
formigas e das abelhas? »<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn47" name="_ftnref47" title="">[47]</a>
No centro da fé bíblica, há
o amor de Deus, o seu
cuidado concreto por cada
pessoa, o seu desejo de
salvação que abraça toda a
humanidade e a criação
inteira e que atinge o
clímax na encarnação, morte
e ressurreição de Jesus
Cristo. Quando se obscurece
esta realidade, falta o
critério para individuar o
que torna preciosa e única a
vida do homem; e este perde
o seu lugar no universo,
extravia-se na natureza,
renunciando à própria
responsabilidade moral, ou
então pretende ser árbitro
absoluto, arrogando-se um
poder de manipulação sem
limites. <br />
55.
Além disso a fé, ao
revelar-nos o amor de
Deus Criador, faz-nos
olhar com maior respeito
para a natureza,
fazendo-nos reconhecer
nela uma gramática
escrita por Ele e uma
habitação que nos foi
confiada para ser
cultivada e guardada;
ajuda-nos a encontrar
modelos de progresso,
que não se baseiem
apenas na utilidade e no
lucro mas considerem a
criação como dom, de que
todos somos devedores;
ensina-nos a individuar
formas justas de governo,
reconhecendo que a
autoridade vem de Deus para
estar ao serviço do bem
comum. A fé afirma também a
possibilidade do perdão, que
muitas vezes requer tempo,
canseira, paciência e
empenho; um perdão possível
quando se descobre que o bem
é sempre mais originário e
mais forte que o mal, que a
palavra com que Deus afirma
a nossa vida é mais profunda
do que todas as nossas
negações. Aliás, mesmo dum
ponto de vista simplesmente
antropológico, a unidade é
superior ao conflito;
devemos preocupar-nos também
com o conflito, mas
vivendo-o de tal modo que
nos leve a resolvê-lo, a
superá-lo, como elo duma
cadeia, num avanço para a
unidade.
Quando a
fé esmorece, há o risco de
esmorecerem também os
fundamentos do viver, como
advertia o poeta Thomas
Sterls Eliot: « Precisais
porventura que se vos diga
que até aqueles modestos
sucessos / que vos permitem
ser orgulhosos de uma
sociedade educada /
dificilmente sobreviveriam à
fé, a que devem o seu
significado? »<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn48" name="_ftnref48" title="">[48]</a> Se
tiramos a fé em Deus das
nossas cidades,
enfraquecer-se-á a confiança
entre nós, apenas o medo nos
manterá unidos, e a
estabilidade ficará
ameaçada. Afirma a Carta aos
Hebreus: « Deus não Se
envergonha de ser chamado o "seu Deus", porque
preparou para eles uma
cidade » (<i>Heb </i>11,
16). A expressão « não se
envergonha » tem conotado um
reconhecimento público:
pretende-se afirmar que
Deus, com o seu agir
concreto, confessa
publicamente a sua presença
entre nós, o seu desejo de
tornar firmes as relações
entre os homens. Porventura
vamos ser nós a
envergonhar-nos de chamar a
Deus « o nosso Deus »?
Seremos por acaso nós a
recusar-nos a confessá-Lo
como tal na nossa vida
pública, a propor a grandeza
da vida comum que Ele torna
possível? A fé ilumina a
vida social: possui uma luz
criadora para cada momento
novo da história, porque
coloca todos os
acontecimentos em relação
com a origem e o destino de
tudo no Pai que nos ama. <br />
<i>
<b>Uma força
consoladora no sofrimento
</b>
<br />
</i>
56.
São Paulo, falando
aos cristãos de Corinto
das suas tribulações e
sofrimentos, coloca a
sua fé em relação com a
pregação do Evangelho.
De facto, diz que nele
se cumpre esta passagem
da Escritura: «
Acreditei e por isso
falei » (<i>2 Cor </i>4,
13). O Apóstolo
refere-se a uma frase do
Salmo 116, onde o
salmista exclama: « Eu
tinha confiança, mesmo
quando disse: "A minha
aflição é muito grande!"
» (v. 10). Falar da fé
comporta frequentemente
falar também de provas
dolorosas, mas é
precisamente nelas que
São Paulo vê o anúncio
mais convincente do
Evangelho, porque é na
fraqueza e no sofrimento
que sobressai e se
descobre o poder de Deus
que supera a nossa fraqueza e o nosso
sofrimento. O próprio
Apóstolo se encontra numa
situação de morte que
redunda em vida para os
cristãos (cf. <i>2 Cor </i>
4, 7-12). Na hora da prova,
a fé ilumina-nos; e é
precisamente no sofrimento e
na fraqueza que se torna
claro como « não nos
pregamos a nós mesmos, mas a
Cristo Jesus, o Senhor » (<i>2
Cor </i>4, 5). O capítulo 11
da Carta aos Hebreus termina
com a referência a quantos
sofreram pela fé, entre os
quais ocupa um lugar
particular Moisés que tomou
sobre si a humilhação de
Cristo (cf. vv. 26.35-38). O
cristão sabe que o
sofrimento não pode ser
eliminado, mas pode adquirir
um sentido: pode tornar-se
acto de amor, entrega nas
mãos de Deus que não nos
abandona e, deste modo, ser
uma etapa de crescimento na
fé e no amor. Contemplando a
união de Cristo com o Pai,
mesmo no momento de maior
sofrimento na cruz (cf. <i>
Mc </i>15, 34), o cristão
aprende a participar no
olhar próprio de Jesus; até
a morte fica iluminada,
podendo ser vivida como a
última chamada da fé, o
último « Sai da tua terra »
(cf. <i>Gn </i>12, 1), o
último « Vem! » pronunciado
pelo Pai, a quem nos
entregamos com a confiança
de que Ele nos tornará
firmes também na passagem
definitiva.
57. A luz da fé não nos
faz esquecer os sofrimentos
do mundo. Os que sofrem
foram mediadores de luz para
tantos homens e mulheres de
fé; tal foi o leproso para
São Francisco de Assis, ou
os pobres para a Beata
Teresa de Calcutá.
Compreenderam o mistério que
há neles; aproximando-se deles, certamente
não cancelaram todos os seus
sofrimentos, nem puderam
explicar todo o mal. A fé
não é luz que dissipa todas
as nossas trevas, mas
lâmpada que guia os nossos
passos na noite, e isto
basta para o caminho. Ao
homem que sofre, Deus não dá
um raciocínio que explique
tudo, mas oferece a sua
resposta sob a forma duma
presença que o acompanha,
duma história de bem que se
une a cada história de
sofrimento para nela abrir
uma brecha de luz. Em
Cristo, o próprio Deus quis
partilhar connosco esta
estrada e oferecer-nos o seu
olhar para nela vermos a
luz. Cristo é aquele que,
tendo suportado a dor, Se
tornou « autor e consumador
da fé » (<i>Heb </i>12, 2).
<br />
O
sofrimento recorda-nos que o
serviço da fé ao bem comum é
sempre serviço de esperança
que nos faz olhar em frente,
sabendo que só a partir de
Deus, do futuro que vem de
Jesus ressuscitado, é que a
nossa sociedade pode
encontrar alicerces sólidos
e duradouros. Neste sentido,
a fé está unida à esperança,
porque, embora a nossa
morada aqui na terra se vá
destruindo, há uma habitação
eterna que Deus já inaugurou
em Cristo, no seu corpo (cf.
<i>2 Cor </i>4, 16 — 5, 5).
Assim, o dinamismo de fé,
esperança e caridade (cf. <i>
1 Ts </i>1, 3; <i>1 Cor </i>
13, 13) faz-nos abraçar as
preocupações de todos os
homens, no nosso caminho
rumo àquela cidade, « cujo
arquitecto e construtor é o
próprio Deus » (<i>Heb </i>
11, 10), porque « a
esperança não engana » (<i>Rm
</i>5, 5). <br />
Unida à fé e à caridade,
a esperança projecta-nos
para um futuro certo, que se
coloca numa perspectiva
diferente relativamente às
propostas ilusórias dos
ídolos do mundo, mas que dá
novo impulso e nova força à
vida de todos os dias. Não
deixemos que nos roubem a
esperança, nem permitamos
que esta seja anulada por
soluções e propostas
imediatas que nos bloqueiam
no caminho, que « fragmentam
» o tempo transformando-o em
espaço. O tempo é sempre
superior ao espaço: o espaço
cristaliza os processos, ao
passo que o tempo projecta
para o futuro e impele a
caminhar na esperança.<br />
<br />
<div align="center">
<b>FELIZ
DAQUELA QUE ACREDITOU<br />
</b>(cf. <i>Lc</i> 1, 45)</div>
58.
Na parábola do
semeador, São Lucas
refere estas palavras
com que o Senhor explica
o significado da « terra
boa »: « São aqueles
que, tendo ouvido a
palavra com um coração
bom e virtuoso,
conservam-na e dão fruto
com a sua perseverança »
(<i>Lc </i>8, 15). No
contexto do Evangelho de
Lucas, a menção do
coração bom e virtuoso,
em referência à Palavra
ouvida e conservada,
pode constituir um
retrato implícito da fé
da Virgem Maria; o
próprio evangelista nos
fala da memória de
Maria, dizendo que
conservava no coração
tudo aquilo que ouvia e
via, de modo que a
Palavra produzisse fruto
na sua vida. A Mãe do
Senhor é ícone perfeito
da fé, como dirá Santa
Isabel: « Feliz de ti
que acreditaste » (<i>Lc
</i>1, 45).
<br />
Em Maria,
Filha de Sião, tem
cumprimento a longa história
de fé do Antigo Testamento,
com a narração de tantas
mulheres fiéis a começar por
Sara; mulheres que eram,
juntamente com os
Patriarcas, o lugar onde a
promessa de Deus se cumpria
e a vida nova desabrochava.
Na plenitude dos tempos, a
Palavra de Deus dirigiu-se a
Maria, e Ela acolheu-a com
todo o seu ser, no seu
coração, para que n’Ela
tomasse carne e nascesse
como luz para os homens. O
mártir São Justino, na obra
<i>Diálogo com Trifão</i>,
tem uma expressão
significativa ao dizer que
Maria, quando aceitou a
mensagem do Anjo, concebeu « fé e
alegria ».<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn49" name="_ftnref49" title="">[49]</a> De
facto, na Mãe de Jesus, a fé
mostrou-se cheia de fruto e,
quando a nossa vida
espiritual dá fruto,
enchemo-nos de alegria, que
é o sinal mais claro da
grandeza da fé. Na sua vida,
Maria realizou a
peregrinação da fé seguindo
o seu Filho.<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftn50" name="_ftnref50" title="">[50]</a> Assim, em
Maria, o caminho de fé do
Antigo Testamento foi
assumido no seguimento de
Jesus e deixa-se transformar
por Ele, entrando no olhar
próprio do Filho de Deus
encarnado. <br />
59.
Podemos dizer que,
na Bem-aventurada Virgem
Maria, se cumpre aquilo
em que insisti
anteriormente, isto é,
que o crente se envolve
todo na sua confissão de
fé. Pelo seu vínculo com
Jesus, Maria está
intimamente associada
com aquilo que
acreditamos. Na
concepção virginal de
Maria, temos um sinal
claro da filiação divina
de Cristo: a origem
eterna de Cristo está no
Pai — Ele é o Filho em
sentido total e único —
e por isso nasce, no
tempo, sem intervenção
do homem. Sendo Filho,
Jesus pode trazer ao
mundo um novo início e
uma nova luz, a
plenitude do amor fiel
de Deus que Se entrega
aos homens. Por outro
lado, a verdadeira
maternidade de Maria
garantiu, ao Filho de
Deus, uma verdadeira
história humana, uma
verdadeira carne na qual
morrerá na cruz e
ressuscitará dos mortos.
Maria acompanhá-Lo-á até
à cruz (cf. <i>Jo </i>
19, 25), donde a sua
maternidade se estenderá
a todo o discípulo de
seu Filho (cf. <i>Jo
</i>19, 26-27). Estará
presente também no Cenáculo,
depois da ressurreição e
ascensão de Jesus, para
implorar com os Apóstolos o
dom do Espírito (cf.
<i>Act </i>1, 14). O
movimento de amor entre o
Pai e o Filho no Espírito
percorreu a nossa história;
Cristo atrai-nos a Si para
nos poder salvar (cf. <i>Jo
</i>12, 32). No centro da
fé, encontra-se a confissão
de Jesus, Filho de Deus,
nascido de mulher, que nos
introduz, pelo dom do
Espírito Santo, na filiação
adoptiva (cf. <i>Gl </i>4,
4-6).
60.
A Maria, Mãe da
Igreja e Mãe da nossa
fé, nos dirigimos,
rezando-Lhe: <br />
<blockquote>
Ajudai, ó
Mãe, a nossa fé. <br />
Abri o
nosso ouvido à Palavra, para
reconhecermos a voz de Deus
e a sua chamada. <br />
Despertai
em nós o desejo de seguir os
seus passos, saindo da nossa
terra e acolhendo a sua
promessa. <br />
Ajudai-nos a deixar-nos
tocar pelo seu amor, para
podermos tocá-Lo com a fé.
<br />
Ajudai-nos a confiar-nos
plenamente a Ele, a
crer no seu amor, sobretudo
nos momentos de tribulação e
cruz, quando a nossa fé é
chamada a amadurecer. <br />
Semeai,
na nossa fé, a alegria do
Ressuscitado.<br />
Recordai-nos que quem crê
nunca está sozinho. <br />
Ensinai-nos a ver com os
olhos de Jesus, para que Ele
seja luz no nosso caminho. E
que esta luz da fé cresça
sempre em nós até chegar aquele
dia sem ocaso que é o
próprio Cristo, vosso Filho,
nosso Senhor. <br />
</blockquote>
<i>Dado em
Roma, junto de São Pedro, no
dia 29 de Junho, solenidade
dos Apóstolos São Pedro e
São Paulo, do ano 2013,
primeiro de Pontificado.</i><br />
<br />
<div align="center">
<b>
FRANCISCUS</b></div>
<hr color="#C0C0C0" size="1" width="75%" />
<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref1" name="_ftn1" title="">[1]</a>
<i>Dialogus cum
Tryphone Iudaeo</i>, 121, 2:
<i>PG </i>6, 758.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref2" name="_ftn2" title="">[2]</a> Clemente de
Alexandria, <i>Protrepticus</i>,
IX: <i>PG </i>8, 195.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref3" name="_ftn3" title="">[3]</a> « Brief an
Elisabeth Nietzsche (11 de
Junho de 1865) », in: <i>
Werke in drei Bänden </i>
(Munique 1954), 953-954.
<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref4" name="_ftn4" title="">[4]</a> <i>Divina
Comédia</i>, Paraíso, XXIV,
145-147.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref5" name="_ftn5" title="">[5]</a> <i>Acta
Sanctorum</i>, Iunii, I, 21. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref6" name="_ftn6" title="">[6]</a>
« Embora o Concílio não
trate expressamente da fé,
todavia fala dela em cada
página, reconhece o seu
carácter vital e
sobrenatural, supõe-na
íntegra e forte e constrói
sobre ela os seus
ensinamentos. Bastaria
lembrar as declarações
conciliares (...) para nos
darmos conta da importância
essencial que o Concílio,
coerente com a tradição
doutrinal da Igreja, atribui
à fé, à verdadeira fé,
aquela que tem Cristo como
fonte e, como canal, o
magistério da Igreja »
[Paulo VI, <i>Audiência
Geral </i>(8 de Março de
1967): <i>Insegnamenti </i>V
(1967), 705]. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref7" name="_ftn7" title="">[7]</a> Cf., por
exemplo, Conc. Ecum. Vat. I, Const. dogm. sobre a fé
católica <i>Dei Filius</i>,
III: <i>DS </i>3008-3020;
Conc. Ecum. Vat. II, Const.
dogm. sobre a divina
Revelação <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html">Dei Verbum</a></i>,
5; <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html">Catecismo da Igreja
Católica</a></i>, 153-165.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref8" name="_ftn8" title="">[8]</a> Cf. <i>
Catechesis</i>, V, 1: <i>PG
</i>33, 505A. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref9" name="_ftn9" title="">[9]</a>
<i>Enarratio in
Psalmum</i>, 32, II, s. I,
9: <i>PL </i>36, 284. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref10" name="_ftn10" title="">[10]</a> Martin Buber,
<i>Die Erzählungen der
Chassidim </i>(Zurique
1949), 793.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref11" name="_ftn11" title="">[11]</a> <i>Émile </i>
(Paris 1966), 387. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref12" name="_ftn12" title="">[12]</a>
<i>Lettrè à
Christophe de Beaumont </i>
(Lausanne 1993), 110. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref13" name="_ftn13" title="">[13]</a> Cf. <i>In
evangelium Johannis
tractatus</i>, 45, 9: <i>PL
</i>35, 1722- 1723. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref14" name="_ftn14" title="">[14]</a> Parte II, IV. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref15" name="_ftn15" title="">[15]</a> <i>De
continentia</i>, 4, 11: <i>
PL </i>40, 356 (« ab eo qui
fecit te noli deficere nec
ad te »).<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref16" name="_ftn16" title="">[16]</a> <i>« </i>Vom
Wesen katholischer
Weltanschauung (1923) », in:
<i>Unterscheidung des
Christlichen. Gesammelte
Studien 1923-1963 </i>(Mainz
1963), 24.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref17" name="_ftn17" title="">[17]</a>
<i>Confessiones</i>,
XI, 30, 40: <i>PL </i>32,
825. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref18" name="_ftn18" title="">[18]</a> Cf. <i>ibid</i>.:
<i>o. c.</i>, 825-826.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref19" name="_ftn19" title="">[19]</a>
Cf. G. H. von Wright
(coord.), <i>Vermischte
Bemerkungen / Culture and
Value </i>(Oxford 1991),
32-33 e 61-64. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref20" name="_ftn20" title="">[20]</a> Cf. <i>Homiliae
in Evangelia</i>, II, 27, 4:
<i>PL </i>76, 1207 (« amor
ipse notitia est »). <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref21" name="_ftn21" title="">[21]</a> Cf. <i>
Expositio super Cantica
Canticorum</i>, XVIII, 88:
<i>CCL</i>, <i>Continuatio
Mediaevalis</i>, 87, 67. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref22" name="_ftn22" title="">[22]</a>
<i>Ibid.</i>,
XIX, 90: <i>o. c.</i>, 87,
69. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref23" name="_ftn23" title="">[23]</a> « A Deus que
revela é devida a
"obediência da fé" (<i>Rm
</i>16, 26; cf. <i>Rm </i>1,
5; <i>2 Cor </i>10, 5-6);
pela fé, o homem entrega-se
total e livremente a Deus,
oferecendo a Deus revelador
o obséquio pleno da
inteligência e da vontade e
prestando voluntário
assentimento à sua
revelação. Para prestar esta
adesão da fé, são
necessários a prévia e
concomitante ajuda da graça
divina e os
interiores auxílios do
Espírito Santo, o qual move
e converte a Deus o coração,
abre os olhos do
entendimento, e dá a todos a
suavidade em aceitar e crer
a verdade. Para que a
compreensão da revelação
seja sempre mais profunda, o
mesmo Espírito Santo
aperfeiçoa sem cessar a fé
mediante os seus dons » (Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm.
sobre a divina Revelação <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html">Dei Verbum</a></i>, 5).<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref24" name="_ftn24" title="">[24]</a>
Cf. Heinrich Schlier, «
Meditationen über den
Johanneischen Begriff der
Wahrheit », in: <i>Besinnung
auf das Neue Testament.
Exegetische Aufsätze und
Vorträge 2 </i>(Friburgo,
Basel, Viena 1959), 272. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref25" name="_ftn25" title="">[25]</a>
Cf. <i>Summa theologiae</i>,
III, q. 55, a. 2, ad 1.
<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref26" name="_ftn26" title="">[26]</a> <i>Sermo </i>
229/L, 2: <i>PLS </i>2, 576
(« Tangere autem corde, hoc
est credere »). <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref27" name="_ftn27" title="">[27]</a> Cf. n.º 73: <i>
AAS </i>(1999), 61-62.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref28" name="_ftn28" title="">[28]</a>
Cf. <i>Confessiones</i>,
VIII, 12, 29: <i>PL </i>32,
762. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref29" name="_ftn29" title="">[29]</a>
<i>De Trinitate</i>, XV, 11,
20: <i>PL </i>42, 1071. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref30" name="_ftn30" title="">[30]</a>
Cf. <i>De civitate Dei</i>,
XXII, 30, 5: <i>PL </i>41,
804. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref31" name="_ftn31" title="">[31]</a>
Cf. Congr. para a Doutrina
da Fé, Decl. <i>
<a href="http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000806_dominus-iesus_po.html">Dominus
Iesus</a> </i>(6 de Agosto de
2000), 15: <i>AAS </i>92
(2000), 756.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref32" name="_ftn32" title="">[32]</a>
<i>Demonstratio apostolicae
praedicationis</i>, 24: <i>
SC </i>406, 117.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref33" name="_ftn33" title="">[33]</a> Cf. Boaventura,
<i>Breviloquium</i>, Prol.:
<i>Opera Omnia</i>, V (Quaracchi
1891), 201; <i>In I librum
sententiarum</i>, Proem., q.
1, resp.: <i>Opera Omnia</i>,
I (Quaracchi 1891), 7;
Tomásde Aquino,
<i>
Summa
theologiae</i>, I, q.
1. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref34" name="_ftn34" title="">[34]</a> Cf. <i>De
Baptismo</i>, 20, 5: <i>CCL
</i>1, 295.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref35" name="_ftn35" title="">[35]</a>
Const. dogm. sobre a divina
Revelação <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html">Dei Verbum</a></i>,
8.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref36" name="_ftn36" title="">[36]</a> Cf. Conc. Ecum.
Vat. II, Const. sobre a
sagrada Liturgia <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html">Sacrosanctum Concilium</a></i>,
59.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref37" name="_ftn37" title="">[37]</a> Cf. <i>Epistula
Barnabae</i>, 11, 5: <i>SC
</i>172, 162.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref38" name="_ftn38" title="">[38]</a> Cf. <i>De
nuptiis et concupiscentia</i>,
I, 4, 5: <i>PL </i>44, 413
(« Habent quippe intentionem
generandi regenerandos, ut
qui ex eis saeculi filii
nascuntur in Dei filios
renascantur »).<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref39" name="_ftn39" title="">[39]</a>
Conc. Ecum. Vat. II, Const.
dogm. sobre a divina
Revelação <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html">Dei Verbum</a></i>,
8.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref40" name="_ftn40" title="">[40]</a>
<i>In nativitate Domini
sermo</i>, 4, 6: <i>SC </i>
22, 110.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref41" name="_ftn41" title="">[41]</a>
Cf. Ireneu, <i>Adversus
haereses</i>, I, 10, 2: <i>
SC </i>264, 160.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref42" name="_ftn42" title="">[42]</a> Cf. <i>ibid.</i>,
II, 27, 1: <i>o. c.</i>,
294, 264. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref43" name="_ftn43" title="">[43]</a> Cf. Agostinho,
<i>De sancta virginitate</i>,
48, 48: <i>PL </i>40, 424-
425 (« Servatur et in fide
inviolata quaedam castitas
virginalis, qua Ecclesia uni
viro virgo casta cooptatur
»).<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref44" name="_ftn44" title="">[44]</a> Cf. <i>An Essay
on the Development of
Christian Doctrine </i>(Uniform
Edition: Longmans, Green and
Company, Londres 1868-1881),
185-189. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref45" name="_ftn45" title="">[45]</a> Cf. Conc. Ecum.
Vat. II, Const. dogm. sobre
a divina Revelação <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html">Dei Verbum</a></i>, 10.<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref46" name="_ftn46" title="">[46]</a> Orígenes, <i>
Contra Celsum</i>, IV, 75:
<i>SC </i>136, 372. <br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref47" name="_ftn47" title="">[47]</a>
<i>Ibid.</i>,
85: <i>o. c.</i>, 136, 394.<br />
<div align="JUSTIFY">
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref48" name="_ftn48" title="">[48]</a>
« Choruses from <i>The Rock
</i>», in: <i>The Collected
Poems and Plays </i>
1909-1950 (Nova Iorque
1980), 106.</div>
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref49" name="_ftn49" title="">[49]</a> Cf. <i>Dialogus
cum Tryphone Iudaeo</i>,
100, 5: <i>PG </i>6, 710.
<br />
<a href="http://www.vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html#_ftnref50" name="_ftn50" title="">[50]</a> Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. dogm. sobre a Igreja <i>
<a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html">Lumen gentium</a></i>, 58. <br />
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-77116091920014318062013-02-16T10:21:00.001-02:002013-02-16T10:21:31.042-02:00Declaração de renúncia do Papa Benedito XVI<br />
<div align="center">
<b><span style="color: #663300; font-size: medium;">DECLARATIO</span></b></div>
<div align="center">
<br /></div>
<i>Caríssimos Irmãos,</i><br />
convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.<br />
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.<br />
<i>Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.</i><br />
<div align="center">
<b>BENEDICTUS PP XVI</b></div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-56737946399528387072013-02-16T10:16:00.001-02:002013-02-16T10:16:58.529-02:00DISCURSO DO SANTO PADRE À ORDEM SOBERANA MILITAR DE MALTA<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" style="width: 609px;"><tbody>
<tr></tr>
</tbody></table>
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" style="width: 609px;"><tbody>
<tr><td rowspan="2"><img src="http://www.vatican.va/holy_father/img/vuoto.gif" width="10" /></td><td valign="top" width="609"><div align="center">
<b><span style="color: #663300; font-size: medium;"><i>DISCURSO DO SANTO PADRE<br />À ORDEM SOBERANA MILITAR DE MALTA</i></span></b></div>
<div align="center">
<span style="color: #663300;"><i>Sábado, 9 de Fevereiro de 2013</i></span></div>
<div align="center">
<br /></div>
<i>Queridos Irmãos e Irmãs!</i><br />
Com alegria, acolho e saúdo a cada um de vós, Cavaleiros e Damas, Capelães e voluntários, da Ordem Soberana Militar de Malta. Saúdo de modo especial Sua Alteza Eminentíssima o Grão-Mestre Frei Matthew Festing, agradecendo-lhe as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos vós; agradeço também a oferta monetária que me quisestes entregar e que destinei a uma obra de caridade. Dirijo uma saudação afectuosa aos Cardeais e aos Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, nomeadamente ao meu Secretário de Estado, que acaba de presidir à Eucaristia, e ao Cardeal Paolo Sardi, Patrono da Ordem, a quem agradeço a solicitude com que se empenha na consolidação do vínculo especial que vos une à Igreja Católica e de modo peculiar à Santa Sé. Com gratidão, saúdo D. Angelo Acerbi, vosso Prelado. Por fim, saúdo os membros do Corpo Diplomático, bem como todas as altas personalidades e autoridades aqui presentes.<br />
Este encontro é motivado pela passagem do nono centenário do solene privilégio <i>Pie postulatio voluntatis</i>, de 15 de Fevereiro de 1113, pelo qual o Papa Pascoal II colocava a recém-nascida «fraternidade hospitalar» de Jerusalém, dedicada a São João Baptista, sob a tutela da Igreja e a tornava soberana, constituindo-a como Ordem de direito eclesial com a faculdade de eleger livremente os seus superiores, sem interferência da parte de outras autoridades seculares ou religiosas. Esta importante ocorrência reveste-se de um significado especial no contexto do <i>Ano da Fé</i>, durante o qual a Igreja é chamada a renovar a alegria e o compromisso de acreditar em Jesus Cristo, único Salvador do mundo. A este respeito, também vós sois chamados a acolher este tempo de graça, para aprofundar o conhecimento do Senhor e fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé, através do testemunho da vossa vida e do vosso serviço nos dias de hoje.<br />
A vossa Ordem distinguiu-se, desde o início, pela sua fidelidade à Igreja e ao Sucessor de Pedro, bem como pela sua irrenunciável fisionomia espiritual, caracterizada por um alto ideal religioso. Continuai a caminhar por esta estrada, testemunhando concretamente a força transformadora da fé. Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir Jesus, e depois foram pelo mundo inteiro, cumprindo o mandato de levar o Evangelho a toda a criatura; sem medo algum, anunciaram a todos a força da cruz e a alegria da ressurreição de Cristo, das quais tinham sido testemunhas diretas. Pela fé, os mártires deram a sua vida, mostrando a verdade do Evangelho que os transformara e fizera capazes de chegar até ao dom maior, fruto do amor, com o perdão dos seus próprios perseguidores. E pela fé, ao longo dos séculos, os membros da vossa Ordem prodigalizaram-se, primeiro, na assistência dos doentes em Jerusalém e, depois, no amparo dos peregrinos na Terra Santa, expostos a graves perigos, escrevendo gloriosas páginas de caridade cristã e defesa da cristandade. No século XIX, a Ordem abriu-se a espaços novos e mais amplos de atividade no campo da assistência e ao serviço dos doentes e dos pobres, mas sem nunca renunciar aos ideais originários, mormente ao duma intensa vida espiritual de cada um dos seus membros. E o vosso empenho deve prosseguir na mesma direção, com uma atenção muito particular à consagração religiosa – a dos Professos – que constitui o coração da Ordem. Não deveis esquecer jamais as vossas raízes, quando o Beato Geraldo e os seus companheiros se consagraram com os votos ao serviço dos pobres, tendo o privilégio <i>Pie postulatio voluntatis</i> sancionado a sua vocação. Assim os membros da recém-nascida instituição apresentavam-se com os traços da vida religiosa: o empenho por alcançar a perfeição cristã através da profissão dos três votos, o carisma a que se consagravam e a fraternidade entre os membros. Também hoje a vocação do professo deve ser objecto de grande solicitude, naturalmente sem descuidar a vida espiritual de todos.<br />
Neste sentido, quando comparada com outras realidades comprometidas internacionalmente na assistência aos doentes, na solidariedade e na promoção humana, a vossa Ordem distingue-se pela inspiração cristã que deve orientar constantemente o compromisso social dos seus membros. Sabei preservar e cultivar este vosso carácter qualificativo e trabalhai com renovado ardor apostólico, sempre numa atitude de profunda sintonia com o Magistério da Igreja. A vossa obra preciosa e benfazeja, articulada em vários âmbitos e realizada em diversas partes do mundo, concentrada de modo particular no serviço ao doente através de estruturas hospitalares e sanitárias, não é simples filantropia mas expressão eficaz e testemunho vivo de amor evangélico.<br />
Na Sagrada Escritura, o apelo ao amor do próximo está ligado com o mandamento de amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (cf. <i>Mc</i> 12, 29-31). Por conseguinte, o amor do próximo corresponde ao mandato e ao exemplo de Cristo, se estiver fundado num verdadeiro amor a Deus. Assim o cristão, com a própria dedicação, pode fazer experimentar aos outros a ternura providente do Pai celeste, graças a uma conformação cada vez mais profunda a Cristo. Entretanto para dar amor aos irmãos, é necessário tirá-lo da fornalha da caridade divina por meio da oração, da escuta assídua da Palavra de Deus e de uma vida centrada na Eucaristia. A vossa vida de cada dia deve estar permeada pela presença de Jesus, sob cujo olhar sois chamados a colocar também os sofrimentos dos doentes, a solidão dos idosos, as dificuldades dos deficientes. Indo ao encontro destas pessoas, vós servis Cristo: «Sempre que fizerdes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (<i>Mt</i> 25, 40) – diz o Senhor.<br />
Queridos amigos, continuai a trabalhar na sociedade e no mundo ao longo das estradas-mestras indicadas pelo Evangelho: a fé e a caridade, para reavivar a esperança. A fé, como testemunho de adesão a Cristo e de compromisso na missão evangélica, que vos estimula a uma presença sempre mais viva na comunidade eclesial e a uma pertença cada vez mais consciente ao Povo de Deus; a caridade, como expressão de fraternidade em Cristo, através das obras de misericórdia a favor dos doentes, dos pobres, dos necessitados de amor, conforto e assistência, dos atribulados pela solidão, a desorientação e as novas pobrezas materiais e espirituais. Estes ideais estão bem expressos no vosso lema: «<i>Tuitio fidei et obsequium pauperum</i>». Nestas palavras, está bem sintetizado o carisma da vossa Ordem que, como sujeito de direito internacional, não aspira a exercer poderes nem influências de carácter mundano, mas deseja desempenhar com plena liberdade a sua missão em prol do bem integral do homem, espírito e corpo, atendendo tanto aos indivíduos como à comunidade, sobretudo àqueles que mais precisam de esperança e de amor.<br />
A Santíssima Virgem – a Bem-aventurada Virgem de Filermo – sustente com a sua proteção materna os vossos propósitos e projetos; o vosso protetor celeste São João Baptista e o Beato Geraldo, os Santos e Beatos da Ordem vos acompanhem com a sua intercessão. Quanto a mim, asseguro-vos a minha oração por vós aqui presentes, por todos os membros da Ordem, bem como pelos numerosos e beneméritos voluntários, incluindo o consistente grupo das crianças, e por quantos vos coadjuvam nas vossas atividades, ao mesmo tempo que de coração vos concedo, extensiva às vossas famílias, uma especial Bênção Apostólica.<br />
Obrigado!</td></tr>
</tbody></table>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-7874419331360206512013-01-26T10:41:00.000-02:002013-01-27T08:52:20.024-02:00DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixvcSNtX4DBogBsnO0-n2r1oKzN-35ufrJczcdo2iVYexms7OnMxeuzF8ySx9H10DuWjawKQ0k3BZCjMh2D5Ri7OIqvfAKS3wjPmPEF93i6wRFXzYlG7Y8QwzcyL5OJX44o25l6PTchN4z/s1600/Redes+sociales.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixvcSNtX4DBogBsnO0-n2r1oKzN-35ufrJczcdo2iVYexms7OnMxeuzF8ySx9H10DuWjawKQ0k3BZCjMh2D5Ri7OIqvfAKS3wjPmPEF93i6wRFXzYlG7Y8QwzcyL5OJX44o25l6PTchN4z/s1600/Redes+sociales.jpeg" /></a></div>
<br />
<div align="center">
<b><i><span style="color: #663300; font-size: medium;">MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI<br />PARA O 47º DIA MUNDIAL<br />DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS</span></i></b></div>
<div align="center">
<span class="style1" style="color: #663300;"><b>«</b></span><span class="style2" style="color: #663300; font-style: italic;"><b>Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização</b></span>»</div>
<div align="center" class="style1" style="color: #663300;">
[12 de Maio de 2013] </div>
<br />
<br />
<a name='more'></a><br /><br />
<i>Amados irmãos e irmãs,</i><br />
<br />
Encontrando-se próximo o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2013, desejo oferecer-vos algumas reflexões sobre uma realidade cada vez mais importante que diz respeito à maneira como as pessoas comunicam actualmente entre si; concretamente quero deter-me a considerar o desenvolvimento das redes sociais digitais que estão a contribuir para a aparição duma nova ágora, duma praça pública e aberta onde as pessoas partilham ideias, informações, opiniões e podem ainda ganhar vida novas relações e formas de comunidade.<br />
Estes espaços, quando bem e equilibradamente valorizados, contribuem para favorecer formas de diálogo e debate que, se realizadas com respeito e cuidado pela privacidade, com responsabilidade e empenho pela verdade, podem reforçar os laços de unidade entre as pessoas e promover eficazmente a harmonia da família humana. A troca de informações pode transformar-se numa verdadeira comunicação, os contactos podem amadurecer em amizade, as conexões podem facilitar a comunhão. Se as redes sociais são chamadas a concretizar este grande potencial, as pessoas que nelas participam devem esforçar-se por serem autênticas, porque nestes espaços não se partilham apenas ideias e informações, mas em última instância a pessoa comunica-se a si mesma.<br />
O desenvolvimento das redes sociais requer dedicação: as pessoas envolvem-se nelas para construir relações e encontrar amizade, buscar respostas para as suas questões, divertir-se, mas também para ser estimuladas intelectualmente e partilhar competências e conhecimentos. Assim as redes sociais tornam-se cada vez mais parte do próprio tecido da sociedade enquanto unem as pessoas na base destas necessidades fundamentais. Por isso, as redes sociais são alimentadas por aspirações radicadas no coração do homem.<br />
A cultura das redes sociais e as mudanças nas formas e estilos da comunicação colocam sérios desafios àqueles que querem falar de verdades e valores. Muitas vezes, como acontece também com outros meios de comunicação social, o significado e a eficácia das diferentes formas de expressão parecem determinados mais pela sua popularidade do que pela sua importância intrínseca e validade. E frequentemente a popularidade está mais ligada com a celebridade ou com estratégias de persuasão do que com a lógica da argumentação. Às vezes, a voz discreta da razão pode ser abafada pelo rumor de excessivas informações, e não consegue atrair a atenção que, ao contrário, é dada a quantos se expressam de forma mais persuasiva. Por conseguinte os meios de comunicação social precisam do compromisso de todos aqueles que estão cientes do valor do diálogo, do debate fundamentado, da argumentação lógica; precisam de pessoas que procurem cultivar formas de discurso e expressão que façam apelo às aspirações mais nobres de quem está envolvido no processo de comunicação. Tal diálogo e debate podem florescer e crescer mesmo quando se conversa e toma a sério aqueles que têm ideias diferentes das nossas. «Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza» (<i><a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2010/may/documents/hf_ben-xvi_spe_20100512_incontro-cultura_po.html">Discurso no Encontro com o mundo da cultura</a></i>, Belém, Lisboa, 12 de Maio de 2010).<br />
O desafio, que as redes sociais têm de enfrentar, é o de serem verdadeiramente abrangentes: então beneficiarão da plena participação dos fiéis que desejam partilhar a Mensagem de Jesus e os valores da dignidade humana que a sua doutrina promove. Na realidade, os fiéis dão-se conta cada vez mais de que, se a Boa Nova não for dada a conhecer também no ambiente digital, poderá ficar fora do alcance da experiência de muitos que consideram importante este espaço existencial. O ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade quotidiana de muitas pessoas, especialmente dos mais jovens. As redes sociais são o fruto da interacção humana, mas, por sua vez, dão formas novas às dinâmicas da comunicação que cria relações: por isso uma solícita compreensão por este ambiente é o pré-requisito para uma presença significativa dentro do mesmo.<br />
A capacidade de utilizar as novas linguagens requer-se não tanto para estar em sintonia com os tempos, como sobretudo para permitir que a riqueza infinita do Evangelho encontre formas de expressão que sejam capazes de alcançar a mente e o coração de todos. No ambiente digital, a palavra escrita aparece muitas vezes acompanhada por imagens e sons. Uma comunicação eficaz, como as parábolas de Jesus, necessita do envolvimento da imaginação e da sensibilidade afectiva daqueles que queremos convidar para um encontro com o mistério do amor de Deus. Aliás sabemos que a tradição cristã sempre foi rica de sinais e símbolos: penso, por exemplo, na cruz, nos ícones, nas imagens da Virgem Maria, no presépio, nos vitrais e nos quadros das igrejas. Uma parte consistente do património artístico da humanidade foi realizado por artistas e músicos que procuraram exprimir as verdades da fé.<br />
A autenticidade dos fiéis, nas redes sociais, é posta em evidência pela partilha da fonte profunda da sua esperança e da sua alegria: a fé em Deus, rico de misericórdia e amor, revelado em Jesus Cristo. Tal partilha consiste não apenas na expressão de fé explícita, mas também no testemunho, isto é, no modo como se comunicam «escolhas, preferências, juízos que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele» (<i><a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/communications/documents/hf_ben-xvi_mes_20110124_45th-world-communications-day_po.html">Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011</a></i>). Um modo particularmente significativo de dar testemunho é a vontade de se doar a si mesmo aos outros através da disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da verdade e do sentido da existência humana. A aparição nas redes sociais do diálogo acerca da fé e do acreditar confirma a importância e a relevância da religião no debate público e social.<br />
Para aqueles que acolheram de coração aberto o dom da fé, a resposta mais radical às questões do homem sobre o amor, a verdade e o sentido da vida – questões estas que não estão de modo algum ausentes das redes sociais – encontra-se na pessoa de Jesus Cristo. É natural que a pessoa que possui a fé deseje, com respeito e tacto, partilhá-la com aqueles que encontra no ambiente digital. Entretanto, se a nossa partilha do Evangelho é capaz de dar bons frutos, fá-lo em última análise pela força que a própria Palavra de Deus tem de tocar os corações, e não tanto por qualquer esforço nosso. A confiança no poder da acção de Deus deve ser sempre superior a toda e qualquer segurança que possamos colocar na utilização dos recursos humanos. Mesmo no ambiente digital, onde é fácil que se ergam vozes de tons demasiado acesos e conflituosos e onde, por vezes, há o risco de que o sensacionalismo prevaleça, somos chamados a um cuidadoso discernimento. A propósito, recordemo-nos de que Elias reconheceu a voz de Deus não no vento impetuoso e forte, nem no tremor de terra ou no fogo, mas no «murmúrio de uma brisa suave» (<i>1 Rs</i> 19, 11-12). Devemos confiar no facto de que os anseios fundamentais que a pessoa humana tem de amar e ser amada, de encontrar um significado e verdade que o próprio Deus colocou no coração do ser humano, permanecem também nos homens e mulheres do nosso tempo abertos, sempre e em todo o caso, para aquilo que o Beato Cardeal Newman chamava a «luz gentil» da fé.<br />
As redes sociais, para além de instrumento de evangelização, podem ser um factor de desenvolvimento humano. Por exemplo, em alguns contextos geográficos e culturais onde os cristãos se sentem isolados, as redes sociais podem reforçar o sentido da sua unidade efectiva com a comunidade universal dos fiéis. As redes facilitam a partilha dos recursos espirituais e litúrgicos, tornando as pessoas capazes de rezar com um revigorado sentido de proximidade àqueles que professam a sua fé. O envolvimento autêntico e interactivo com as questões e as dúvidas daqueles que estão longe da fé, deve-nos fazer sentir a necessidade de alimentar, através da oração e da reflexão, a nossa fé na presença de Deus e também a nossa caridade operante: «Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine» (<i>1 Cor</i> 13, 1).<br />
No ambiente digital, existem redes sociais que oferecem ao homem actual oportunidades de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Mas estas redes podem também abrir as portas a outras dimensões da fé. Na realidade, muitas pessoas estão a descobrir – graças precisamente a um contacto inicial feito <i>on line</i> – a importância do encontro directo, de experiências de comunidade ou mesmo de peregrinação, que são elementos sempre importantes no caminho da fé. Procurando tornar o Evangelho presente no ambiente digital, podemos convidar as pessoas a viverem encontros de oração ou celebrações litúrgicas em lugares concretos como igrejas ou capelas. Não deveria haver falta de coerência ou unidade entre a expressão da nossa fé e o nosso testemunho do Evangelho na realidade onde somos chamados a viver, seja ela física ou digital. Sempre e de qualquer modo que nos encontremos com os outros, somos chamados a dar a conhecer o amor de Deus até aos confins da terra.<br />
Enquanto de coração vos abençoo a todos, peço ao Espírito de Deus que sempre vos acompanhe e ilumine para poderdes ser verdadeiramente arautos e testemunhas do Evangelho. «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» (<i>Mc</i> 16, 15).<br />
<i>Vaticano, 24 de Janeiro – Festa de São Francisco de Sales – do ano 2013.</i><br />
<br />
<div align="center">
<b>BENEDICTUS PP. XVI</b></div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-30487788776602897392013-01-25T18:18:00.000-02:002013-01-27T08:57:45.121-02:00É POSSÍVEL VER A DEUS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnQeiUeHkLxnjWzX86T1hACmBoGm8EuH5Ywqpt3xtVHFdGwcrO1-rNr8W-0DGu7xXHFdJBQYMmlzWoL1QlwgN2dVa2k8EfWSxlyZ3TtELbZ3d4EiOaISCsvpPSpGLIz-sYJhoY_XST7z5M/s1600/logo+ano+da+fe.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnQeiUeHkLxnjWzX86T1hACmBoGm8EuH5Ywqpt3xtVHFdGwcrO1-rNr8W-0DGu7xXHFdJBQYMmlzWoL1QlwgN2dVa2k8EfWSxlyZ3TtELbZ3d4EiOaISCsvpPSpGLIz-sYJhoY_XST7z5M/s200/logo+ano+da+fe.jpeg" width="168" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-align: center; text-transform: uppercase;">
É POSSÍVEL VER A DEUS</h1>
<div style="text-align: center;">
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.79144859313965px;" /></div>
<div style="font-family: Verdana,arial,helvetica,sans-serif,Verdana,Tahoma,sans-serif; font-size: 10.9954px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: center;">
<b>Catequese de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.79144859313965px;" /></div>
<div style="font-family: Verdana,arial,helvetica,sans-serif,Verdana,Tahoma,sans-serif; font-size: 10.9954px; line-height: 1.6em; margin-top: 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: center;">
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 16 de janeiro de 2013.</div>
<div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.79144859313965px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: center;">
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<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
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Jesus Cristo "Mediador e plenitude de toda a Revelação"</div>
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<a name='more'></a></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs,</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
o Concílio Vaticano II na Constituição sobre a Divina Revelação <i>Dei Verbum</i>, afirma que a verdade íntima da revelação de Deus brilha para nós "em Cristo, que é juntamente o mediador e a plenitude de toda a Revelação" (n 2) . O Antigo Testamento nos narra como Deus, após a criação, apesar do pecado original, apesar da arrogância do homem de querer colocar-se no lugar do seu Criador, oferece novamente a possibilidade de sua amizade, sobretudo por meio da aliança com Abraão e o caminho de um pequeno povo, o de Israel, que Ele escolhe não com critérios terrenos, mas simplesmente por amor. É uma escolha que permanece um mistério e revela o estilo de Deus que chama alguns não para excluir outros, mas para fazê-los de ponte que conduza a Ele: eleição é sempre eleição para o outro. Na história do povo de Israel é possível refazer os passos de um longo caminho no qual Deus se faz conhecer, se revela, entra a história com palavras e ações. Para esta obra Ele utiliza mediadores, como Moisés, os Profetas, os Juízes, que comunicam ao povo a sua vontade, recordam a exigência da fidelidade à aliança e mantêm viva a realização plena e definitiva das promessas divinas.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
E é exatamente a realização destas promessas que contemplamos no Santo Natal: a Revelação de Deus alcança o seu cume, a sua plenitude. Em Jesus de Nazaré, Deus realmente visita o seu povo, visita a humanidade de uma forma que vai além de todas as expectativas: envia o seu Filho Unigênito; faz-se homem o próprio Deus. Jesus não nos diz algo sobre Deus, não fala simplesmente do Pai, mas é a revelação de Deus, porque é Deus, e revela assim a face de Deus. No Prólogo do seu Evangelho, São João escreve: "Deus, ninguém jamais o viu: Ninguém jamais viu Deus. O Filho único que está no seio do Pai foi quem o revelou” (João 1, 18).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Gostaria de deter-me sobre este "revelar a face de Deus". A este respeito, São João, no seu Evangelho, relata um fato significativo que ouvimos então. Aproximando-se a Paixão, Jesus tranqüiliza seus discípulos, exortando-os a não terem medo e a ter fé, e depois, começa um diálogo com eles no qual fala de Deus Pai (cf. João 14,2-9). Em um determinado momento, o apóstolo Filipe pede a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta” (João 14, 8). Filipe é muito prático e concreto, diz também o que nós queremos dizer: “queremos ver, mostra-nos o Pai", pede para "ver" o Pai, para ver a sua face. A resposta de Jesus é respondida não só a Felipe, mas também a nós e nos introduz no coração da fé cristológica; o Senhor diz: "Quem me viu, viu o Pai" (João 14, 9). Esta expressão contém em síntese a novidade do Novo Testamento, aquela novidade que apareceu na gruta de Belém: é possível ver a Deus, Deus manifestou a sua face, é visível em Jesus Cristo.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Em todo o Antigo Testamento é muito presente o tema da "busca da face de Deus", o desejo de conhecer essa face, o desejo de ver Deus como Ele é, tanto que o termo hebraico <i>pānîm</i>, que significa "face", é nomeado nada menos que 400 vezes, e 100 delas são referentes a Deus: 100 vezes refere-se a Deus, deseja-se ver a face de Deus. No entanto a religião judaica proíbe todas as imagens, porque Deus não pode ser representado, como faziam os povos vizinhos com a adoração de ídolos; então, com esta proibição das imagens, o Antigo Testamento parece excluir totalmente o "ver" do culto e da devoção. O que significa, então, para o israelita piedoso, buscar a face de Deus, sabendo que não pode haver imagem alguma? A questão é importante: por um lado, se quer dizer que Deus não pode ser reduzido a um objeto, como uma imagem que se toma em mãos, nem mesmo se pode colocar algo no lugar de Deus; por outro lado, afirma-se que Deus tem uma face, um "Tu" que pode entrar em relação, que não está fechado em seu Céu a olhar do alto a humanidade. Deus está certamente acima de todas as coisas, mas se dirige a nós, escuta-nos, vê-nos, fala, estabelece aliança, é capaz de amar. A história da salvação é a história de Deus com a humanidade, é a história deste relacionamento de Deus que se revela progressivamente ao homem, que faz conhecer a si mesmo, a sua face.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Logo no início do ano, em 1° de janeiro, ouvimos na liturgia a bela oração de benção sobre o povo: “O Senhor te abençõe e te guarde. O Senhor te mostre a sua face e conceda-te a sua graça. O Senhor volva o seu rosto para ti e te dê a paz” (Nm 6,24-26). O esplendor da face divina é a fonte de vida, é o que nos permite ver a realidade; a luz da sua face é o guia da vida. No Antigo Testamento, há uma figura que está ligada de forma muito especial ao tema da "face de Deus"; trata-se de Moisés, a quem Deus escolhe para libertar o povo da escravidão do Egito, doa-lhe a Lei da aliança e o conduz à Terra prometida. Bem como, no capítulo 33 do <i>Livro do Êxodo</i>, diz-se que Moisés tinha um relacionamento estreito e confidencial com Deus: "O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo" (v. 11). Em virtude dessa confiança, Moisés pede a Deus: "Mostra-me a tua glória", e a resposta de Deus é clara:</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
“Farei passar diante de ti todo o meu esplendor e proclamarei o meu nome... Mas tu não poderás ver a minha face, porque nenhum homem pode me ver e permanecer vivo...Eis um lugar perto de mim...Tu me verás por detrás, mas a minha face não pode ser vista” (vv. 18-23). Por um lado, há agora um diálogo face a face como entre amigos, mas por outro há a impossibilidade, nesta vida, de ver a face de Deus, que permanece escondida; a visão é limitada. Os Padres dizem que estas palavras, " tu me verás por detrás”, querem dizer: tu podes somente seguir a Cristo e seguindo vê por trás o mistério de Deus; Deus pode ser seguido vendo as suas costas.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Algo novo acontece, porém, com a Encarnação. A busca da face de Deus recebe uma mudança incrível, porque agora é possível ver essa face: é aquela de Jesus, do Filho de Deus que se fez homem. Nele encontra cumprimento o caminho da revelação de Deus iniciado com o chamado a Abraão, Ele é a plenitude desta revelação porque é o Filho de Deus, é ao mesmo tempo "mediador e plenitude de toda a Revelação" (Const. Dogm. <i>Dei Verbum</i>, 2), Nele o conteúdo da Revelação e o Revelador se coincidem. Jesus nos mostra a face de Deus e nos faz conhecer o nome de Deus. Na Oração sacerdotal, na Última Ceia, Ele diz ao Pai: "Manifestei o teu nome aos homens ... Eu lhes fiz conhecer o teu nome" (cf. João 17,6.26). A expressão "nome de Deus" significa Deus como Aquele que está presente entre os homens. A Moisés, na sarça ardente, Deus havia revelado o seu nome, tinha se tornado invocável, tinha dado um sinal concreto do seu "existir" entre os homens. Tudo isso em Jesus encontra cumprimento e plenitude: Ele inaugura de um modo novo a presença de Deus na história, porque que quem O vê, veja o Pai, como diz a Filipe (cf. João14,9). O Cristianismo - afirma São Bernardo - é a "religião da Palavra de Deus", não, porém, de "uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo" (<i>Hom. super missus est</i>, IV, 11: <i>PL</i> 183, 86B). Na tradição patrística e medieval utiliza-se uma fórmula especial para expressar esta realidade: diz-se que Jesus é o <i>Verbum abbreviatum</i> (cf. Rm 9,28, referindo-se a Isaías 10, 23), o Verbo abreviado, a Palavra breve, breve e substancial do Pai, que nos contou tudo sobre Ele. Em Jesus toda a Palavra está presente.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Em Jesus também a mediação entre Deus e o homem encontra a sua plenitude. No Antigo Testamento há uma série de figuras que desempenham esta tarefa, em particular Moisés, o libertador, o guia, o "mediador" da aliança, como o define também o Novo Testamento (cf. Gl 3, 19; Atos 7 , 35, Jo 1:17). Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não é simplesmente um dos mediadores entre Deus e o homem, mas é "o mediador" da nova e eterna aliança (cf. Hb 8:6; 9,15, 12,24), "um só, de fato, é Deus - diz Paulo - e um só o <i>mediador</i> entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus” (1 Tm 2,5; Gal 3,19-20). Nele podemos ver e encontrar o Pai; Nele podemos invocar a Deus como "Abbá, Pai"; Nele nos é doada a salvação.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O desejo de conhecer a Deus realmente, isso é, de ver a face de Deus é inerente a todos os homens, até mesmo nos ateus. E nós temos talvez inconscientemente este desejo de simplesmente ver quem é Ele, o que é, quem é para nós. Mas esse desejo se realiza seguindo a Cristo, assim, vemos as costas e enfim também a Deus como um amigo, a sua face na face de Cristo. O importante é que sigamos a Cristo não somente no momento em que necessiatmos e quando encontramos um espaço em nossas ocupações diárias, mas com a nossa vida enquanto tal. Toda a nossa existência deve ser orientada ao encontro com Jesus Cristo, ao amor por Ele; e, nisso, um lugar central deve ter o amor ao próximo, o amor que, à luz do Crucifixo, nos faz reconhecer a face de Jesus nos pobres, nos fracos, nos sofredores. Isso é possível somente se a verdadeira face de Jesus tornou-se familiar para nós na escuta da sua Palavra, no falar interiormente, no entrar nesta Palavra de forma que realmente O encontremos, e, naturalmente, no mistério da Eucaristia. No Evangelho de São Lucas é significativo o passo dos dois discípulos de Emaús, que reconhecem Jesus ao partir o pão, mas preparados pelo caminho com Ele, preparados pelo convite que fizeram a Ele de permanecer com eles, preparados pelo diálogo que fez arder seus corações; assim, ao final, eles veem Jesus. Também para nós a Eucaristia é a grande escola em que aprendemos a ver a face de Deus, entramos em relacionamento íntimo com Ele e aprendemos, ao mesmo tempo, a dirigir o olhar para o momento final da história, quando Ele irá nos saciar com a luz da sua face. Sobre a terra nós caminhamos para essa plenitude, na expectativa alegre que se realiza no Reino de Deus. Obrigado.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Bento XVI dirigiu a seguinte saudação em português:</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Uma saudação cordial aos peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente ao grupo de “Cantorias”, da Diocese de Viseu: me quisestes recordar em vosso canto. Agradeço-vos e, de bom grado, vos encorajo na consagração à Virgem Maria para um feliz êxito na vossa configuração a Cristo. Desçam sobre vós e vossas famílias as Bênçãos de Deus. Obrigado.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Antes da benção final o Papa fez o seguinte apelo:</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Depois de amanhã, sexta-feira, 18 de janeiro, começa a <i>Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos</i>, que este ano tem como tema: "O que Deus exige de nós", inspirado em uma passagem do profeta Miquéias (cf. 06-8). Convido todos a rezarem, pedindo com insistência a Deus o grande dom da unidade entre os discípulos do Senhor. A força inesgotável do Espírito Santo nos encoraje a um compromisso sincero de busca da unidade, para que possamos professar juntos que Jesus é o Salvador do mundo.</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-50980234225219862842013-01-12T17:40:00.000-02:002013-01-27T08:58:35.915-02:00O AGIR DE DEUS NÃO SE LIMITA ÀS PALAVRAS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnQeiUeHkLxnjWzX86T1hACmBoGm8EuH5Ywqpt3xtVHFdGwcrO1-rNr8W-0DGu7xXHFdJBQYMmlzWoL1QlwgN2dVa2k8EfWSxlyZ3TtELbZ3d4EiOaISCsvpPSpGLIz-sYJhoY_XST7z5M/s1600/logo+ano+da+fe.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnQeiUeHkLxnjWzX86T1hACmBoGm8EuH5Ywqpt3xtVHFdGwcrO1-rNr8W-0DGu7xXHFdJBQYMmlzWoL1QlwgN2dVa2k8EfWSxlyZ3TtELbZ3d4EiOaISCsvpPSpGLIz-sYJhoY_XST7z5M/s200/logo+ano+da+fe.jpeg" width="168" /></a></div>
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<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-align: center; text-transform: uppercase;">
O AGIR DE DEUS NÃO SE LIMITA ÀS PALAVRAS</h1>
<div style="text-align: center;">
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /></div>
<div style="font-family: Verdana,arial,helvetica,sans-serif,Verdana,Tahoma,sans-serif; font-size: 10.9954px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: center;">
<b>Catequese de Bento XVI sobre a Encarnação realizada durante a Audiência Geral de quarta-feira</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /></div>
<div style="font-family: Verdana,arial,helvetica,sans-serif,Verdana,Tahoma,sans-serif; font-size: 10.9954px; line-height: 1.6em; margin-top: 5px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: center;">
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 9 Janeiro 2013.</div>
<div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
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<a name='more'></a><br />
Queridos irmãos e irmãs,</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Neste tempo natalício nos concentramos mais uma vez no grande mistério de Deus que desceu do seu Céu para entrar na nossa carne. Em Jesus, Deus encarnou-se, e tornou-se homem como nós, e assim nos abriu a estrada para o seu Céu, para a comunhão plena com Ele.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Nestes dias, em nossas Igrejas ouviu-se muitas vezes o termo “Encarnação” de Deus, para exprimir a realidade que celebramos no Santo Natal: o Filho de Deus se fez homem, assim como recitamos no Credo. Mas o que significa esta palavra central para falar da fé cristã? Encarnação deriva do latim <i>“incarnatio”</i>. Santo Inácio de Antioquia – desde o primeiro século – e, sobretudo, santo Irineu usaram este termo refletindo sobre o Prólogo do Evangelho de são João, em particular sobre a expressão: “O Verbo se fez carne” (Jo 1, 14). Aqui a palavra “carne”, segundo o uso hebraico, indica o homem na sua integridade, todo o homem, mas propriamente sobre o aspecto da sua transitoriedade e temporalidade, da sua pobreza e contingência. Isto para dizer que a salvação trazida por Deus fazendo-se carne em Jesus de Nazaré toca ao homem na sua realidade concreta e em qualquer situação em que se encontra. Deus assumiu a condição humana para curá-la de tudo o que a separa Dele, para permirtir-nos chamá-lo, em seu Filho Unigênito, como o nome de “Abbá, Pai” e sermos verdadeiramente filhos de Deus. Santo Irineu afirma: “Este é o motivo pelo qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a filiação divina, se transformasse filho de Deus” (Adversus haereses, 3,19,1: PG 7,939; cfr Catecismo da Igreja Católica, 460).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
“O Verbo se fez carne” é uma daquelas verdades com a qual estamos tão acostumados que quase não nos afeta mais a grandeza do evento que ela exprime. E efetivamente neste período natalício, no qual tal expressão retorna sempre na liturgia, muitas vezes, se fica mais atento aos aspectos exteriores, às “cores” da festa, que ao coração da grande novidade cristã que celebramos: algo absolutamente impensável, que apenas Deus poderia operar e no qual podemos entrar somente com a fé. O <i>Logos</i>, que está em Deus, o Logos que é Deus, o Criador do mundo, (cf Jo 1,1), pelo qual todas as coisas foram criadas (cf 1,3), que acompanhou e acompanha os homens na história com a sua luz (cf 1, 4-5; 1-9), se faz um entre nós, faz morada em meio a nós, se faz um de nós (cf 1,14). O Concilio Ecumênico Vaticano II afirma: “O Filho de Deus ... trabalhou com mãos de homem, pensou com mente de homem, agiu com vontade de homem, amou com coração de homem. Nascendo da Virgem Maria, Ele se fez verdadeiramente um de nós, em tudo similar a nós exceto no pecado (Cost. Gaudium Et spes, 22). É importante portanto recuperar o estupor diante deste mistério, deixar-nos envolver pela grandeza deste evento: Deus, o verdadeiro Deus, Criador de tudo, percorreu como homem nossas estradas, entrando no tempo do homem, para comunicar-nos a sua própria vida (cf 1 Jo 1, 1-4). E o fez não com o esplendor de um soberano, que submete o mundo com o seu poder, mas com humildade de uma criança.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Gostaria de destacar um segundo elemento. No Santo Natal normalmente se troca presente com as pessoas mais próximas. Às vezes pode ser um gesto feito por convenção, mas geralmente exprime afeto, é sinal de amor e de estima. Na oração sobre as ofertas da Missa da aurora da Solenidade de Natal a Igreja reza “Acolhei, ó Pai, a nossa oferta nesta noite de luz, e por essa misteriosa troca de dons transforma-nos no Cristo teu Filho, que elevou o homem ao seu lado na glória”. O pensamento da doação está ao centro da liturgia e traz à nossa consciência o original presente de Natal: naquela noite santa, Deus fazendo-se carne, quis fazer-se presente para os homens, doou a si mesmo por nós; Deus fez de seu Filho único um presente para nós, assumiu a nossa humanidade para doar-nos a sua divindade. Este é o grande presente. Também quando presenteamos o importante não é que seja algo mais ou menos caro; mas quem não doa um pouco de si mesmo, doa sempre muito pouco; aliás, muitas vezes busca-se substituir o coração e o compromisso de doação de si pelo dinheiro, com coisas materiais. O mistério da Encarnação está a indicar que Deus não fez assim: não doou alguma coisa, mas doou a si mesmo no seu Filho Unigênito. Encontramos aqui o modelo do nosso doar, para que as nossas relações, especialmente aquelas mais importantes, sejam guiadas pela gratuidade do amor.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Gostaria de oferecer uma terceira reflexão: o fato da Encarnação, de Deus que se fez homem como nós, nos mostra o realismo sem precedentes do amor divino. O agir de Deus, de fato, não se limita às palavras, podemos dizer que Ele não se contenta em falar, mas se imerge na nossa história e assume para si o cansaço e o peso da vida humana. O Filho de Deus se fez verdadeiramente homem, nasceu da Virgem Maria, em um tempo e em um lugar determinado, em Belém durante o reinado do imperador Augusto, sob o governador Quirino (cf Lc 2, 1-2); cresceu em uma família, teve amigos, formou um grupo de discípulos, instruiu os Apóstolos para continuarem a sua missão, terminou o percurso de sua vida terrena na cruz. Este modo de agir de Deus é um forte estimulo para nos interrogarmos sobre o realismo da nossa fé, que não deve ser limitado à esfera do sentimento, das emoções, mas deve entrar no concreto da nossa existência, deve tocar a nossa vida de cada dia e orientá-la também no modo prático. Deus não parou nas palavras, mas nos indicou como viver, partilhando da nossa mesma experiência, exceto no pecado. O Catecismo de são Pio X, que alguns de nós estudamos quando jovens, com a sua essencialidade, pergunta: “Para viver segundo Deus, o que devemos fazer?”,oferece a seguinte resposta: “ Para viver segundo Deus devemos acreditar nas verdades reveladas por Ele e observar os seus mandamentos com a ajuda da sua graça, que é obtida mediante os sacramentos e a oração”. A fé tem um aspecto fundamental que interessa não apenas à mente e ao coração, mas à toda a nossa vida.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Proponho um último elemento para vossa reflexão. São João afirma que o Verbo, o <i>Logos </i>era desde o princípio em Deus, e que tudo foi feito por meio do Verbo e nada do que existe foi feito sem Ele (cf Jo 1, 1-3). O Evangelista alude claramente à narração da criação no primeiro capitulo do Livro de Gênesis, e o lê novamente à luz de Cristo. Este é um critério fundamental na leitura cristã da Bíblia: o Antigo e o Novo Testamento devem ser lidos sempre em conjunto e a partir do Novo é revelado o sentido mais profundo também do Antigo. Aquele mesmo Verbo, que existe desde sempre com Deus, que é Deus Ele mesmo e por meio do qual e em vista do qual tudo foi criado (cf Col 1, 16-17), fez-se homem: o Deus eterno e infinito se imergiu na finitude humana, na sua criatura, para reconduzir o homem e a inteira criação a Ele. O <i>Catecismo da Igreja Católica </i>afirma: “A primeira criação encontra o seu sentido e o seu ponto culminante na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira” (n.349). Os Padres da Igreja aproximam Jesus a Adão, de modo a defini-lo “segundo Adão” ou Adão definitivo, a imagem perfeita de Deus. Com a Encarnação do Filho de Deus surge uma nova criação, que dá a resposta completa à pergunta “ Quem é o homem?”. Somente em Jesus se manifesta plenamente o projeto de Deus sobre o ser humano: Ele é o homem definitivo segundo Deus. O Concílio Vaticano II o reitera com força: “Na realidade, somente no mistério do Verbo encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem ... Cristo, novo Adão, manifesta plenamente o homem ao homem e revela a eles a sua vocação” (cost. Gaudium et spes, 22; cf Catecismo da Igreja Católica, 359). Naquele menino, o Filho de Deus contemplado no Natal, podemos reconhecer a verdadeira face, não somente de Deus, mas a verdadeira face do ser humano; e somente abrindo-nos à ação da sua graça e procurando cada dia segui-Lo nós realizaremos o projeto de Deus para nós, para cada um de nós.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos amigos, neste período meditemos a grande e maravilhosa riqueza do Mistério da Encarnação, para deixar que o Senhor nos ilumine e nos transforme sempre mais à imagem de seu Filho feito homem por nós.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<i>Ao final Bento XVI dirigiu a seguinte saudação em português:</i></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Uma cordial saudação a todos os peregrinos de língua portuguesa, a quem agradeço a presença e desejo a riqueza imensa e inesgotável que é Cristo, o Deus feito homem. Revesti-vos de Cristo! E, com Ele, o vosso Ano Novo não poderá deixar de ser feliz. Sobre vós e vossas famílias, desça a minha Bênção.</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-52639565180136859052013-01-02T10:37:00.001-02:002013-01-02T10:37:18.230-02:00DIA MUNDIAL DA PAZ - 1 DE JANEIRO DE 2013<br />
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<span style="color: #663300;">MENSAGEM DO DIA MUNDIAL DA PAZ<br /><b><span style="font-size: medium;">BENTO XVI</span></b></span></div>
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<strong>BEM-AVENTURADOS OS OBREIROS DA PAZ</strong></div>
1. Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.<br />
À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias, anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos.<br />
Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo.<br />
Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens.<br />
E no entanto as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus.<br />
Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: «Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (<i>Mt </i>5, 9).<br />
<i><strong>A bem-aventurança evangélica</strong></i><br />
2. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. <i>Mt </i>5, 3-12; <i>Lc </i>6, 20-23) são promessas. Com efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um género literário que traz sempre consigo uma boa nova, ou seja um evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem sobretudo no cumprimento duma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingénuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.<br />
A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjectivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, « o Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz » (v. 11).<br />
<i><strong>A paz: dom de Deus e obra do homem</strong></i><br />
3. A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica <i><a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem_po.html">Pacem in terris</a> </i>– cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça. A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.<br />
Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigénito. Assim o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas.<br />
A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica <i><a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem_po.html">Pacem in terris</a></i>, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e animadas por um «nós» comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros comparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir.<br />
A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenómenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. <i>Jr </i>31, 31-34), oferecendo-nos a possibilidade de ter « um coração novo e um espírito novo » (cf. <i>Ez </i>36, 26).<br />
Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal factor do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. <i>Ef </i>2, 14; <i>2 Cor </i>5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.<br />
A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz.<br />
<i><strong>Obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade</strong></i><br />
4. Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.<br />
Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se dêem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória. A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz. Na verdade, como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros? Qualquer lesão à vida, de modo especial na sua origem, provoca inevitavelmente danos irreparáveis ao desenvolvimento, à paz, ao ambiente. Tão-pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida.<br />
Também a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.<br />
Estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa; mas estão inscritos na própria natureza humana – sendo reconhecíveis pela razão – e consequentemente comuns a toda a humanidade. Por conseguinte, a acção da Igreja para os promover não tem carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente da sua filiação religiosa. Tal acção é ainda mais necessária quando estes princípios são negados ou mal entendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma ferida grave infligida à justiça e à paz.<br />
Por isso, uma importante colaboração para a paz é dada também pelos ordenamentos jurídicos e a administração da justiça quando reconhecem o direito ao uso do princípio da objecção de consciência face a leis e medidas governamentais que atentem contra a dignidade humana, como o aborto e a eutanásia.<br />
Entre os direitos humanos basilares mesmo para a vida pacífica dos povos, conta-se o direito dos indivíduos e comunidades à liberdade religiosa. Neste momento histórico, torna-se cada vez mais importante que este direito seja promovido não só negativamente, como <i>liberdade de</i>– por exemplo, de obrigações e coacções quanto à liberdade de escolher a própria religião –, mas também positivamente, nas suas várias articulações, como <i>liberdade para</i>: por exemplo, para testemunhar a própria religião, anunciar e comunicar a sua doutrina; para realizar actividades educativas, de beneficência e de assistência que permitem aplicar os preceitos religiosos; para existir e actuar como organismos sociais, estruturados de acordo com os princípios doutrinais e as finalidades institucionais que lhe são próprias. Infelizmente vão-se multiplicando, mesmo em países de antiga tradição cristã, os episódios de intolerância religiosa, especialmente contra o cristianismo e aqueles que se limitam a usar os sinais identificadores da própria religião.<br />
O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.<br />
E, entre os direitos e deveres sociais actualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. A propósito disto, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões económicas, sociais e políticas exigem que se continue « a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção ». Para se realizar este ambicioso objectivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos.<br />
<i><strong>Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia</strong></i><br />
5. De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregados de acordo com a perspectiva duma vida boa, duma conduta recta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos.<br />
Para sair da crise financeira e económica actual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspectiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento económico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom. Concretamente na actividade económica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a actividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.<br />
No âmbito económico, são necessárias – especialmente por parte dos Estados – políticas de desenvolvimento industrial e agrícola que tenham a peito o progresso social e a universalização de um Estado de direito e democrático. Fundamental e imprescindível é também a estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial; devem ser estabilizados e melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres. A solicitude dos diversos obreiros da paz deve ainda concentrar-se – com mais determinação do que tem sido feito até agora – na consideração da crise alimentar, muito mais grave do que a financeira. O tema da segurança das provisões alimentares voltou a ser central na agenda política internacional, por causa de crises relacionadas, para além do mais, com as bruscas oscilações do preço das matérias-primas agrícolas, com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes económicos e com um controle insuficiente por parte dos Governos e da comunidade internacional. Para enfrentar semelhante crise, os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objectivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua actividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e económico.<br />
<i><strong>Educação para uma cultura da paz: o papel da família e das instituições</strong></i><br />
6. Desejo veementemente reafirmar que os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.<br />
Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco. De modo especial, a família cristã guarda em si o primordial projecto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino. A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor.<br />
Nesta tarefa imensa de educar para a paz, estão envolvidas de modo particular as comunidades dos crentes. A Igreja toma parte nesta grande responsabilidade através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades. O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.<br />
Uma missão especial em prol da paz é desempenhada pelas instituições culturais, escolares e universitárias. Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais. Podem também contribuir para uma reflexão científica que radique as actividades económicas e financeiras numa sólida base antropológica e ética. O mundo actual, particularmente o mundo da política, necessita do apoio dum novo pensamento, duma nova síntese cultural, para superar tecnicismos e harmonizar as várias tendências políticas em ordem ao bem comum. Este, visto como conjunto de relações interpessoais e instituições positivas ao serviço do crescimento integral dos indivíduos e dos grupos, está na base de toda a verdadeira educação para a paz.<br />
<i><strong>Uma pedagogia do obreiro da paz</strong></i><br />
7. Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem comum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será « dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar », de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf.<i>Mt </i>5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança.<br />
Jesus encarna o conjunto destas atitudes na sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. <i>Mt </i>10, 39; <i>Lc </i>17, 33; <i>Jo </i>12, 25). E promete aos seus discípulos que chegarão, mais cedo ou mais tarde, a fazer a descoberta extraordinária de que falamos no início: no mundo, está presente Deus, o Deus de Jesus Cristo, plenamente solidário com os homens. Neste contexto, apraz-me lembrar a oração com que se pede a Deus para fazer de nós instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida. Por nossa vez pedimos a Deus, juntamente com o <a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/index_po.htm">Beato João XXIII</a>, que ilumine os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz; inflame a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua acção, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz.<br />
Com esta invocação, faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.<br />
<em>Vaticano, 8 de Dezembro de 2012.</em><br />
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<b>BENEDICTUS PP XVI</b></div>
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Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-18173043542869155182013-01-02T10:14:00.000-02:002013-01-02T10:14:26.144-02:00HOMILIA DO PAPA BENTO XVI-01/01/2013<br />
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<span style="color: #663300; font-size: medium;"><b><i>HOMILIA DO PAPA BENTO XVI</i></b></span><b><i><span style="color: #663300; font-size: medium;"></span></i></b></div>
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<i><span style="color: #663300;">Basílica Vaticana<br />Terça-feira, 1° de Janeiro de 2013</span></i></div>
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<em>Queridos irmãos e irmãs!</em></div>
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«Que Deus nos dê a sua graça e a sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós».<em> </em>Assim aclamamos com as palavras do Salmo 66, depois de termos escutado, na primeira leitura a antiga bênção sacerdotal sobre o povo da aliança. É particularmente significativo que, no início de cada ano novo Deus projete sobre nós, seu povo, o brilho do seu santo Nome, o Nome que é pronunciado três vezes na fórmula solene da bênção bíblica. Não menos significativo é o fato de que seja dado ao Verbo de Deus - que «se fez carne e habitou entre nós», como «a luz de verdade que ilumina todo ser humano» (<em>Jo</em> 1, 9.14) -, oito dias depois seu natal - como nos narra o Evangelho de hoje - o nome de Jesus (cf. <em>Lc</em> 2, 21).</div>
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É nesse nome que nós estamos aqui reunidos. Saúdo cordialmente todos os presentes, a começar pelos ilustres Embaixadores do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé. Saúdo com afeto o Cardeal Bertone, meu Secretário de Estado e ao Cardeal Turkson, com todos os membros do Conselho Pontifício Justiça e Paz; sou-lhes particularmente grato por seus esforços na difusão da Mensagem para o Dia Mundial da Paz, que este ano tem como tema “Bem-aventurados os obreiros da paz”.</div>
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Embora o mundo, infelizmente, ainda esteja marcado com «focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado», além de diversas formas de terrorismo e criminalidade, estou convencido de que «as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus. Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: “Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (<em>Mt</em> 5, 9)» (Mensagem, 1). Esta bem-aventurança «diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana.... é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação» (Ibid., 2 e 3). Sim, a paz é bem por excelência que deve ser invocado como um dom de Deus e, ao mesmo tempo, que deve ser construído com todo o esforço.</div>
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Podemos perguntar-nos: qual é o fundamento, a origem, a raiz dessa paz? Como podemos sentir em nós a paz, apesar dos problemas, da escuridão e das angústias? A resposta nos é dada pelas leituras da liturgia de hoje. Os textos bíblicos, a começar pelo Evangelho de Lucas, há pouco proclamado, nos propõe a contemplação da paz interior de Maria, a Mãe de Jesus. Durante os dias em que «deu à luz o seu filho primogênito» (<em>Lc</em> 2,7), Maria deve de afrontar muitos acontecimentos imprevistos: não só o nascimento do Filho, mas antes a árdua viagem de Nazaré à Belém; não encontrar um lugar no alojamento; a procura de um abrigo improvisado no meio da noite; e depois o cântico dos anjos, a visita inesperada dos pastores. Maria, no entanto, não se perturba com todos estes fatos, não se agita, não se abala com acontecimentos que lhe superam; Ela simplesmente considera, em silêncio, tudo quanto acontece, guardando na sua memória e no seu coração, refletindo com calma e serenidade. É esta é a paz interior que queremos ter em meio aos acontecimentos às vezes tumultuosos e confusos da história, acontecimentos cujo sentido muitas vezes não conseguimos compreender e que nos deixam abalados.</div>
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A passagem do Evangelho termina com uma menção à circuncisão de Jesus. Conforme a Lei de Moisés, oito dias após o nascimento, o menino devia ser circuncidado, e nesse momento lhe era dado o nome. O próprio Deus, através de seu mensageiro, dissera a Maria - e também a José – que o nome a ser dado para a criança era “Jesus” (cf. <em>Mt</em> 1, 21;<em> Lc </em>1, 31), e assim aconteceu. Aquele nome que Deus já tinha estabelecido antes mesmo que o Menino fosse concebido, lhe é dado oficialmente no momento da circuncisão. E isto marca definitivamente a identidade de Maria: ela é “a mãe de Jesus”, ou seja a mãe do Salvador, do Cristo, do Senhor. Jesus não é um homem como qualquer outro, mas é o Verbo de Deus, uma das Pessoas divinas, o Filho de Deus: por isso a Igreja deu a Maria o título de <em>Theotokos</em>, ou seja, “Mãe de Deus”.</div>
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A primeira leitura nos recorda que a paz é um dom de Deus e está ligada ao esplendor da face de Deus, de acordo com o texto do Livro dos Números, que transmite a bênção usada pelos sacerdotes do povo de Israel nas assembléias litúrgicas. Uma bênção que por três vezes repete o santo Nome de Deus, o nome impronunciável, ligando a cada repetição o santo Nome a dois verbos que indicam uma ação em favor do homem: «O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz» (6, 24-26). A paz é, portanto, o ponto culminante dessas seis ações de Deus em nosso favor, em que Ele nos dirige o esplendor da sua face.</div>
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Para a Sagrada Escritura, a contemplar a face de Deus é a felicidade suprema: «o cobristes de alegria em vossa face», diz o salmista (<em>Sl</em> 21, 7). Da contemplação da face de Deus nascem alegria, paz e segurança. Mas o que significa concretamente contemplar a face do Senhor, tal como se entende no Novo Testamento? Significa conhecê-Lo diretamente, tanto quanto é possível nesta vida, através de Jesus Cristo, no qual Deus se revelou. Deleitar-se com o esplendor da face de Deus significa penetrar no mistério de seu Nome manifestado a nós por Jesus, compreender algo da sua vida íntima e da sua vontade, para que possamos viver de acordo com seu designio de amor para a humanidade. O apóstolo Paulo expressa justamente isso na segunda leitura, da Carta aos Gálatas (4, 4-7), afirmando que do Espírito, que no íntimo dos nossos corações, clama: «Abá! Ó Pai». É o clamor que brota da contemplação da verdadeira face de Deus, da revelação do mistério do Nome. Jesus diz: «Manifestei o teu nome aos homens» (<em>Jo</em> 17, 6). O Filho de Deus feito carne nos deu a conhecer o Pai, nos fez perceber no seu rosto humano visível a face invisível do Pai; através do dom do Espírito Santo derramado em nossos corações, nos fez conhecer que n’Ele nós também somos filhos de Deus, como diz São Paulo na passagem que escutamos: «Porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá! Ó Pai» (<em>Gal</em> 4, 6).</div>
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Queridos irmãos e irmãs, eis o fundamento da nossa paz: a certeza de contemplar em Jesus Cristo o esplendor da face de Deus, de ser filhos no Filho e ter, assim, na estrada da vida, a mesma segurança que a criança sente nos braços de um Pai bom e onipotente. O esplendor da face do Senhor sobre nós, que nos dá a paz, é a manifestação da sua paternidade; o Senhor dirige sobre nós a sua face, se mostra como Pai e nos dá a paz. Aqui está o princípio daquela paz profunda - «paz com Deus» - que está intimamente ligada à fé e à graça, como escreve São Paulo aos cristãos de Roma (<em>Rm </em>5, 2). Nada pode tirar daqueles que creem esta paz, nem mesmo as dificuldades e os sofrimentos da vida. De fato, os sofrimentos, as provações e a escuridão não corroem, mas aumentam a nossa esperança, uma esperança que não decepciona, porque "o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (<em>Rm</em> 5, 5).</div>
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Que a Virgem Maria, que hoje veneramos com o título de Mãe de Deus, nos ajude a contemplar a face de Jesus, Príncipe da Paz. Que Ela nos ajude e nos acompanhe neste novo ano; que Ela obtenha para nós e para o mundo inteiro o dom da paz. Amém!</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-58454720633455714702012-12-31T19:44:00.000-02:002012-12-31T19:44:03.042-02:00JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE NO RIO DE JANEIRO, EM JULHO DE 2013<br />
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<em><strong><span class="style2"><span class="style4" style="color: #663300;">MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI<br />PARA A XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE<br />NO RIO DE JANEIRO, </span></span></strong></em><st1:personname productid="EM JULHO DE" w:st="on"><em><strong><span class="style3" style="color: #663300;">EM JULHO DE</span></strong></em></st1:personname><em><strong><span class="style3" style="color: #663300;"> 2013</span></strong></em></div>
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<br />
<div class="style1" style="text-align: center;">
<span class="style4" style="color: #663300;">«</span><span class="style5" style="color: #663300; font-style: italic;">Ide e fazei discípulos entre as nações!</span><span class="style4" style="color: #663300;">» (cf. </span><span class="style5" style="color: #663300; font-style: italic;">Mt</span><span class="style4" style="color: #663300;"> 28,19)</span></div>
<br />
<em>Queridos jovens,</em><br />
Desejo fazer chegar a todos vós minha saudação cheia de alegria e afeto. Tenho a certeza que muitos de vós regressastes a casa da <a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2011/index_madrid_po.htm">Jornada Mundial da Juventude em Madri</a> mais «enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé» (cf. <i>Col</i> 2,7). Este ano, inspirados pelo tema: <a href="http://www.vatican.va/gmg/documents/gmg_2012_po.html">«Alegrai-vos sempre no Senhor»</a> (<i>Fil</i> 4,4) celebramos a alegria de ser cristãos nas várias Dioceses. E agora estamo-nos preparando para a próxima Jornada Mundial, que será celebrada no Rio de Janeiro, Brasil, em julho de 2013.<br />
Desejo, em primeiro lugar, renovar a vós o convite para participardes nesse importante evento. A conhecida estátua do Cristo Redentor, que se eleva sobre àquela bela cidade brasileira, será o símbolo eloquente deste convite: seus braços abertos são o sinal da acolhida que o Senhor reservará a todos quantos vierem até Ele, e o seu coração retrata o imenso amor que Ele tem por cada um e cada uma de vós. Deixai-vos atrair por Ele! Vivei essa experiência de encontro com Cristo, junto com tantos outros jovens que se reunirão no Rio para o próximo encontro mundial! Deixai-vos amar por Ele e sereis as testemunhas de que o mundo precisa.<br />
Convido a vos preparardes para a Jornada Mundial do Rio de Janeiro, meditando desde já sobre o tema do encontro: «Ide e fazei discípulos entre as nações» (cf. <i>Mt</i> 28,19). Trata-se da grande exortação missionária que Cristo deixou para toda a Igreja e que permanece atual ainda hoje, dois mil anos depois. Agora este mandato deve ressoar fortemente em vosso coração. O ano de preparação para o encontro do Rio coincide com o <i><a href="http://www.vatican.va/special/annus_fidei/index_po.htm">Ano da fé</a></i>, no início do qual o<a href="http://www.vatican.va/roman_curia/synod/index_po.htm#XIII_Assembleia_Geral Ordinária_do_Sínodo_dos_Bispos">Sínodo dos Bispos dedicou os seus trabalhos à «nova evangelização para a transmissão da fé cristã»</a>. Por isso me alegro que também vós, queridos jovens, sejais envolvidos neste impulso missionário de toda a Igreja: fazer conhecer Cristo é o dom mais precioso que podeis fazer aos outros.<br />
<strong>1. </strong><i><strong>Uma chamada urgente</strong></i><br />
A história mostra-nos muitos jovens que, através do dom generoso de si mesmos, contribuíram grandemente para o Reino de Deus e para o desenvolvimento deste mundo, anunciando o Evangelho. Com grande entusiasmo, levaram a Boa Nova do Amor de Deus manifestado em Cristo, com meios e possibilidades muito inferiores àqueles de que dispomos hoje <st1:personname productid="em dia. Penso" w:st="on">em dia. Penso</st1:personname>, por exemplo, no Beato José de Anchieta, jovem jesuíta espanhol do século XVI, que partiu em missão para o Brasil quando tinha menos de vinte anos e se tornou um grande apóstolo do Novo Mundo. Mas penso também em tantos de vós que se dedicam generosamente à missão da Igreja: disto mesmo tive um testemunho surpreendente na <a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2011/index_madrid_po.htm">Jornada Mundial de Madri</a>, em particular na <a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2011/august/documents/hf_ben-xvi_spe_20110821_volontari-gmg-madrid_po.html">reunião com os voluntários</a>.<br />
Hoje, não poucos jovens duvidam profundamente que a vida seja um bem, e não veem com clareza o próprio caminho. De um modo geral, diante das dificuldades do mundo contemporâneo, muitos se perguntam: E eu, que posso fazer? A luz da fé ilumina esta escuridão, nos fazendo compreender que toda existência tem um valor inestimável, porque é fruto do amor de Deus. Ele ama mesmo quem se distanciou ou esqueceu d’Ele: tem paciência e espera; mais que isso, deu o seu Filho, morto e ressuscitado, para nos libertar radicalmente do mal. E Cristo enviou os seus discípulos para levar a todos os povos este alegre anúncio de salvação e de vida nova.<br />
A Igreja, para continuar esta missão de evangelização, conta também convosco. Queridos jovens, vós sois os primeiros missionários no meio dos jovens da vossa idade! No final do <a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/index_po.htm">Concílio Ecumênico Vaticano II</a>, cujo cinquentenário celebramos neste ano, o Servo de Deus Paulo VI entregou aos jovens e às jovens do mundo inteiro uma Mensagem que começava com estas palavras: «É a vós, rapazes e moças de todo o mundo, que o Concílio quer dirigir a sua última mensagem, pois sereis vós a recolher o facho das mãos dos vossos antepassados e a viver no mundo no momento das mais gigantescas transformações da sua história, sois vós quem, recolhendo o melhor do exemplo e do ensinamento dos vossos pais e mestres, ides constituir a sociedade de amanhã: salvar-vos-eis ou perecereis com ela». E concluía com um apelo: «Construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados!» (<i><a href="http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/speeches/1965/documents/hf_p-vi_spe_19651208_epilogo-concilio-giovani_po.html">Mensagem aos jovens</a></i>, 8 de dezembro de 1965).<br />
Queridos amigos, este convite é extremamente atual. Estamos passando por um período histórico muito particular: o progresso técnico nos deu oportunidades inéditas de interação entre os homens e entre os povos, mas a globalização destas relações só será positiva e fará crescer o mundo em humanidade se estiver fundada não sobre o materialismo mas sobre o amor, a única realidade capaz de encher o coração de cada um e unir as pessoas. Deus é amor. O homem que esquece Deus fica sem esperança e se torna incapaz de amar seu semelhante. Por isso é urgente testemunhar a presença de Deus para que todos possam experimentá-la: está em jogo a salvação da humanidade, a salvação de cada um de nós. Qualquer pessoa que entenda essa necessidade, não poderá deixar de exclamar com São Paulo: «Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho» (<i>1 Cor </i>9,16).<br />
<strong>2. </strong><i><strong>Tornai-vos discípulos de Cristo</strong></i><br />
Esta chamada missionária vos é dirigida também por outro motivo: é necessário para o nosso caminho de fé pessoal. O Beato João Paulo II escrevia: «É dando a fé que ela se fortalece» (Encíclica <i><a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_07121990_redemptoris-missio_po.html">Redemptoris missio</a></i>, 2). Ao anunciar o Evangelho, vós mesmos cresceis em um enraizamento cada vez mais profundo em Cristo, vos tornais cristãos maduros. O compromisso missionário é uma dimensão essencial da fé: não se crê verdadeiramente, se não se evangeliza. E o anúncio do Evangelho não pode ser senão consequência da alegria de ter encontrado Cristo e ter descoberto n’Ele a rocha sobre a qual construir a própria existência. Comprometendo-vos no serviço aos demais e no anúncio do Evangelho, a vossa vida, muitas vezes fragmentada entre tantas atividades diversas, encontrará no Senhor a sua unidade; construir-vos-eis também a vós mesmos; crescereis e amadurecereis em humanidade.<br />
Mas, que significa ser missionário? Significa acima de tudo ser discípulo de Cristo e ouvir sem cessar o convite a segui-Lo, o convite a fixar o olhar n’Ele: «Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração» (<i>Mt</i> 11,29). O discípulo, de fato, é uma pessoa que se põe à escuta da Palavra de Jesus (cf. <i>Lc</i> 10,39), a quem reconhece como o Mestre que nos amou até o dom de sua vida. Trata-se, portanto, de cada um de vós deixar-se plasmar diariamente pela Palavra de Deus: ela vos transformará em amigos do Senhor Jesus, capazes de fazer outros jovens entrar nesta mesma amizade com Ele.<br />
Aconselho-vos a guardar na memória os dons recebidos de Deus, para poder transmiti-los ao vosso redor. Aprendei a reler a vossa história pessoal, tomai consciência também do maravilhoso legado recebido das gerações que vos precederam: tantos cristãos nos transmitiram a fé com coragem, enfrentando obstáculos e incompreensões. Não o esqueçamos jamais! Fazemos parte de uma longa cadeia de homens e mulheres que nos transmitiram a verdade da fé e contam conosco para que outros a recebam. Ser missionário pressupõe o conhecimento deste patrimônio recebido que é a fé da Igreja: é necessário conhecer aquilo em que se crê, para podê-lo anunciar. Como escrevi na introdução do <i>YouCat</i>, o Catecismo para jovens que vos entreguei no <a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2011/index_madrid_po.htm">Encontro Mundial de Madri</a>, «tendes de conhecer a vossa fé como um especialista em informática domina o sistema operacional de um computador. Tendes de compreendê-la como um bom músico entende uma partitura. Sim, tendes de estar enraizados na fé ainda mais profundamente que a geração dos vossos pais, para enfrentar os desafios e as tentações deste tempo com força e determinação» (<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/letters/2011/documents/hf_ben-xvi_let_20110202_youcat_po.html">Prefácio</a>).<br />
<strong>3. </strong><i><strong>Ide!</strong></i><br />
Jesus enviou os seus discípulos em missão com este mandato: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo» (<i>Mc</i> 16,15-16). Evangelizar significa levar aos outros a Boa Nova da salvação, e esta Boa Nova é uma pessoa: Jesus Cristo. Quando O encontro, quando descubro até que ponto sou amado por Deus e salvo por Ele, nasce em mim não apenas o desejo, mas a necessidade de fazê-lo conhecido pelos demais. No início do Evangelho de João, vemos como André, depois de ter encontrado Jesus, se apressa em conduzir a Ele seu irmão Simão (cf. 1,40-42). A evangelização sempre parte do encontro com o Senhor Jesus: quem se aproximou d’Ele e experimentou o seu amor, quer logo partilhar a beleza desse encontro e a alegria que nasce dessa amizade. Quanto mais conhecemos a Cristo, tanto mais queremos anunciá-lo. Quanto mais falamos com Ele, tanto mais queremos falar d’Ele. Quanto mais somos conquistados por Ele, tanto mais desejamos levar outras pessoas para Ele.<br />
Pelo Batismo, que nos gera para a vida nova, o Espírito Santo vem habitar em nós e inflama a nossa mente e o nosso coração: é Ele que nos guia para conhecer a Deus e entrar em uma amizade sempre mais profunda com Cristo. É o Espírito que nos impulsiona a fazer o bem, servindo os outros com o dom de nós mesmos. Depois, através do sacramento da Confirmação, somos fortalecidos pelos seus dons, para testemunhar de modo sempre mais maduro o Evangelho. Assim, o Espírito de amor é a alma da missão: Ele nos impele a sair de nós mesmos para «ir» e evangelizar. Queridos jovens, deixai-vos conduzir pela força do amor de Deus, deixai que este amor vença a tendência de fechar-se no próprio mundo, nos próprios problemas, nos próprios hábitos; tende a coragem de «sair» de vós mesmos para «ir» ao encontro dos outros e guiá-los ao encontro de Deus.<br />
<strong>4. </strong><i><strong>Alcançai todos os povos</strong></i><br />
Cristo ressuscitado enviou os seus discípulos para dar testemunho de sua presença salvífica a todos os povos, porque Deus, no seu amor superabundante, quer que todos sejam salvos e ninguém se perca. Com o sacrifício de amor na Cruz, Jesus abriu o caminho para que todo homem e toda mulher possa conhecer a Deus e entrar em comunhão de amor com Ele. E constituiu uma comunidade de discípulos para levar o anúncio salvífico do Evangelho até os confins da terra, a fim de alcançar os homens e as mulheres de todos os lugares e de todos os tempos. Façamos nosso esse desejo de Deus!<br />
Queridos amigos, estendei o olhar e vede ao vosso redor: tantos jovens perderam o sentido da sua existência. Ide! Cristo precisa de também de vós. Deixai-vos envolver pelo seu amor, sede instrumentos desse amor imenso, para que alcance a todos, especialmente aos «afastados». Alguns encontram-se geograficamente distantes, enquanto outros estão longe porque a sua cultura não dá espaço para Deus; alguns ainda não acolheram o Evangelho pessoalmente, enquanto outros, apesar de o terem recebido, vivem como se Deus não existisse. A todos abramos a porta do nosso coração; procuremos entrar em diálogo com simplicidade e respeito: este diálogo, se vivido com uma amizade verdadeira, dará seus frutos. Os «povos», aos quais somos enviados, não são apenas os outros Países do mundo, mas também os diversos âmbitos de vida: as famílias, os bairros, os ambientes de estudo ou de trabalho, os grupos de amigos e os locais de lazer. O jubiloso anúncio do Evangelho se destina a todos os âmbitos da nossa vida, sem exceção.<br />
Gostaria de destacar dois campos, nos quais deve fazer-se ainda mais solícito o vosso empenho missionário. O primeiro é o das comunicações sociais, em particular o mundo da <i>internet</i>. Como tive já oportunidade de dizer-vos, queridos jovens, «senti-vos comprometidos a introduzir na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo os valores sobre os quais assenta a vossa vida! [...] A vós, jovens, que vos encontrais quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo particular a tarefa da evangelização deste “continente digital”» (<i><a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/communications/documents/hf_ben-xvi_mes_20090124_43rd-world-communications-day_po.html">Mensagem para o XLIII Dia Mundial das Comunicações Sociais</a></i>, 24 de maio de 2009). Aprendei, portanto, a usar com sabedoria este meio, levando em conta também os perigos que ele traz consigo, particularmente o risco da dependência, de confundir o mundo real com o virtual, de substituir o encontro e o diálogo direto com as pessoas por contatos na rede.<br />
O segundo campo é o da mobilidade. Hoje são sempre mais numerosos os jovens que viajam, seja por motivos de estudo ou de trabalho, seja por diversão. Mas penso também em todos os movimentos migratórios, que levam milhões de pessoas, frequentemente jovens, a se transferir e mudar de Região ou País, por razões econômicas ou sociais. Também estes fenômenos podem se tornar ocasiões providenciais para a difusão do Evangelho. Queridos jovens, não tenhais medo de testemunhar a vossa fé também nesses contextos: para aqueles com quem vos deparareis, é um dom precioso a comunicação da alegria do encontro com Cristo.<br />
<strong>5. </strong><i><strong>Fazei discípulos!</strong></i><br />
Penso que já várias vezes experimentastes a dificuldade de envolver os jovens da vossa idade na experiência da fé. Frequentemente tereis constatado que em muitos deles, especialmente em certas fases do caminho da vida, existe o desejo de conhecer a Cristo e viver os valores do Evangelho, mas tal desejo é acompanhado pela sensação de ser inadequados e incapazes. Que fazer? Em primeiro lugar, a vossa solicitude e a simplicidade do vosso testemunho serão um canal através do qual Deus poderá tocar seu coração. O anúncio de Cristo não passa somente através das palavras, mas deve envolver toda a vida e traduzir-se em gestos de amor. A ação de evangelizar nasce do amor que Cristo infundiu em nós; por isso, o nosso amor deve conformar-se sempre mais ao d’Ele. Como o bom Samaritano, devemos manter-nos solidários com quem encontramos, sabendo escutar, compreender e ajudar, para conduzir, quem procura a verdade e o sentido da vida, à casa de Deus que é a Igreja, onde há esperança e salvação (cf. <i>Lc</i> 10,29-37). Queridos amigos, nunca esqueçais que o primeiro ato de amor que podeis fazer ao próximo é partilhar a fonte da nossa esperança: quem não dá Deus, dá muito pouco. Aos seus apóstolos, Jesus ordena: «Fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei» (<i>Mt</i> 28,19-20). Os meios que temos para «fazer discípulos» são principalmente o Batismo e a catequese. Isto significa que devemos conduzir as pessoas que estamos evangelizando ao encontro com Cristo vivo, particularmente na sua Palavra e nos Sacramentos: assim poderão crer n’Ele, conhecerão a Deus e viverão da sua graça. Gostaria que cada um de vós se perguntasse: Alguma vez tive a coragem de propor o Batismo a jovens que ainda não o receberam? Convidei alguém a seguir um caminho de descoberta da fé cristã? Queridos amigos, não tenhais medo de propor aos jovens da vossa idade o encontro com Cristo. Invocai o Espírito Santo: Ele vos guiará para entrardes sempre mais no conhecimento e no amor de Cristo, e vos tornará criativos na transmissão do Evangelho.<br />
<strong>6. </strong><i><strong>Firmes na fé</strong></i><br />
Diante das dificuldades na missão de evangelizar, às vezes sereis tentados a dizer como o profeta Jeremias: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Mas, também a vós, Deus responde: «Não digas que és muito novo; a todos a quem eu te enviar, irás» (<i>Jr</i> 1,6-7). Quando vos sentirdes inadequados, incapazes e frágeis para anunciar e testemunhar a fé, não tenhais medo. A evangelização não é uma iniciativa nossa nem depende primariamente dos nossos talentos, mas é uma resposta confiante e obediente à chamada de Deus, e portanto não se baseia sobre a <i>nossa</i> força, mas na <i>d’Ele</i>. Isso mesmo experimentou o apóstolo Paulo: «Trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós» (<i>2 Cor</i> 4,7).<br />
Por isso convido-vos a enraizar-vos na oração e nos sacramentos. A evangelização autêntica nasce sempre da oração e é sustentada por esta: para poder falar de Deus, devemos primeiro falar com Deus. E, na oração, confiamos ao Senhor as pessoas às quais somos enviados, suplicando-Lhe que toque o seu coração; pedimos ao Espírito Santo que nos torne seus instrumentos para a salvação dessas pessoas; pedimos a Cristo que coloque as palavras nos nossos lábios e faça de nós sinais do seu amor. E, de modo mais geral, rezamos pela missão de toda a Igreja, de acordo com a ordem explícita de Jesus: «Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!» (<i>Mt</i> 9,38). Sabei encontrar na Eucaristia a fonte da vossa vida de fé e do vosso testemunho cristão, participando com fidelidade na Missa ao domingo e sempre que possível também durante a semana. Recorrei frequentemente ao sacramento da Reconciliação: é um encontro precioso com a misericórdia de Deus que nos acolhe, perdoa e renova os nossos corações na caridade. E, se ainda não o recebestes, não hesiteis em receber o sacramento da Confirmação ou Crisma preparando-vos com cuidado e solicitude. Junto com a Eucaristia, esse é o sacramento da missão, porque nos dá a força e o amor do Espírito Santo para professar sem medo a fé. Encorajo-vos ainda à prática da adoração eucarística: permanecer à escuta e em diálogo com Jesus presente no Santíssimo Sacramento, torna-se ponto de partida para um renovado impulso missionário.<br />
Se seguirdes este caminho, o próprio Cristo vos dará a capacidade de ser plenamente fiéis à sua Palavra e de testemunhá-Lo com lealdade e coragem. Algumas vezes sereis chamados a dar provas de perseverança, particularmente quando a Palavra de Deus suscitar reservas ou oposições. Em certas regiões do mundo, alguns de vós sofrem por não poder testemunhar publicamente a fé em Cristo, por falta de liberdade religiosa. E há quem já tenha pagado com a vida o preço da própria pertença à Igreja. Encorajo-vos a permanecer firmes na fé, certos de que Cristo está ao vosso lado em todas as provas. Ele vos repete: «Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus» (<i>Mt</i>5,11-12).<br />
<strong>7. </strong><i><strong>Com toda a Igreja</strong></i><br />
Queridos jovens, para permanecer firmes na confissão da fé cristã nos vários lugares onde sois enviados, precisais da Igreja. Ninguém pode ser testemunha do Evangelho sozinho. Jesus enviou em missão os seus discípulos juntos: o mandato «fazei discípulos» é formulado no plural. Assim, é sempre como membros da comunidade cristã que prestamos o nosso testemunho, e a nossa missão torna-se fecunda pela comunhão que vivemos na Igreja: seremos reconhecidos como discípulos de Cristo pela unidade e o amor que tivermos uns com os outros (cf. <i>Jo</i> 13,35). Agradeço ao Senhor pela preciosa obra de evangelização que realizam as nossas comunidades cristãs, as nossas paróquias, os nossos movimentos eclesiais. Os frutos desta evangelização pertencem a toda a Igreja: «um é o que semeia e outro o que colhe», dizia Jesus (<i>Jo </i>4,37).<br />
A propósito, não posso deixar de dar graças pelo grande dom dos missionários, que dedicam toda a sua vida ao anúncio do Evangelho até os confins da terra. Do mesmo modo bendigo o Senhor pelos sacerdotes e os consagrados, que ofertam inteiramente as suas vidas para que Jesus Cristo seja anunciado e amado. Desejo aqui encorajar os jovens chamados por Deus a alguma dessas vocações, para que se comprometam com entusiasmo: «Há mais alegria em dar do que em receber!» (<i>At</i> 20,35). Àqueles que deixam tudo para segui-Lo, Jesus prometeu o cêntuplo e a vida eterna (cf. <i>Mt</i> 19,29).<br />
Dou graças também por todos os fiéis leigos que se empenham por viver o seu dia-a-dia como missão, nos diversos lugares onde se encontram, tanto em família como no trabalho, para que Cristo seja amado e cresça o Reino de Deus. Penso particularmente em quantos atuam no campo da educação, da saúde, do mundo empresarial, da política e da economia, e em tantos outros âmbitos do apostolado dos leigos. Cristo precisa do vosso empenho e do vosso testemunho. Que nada – nem as dificuldades, nem as incompreensões – vos faça renunciar a levar o Evangelho de Cristo aos lugares onde vos encontrais: cada um de vós é precioso no grande mosaico da evangelização!<br />
<strong>8. «</strong><i><strong>Aqui estou, Senhor!</strong></i>»<br />
Em suma, queridos jovens, queria vos convidar a escutar no íntimo de vós mesmos a chamada de Jesus para anunciar o seu Evangelho. Como mostra a grande estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, o seu coração está aberto para amar a todos sem distinção, e seus braços estendidos para alcançar a cada um. Sede vós o coração e os braços de Jesus. Ide testemunhar o seu amor, sede os novos missionários animados pelo seu amor e acolhimento. Segui o exemplo dos grandes missionários da Igreja, como São Francisco Xavier e muitos outros.<br />
No final da <a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2011/index_madrid_po.htm">Jornada Mundial da Juventude em Madri</a>, dei a bênção a alguns jovens de diferentes continentes que partiam <st1:personname productid="em miss ̄o. Representavam" w:st="on">em missão. Representavam</st1:personname> a multidão de jovens que, fazendo eco às palavras do profeta Isaías, diziam ao Senhor: «Aqui estou! Envia-me» (<i>Is</i> 6,8). A Igreja tem confiança em vós e vos está profundamente grata pela alegria e o dinamismo que trazeis: usai os vossos talentos generosamente ao serviço do anúncio do Evangelho. Sabemos que o Espírito Santo se dá a quantos, com humildade de coração, se tornam disponíveis para tal anúncio. E não tenhais medo! Jesus, Salvador do mundo, está conosco todos os dias, até o fim dos tempos (cf. <i>Mt</i> 28,20).<br />
Dirigido aos jovens de toda a terra, este apelo assume uma importância particular para vós, queridos jovens da América Latina. De fato, na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Aparecida, no ano de 2007, os bispos lançaram uma «missão continental». E os jovens, que constituem a maioria da população naquele continente, representam uma força importante e preciosa para a Igreja e para a sociedade. Por isso sede vós os primeiros missionários. Agora que a <a href="http://www.vatican.va/gmg/documents/index_po.html">Jornada Mundial da Juventude</a> retorna à América Latina, exorto todos os jovens do continente: transmiti aos vossos coetâneos do mundo inteiro o entusiasmo da vossa fé.<br />
A Virgem Maria, Estrela da Nova Evangelização, também invocada sob os títulos de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Guadalupe, acompanhe cada um de vós em vossa missão de testemunhas do amor de Deus. A todos, com especial carinho, concedo a minha Bênção Apostólica.<br />
<em>Vaticano, 18 de outubro de 2012.</em><br />
<br />
<div class="style1" style="text-align: center;">
<strong>BENEDICTUS PP XVI</strong></div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-11285703716452287962012-12-29T16:16:00.002-02:002012-12-29T16:16:46.331-02:00SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR<br />
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<b><i><span style="color: #663300; font-size: medium;">HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI</span></i></b></div>
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<i><span style="color: #663300;">Basílica Vaticana<br />24 de Dezembro de 2012</span></i></div>
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<br /></div>
<i>Amados irmãos e irmãs!</i><br />
A beleza deste Evangelho não cessa de tocar o nosso coração: uma beleza que é esplendor da verdade. Não cessa de nos comover o facto de Deus Se ter feito menino, para que nós pudéssemos amá-Lo, para que ousássemos amá-Lo, e, como menino, Se coloca confiadamente nas nossas mãos. Como se dissesse: Sei que o meu esplendor te assusta, que à vista da minha grandeza procuras impor-te a ti mesmo. Por isso venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar.<br />
Sempre de novo me toca também a palavra do evangelista, dita quase de fugida, segundo a qual não havia lugar para eles na hospedaria. Inevitavelmente se põe a questão de saber como reagiria eu, se Maria e José batessem à minha porta. Haveria lugar para eles? E recordamos então que esta notícia, aparentemente casual, da falta de lugar na hospedaria que obriga a Sagrada Família a ir para o estábulo, foi aprofundada e referida na sua essência pelo evangelista João nestes termos: «Veio para o que era Seu, e os Seus não O acolheram» (<i>Jo</i> 1, 11). Deste modo, a grande questão moral sobre o modo como nos comportamos com os prófugos, os refugiados, os imigrantes ganha um sentido ainda mais fundamental: Temos verdadeiramente lugar para Deus, quando Ele tenta entrar em nós? Temos tempo e espaço para Ele? Porventura não é ao próprio Deus que rejeitamos? Isto começa pelo facto de não termos tempo para Deus. Quanto mais rapidamente nos podemos mover, quanto mais eficazes se tornam os meios que nos fazem poupar tempo, tanto menos tempo temos disponível. E Deus? O que diz respeito a Ele nunca parece uma questão urgente. O nosso tempo já está completamente preenchido. Mas vejamos o caso ainda mais em profundidade. Deus tem verdadeiramente um lugar no nosso pensamento? A metodologia do nosso pensamento está configurada de modo que, no fundo, Ele não deva existir. Mesmo quando parece bater à porta do nosso pensamento, temos de arranjar qualquer raciocínio para O afastar; o pensamento, para ser considerado «sério», deve ser configurado de modo que a «hipótese Deus» se torne supérflua. E também nos nossos sentimentos e vontade não há espaço para Ele. Queremo-nos a nós mesmos, queremos as coisas que se conseguem tocar, a felicidade que se pode experimentar, o sucesso dos nossos projectos pessoais e das nossas intenções. Estamos completamente «cheios» de nós mesmos, de tal modo que não resta qualquer espaço para Deus. E por isso não há espaço sequer para os outros, para as crianças, para os pobres, para os estrangeiros. A partir duma frase simples como esta sobre o lugar inexistente na hospedaria, podemos dar-nos conta da grande necessidade que há desta exortação de São Paulo: «Transformai-vos pela renovação da vossa mente» (<i>Rm</i> 12, 2). Paulo fala da renovação, da abertura do nosso intelecto (<i>nous</i>); fala, em geral, do modo como vemos o mundo e a nós mesmos. A conversão, de que temos necessidade, deve chegar verdadeiramente até às profundezas da nossa relação com a realidade. Peçamos ao Senhor para que nos tornemos vigilantes quanto à sua presença, para que ouçamos como Ele bate, de modo suave mas insistente, à porta do nosso ser e da nossa vontade. Peçamos para que se crie, no nosso íntimo, um espaço para Ele e possamos, deste modo, reconhecê-Lo também naqueles sob cujas vestes vem ter connosco: nas crianças, nos doentes e abandonados, nos marginalizados e pobres deste mundo.<br />
Na narração do Natal, há ainda outro ponto que gostava de reflectir juntamente convosco: o hino de louvor que os anjos entoam depois de anunciar o Salvador recém-nascido: «Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens do seu agrado». Deus é glorioso. Deus é pura luz, esplendor da verdade e do amor. Ele é bom. É o verdadeiro bem, o bem por excelência. Os anjos que O rodeiam transmitem, primeiro, a pura e simples alegria pela percepção da glória de Deus. O seu canto é uma irradiação da alegria que os inunda. Nas suas palavras, sentimos, por assim dizer, algo dos sons melodiosos do céu. No canto, não está subjacente qualquer pergunta sobre a finalidade; há simplesmente o facto de transbordarem da felicidade que deriva da percepção do puro esplendor da verdade e do amor de Deus. Queremos deixar-nos tocar por esta alegria: existe a verdade; existe a pura bondade; existe a luz pura. Deus é bom; Ele é o poder supremo que está acima de todos os poderes. Nesta noite, deveremos simplesmente alegrar-nos por este facto, juntamente com os anjos e os pastores.<br />
E, com a glória de Deus nas alturas, está relacionada a paz na terra entre os homens. Onde não se dá glória a Deus, onde Ele é esquecido ou até mesmo negado, também não há paz. Hoje, porém, há correntes generalizadas de pensamento que afirmam o contrário: as religiões, mormente o monoteísmo, seriam a causa da violência e das guerras no mundo; primeiro seria preciso libertar a humanidade das religiões, para se criar então a paz; o monoteísmo, a fé no único Deus, seria prepotência, causa de intolerância, porque pretenderia, fundamentado na sua própria natureza, impor-se a todos com a pretensão da verdade única. É verdade que, na história, o monoteísmo serviu de pretexto para a intolerância e a violência. É verdade que uma religião pode adoecer e chegar a contrapor-se à sua natureza mais profunda, quando o homem pensa que deve ele mesmo deitar mão à causa de Deus, fazendo assim de Deus uma sua propriedade privada. Contra estas deturpações do sagrado, devemos estar vigilantes. Se é incontestável algum mau uso da religião na história, não é verdade que o «não» a Deus restabeleceria a paz. Se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então, este deixa de ser a imagem de Deus, que devemos honrar em todos e cada um, no fraco, no estrangeiro, no pobre. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros. Os tipos de violência arrogante que aparecem então com o homem a desprezar e a esmagar o homem, vimo-los, em toda a sua crueldade, no século passado. Só quando a luz de Deus brilha sobre o homem e no homem, só quando cada homem é querido, conhecido e amado por Deus, só então, por mais miserável que seja a sua situação, a sua dignidade é inviolável. Na Noite Santa, o próprio Deus Se fez homem, como anunciara o profeta Isaías: o menino nascido aqui é «<i>Emmanuel</i> – Deus-connosco» (cf. <i>Is</i> 7, 14). E verdadeiramente, no decurso de todos estes séculos, não houve apenas casos de mau uso da religião; mas, da fé no Deus que Se fez homem, nunca cessou de brotar forças de reconciliação e magnanimidade. Na escuridão do pecado e da violência, esta fé fez entrar um raio luminoso de paz e bondade que continua a brilhar.<br />
Assim, Cristo é a nossa paz e anunciou a paz àqueles que estavam longe e àqueles que estavam perto (cf. <i>Ef</i> 2, 14.17). Quanto não deveremos nós suplicar-Lhe nesta hora! Sim, Senhor, anunciai a paz também hoje a nós, tanto aos que estão longe como aos que estão perto. Fazei que também hoje das espadas se forjem foices (cf. <i>Is</i> 2, 4), que, em vez dos armamentos para a guerra, apareçam ajudas para os enfermos. Iluminai a quantos acreditam que devem praticar violência em vosso nome, para que aprendam a compreender o absurdo da violência e a reconhecer o vosso verdadeiro rosto. Ajudai a tornarmo-nos homens «do vosso agrado»: homens segundo a vossa imagem e, por conseguinte, homens de paz.<br />
Logo que os anjos se afastaram, os pastores disseram uns para os outros: Coragem! Vamos até lá, a Belém, e vejamos esta palavra que nos foi mandada (cf. <i>Lc</i> 2, 15). Os pastores puseram-se apressadamente a caminho para Belém – diz-nos o evangelista (cf. 2, 16). Uma curiosidade santa os impelia, desejosos de verem numa manjedoura este menino, de quem o anjo tinha dito que era o Salvador, o Messias, o Senhor. A grande alegria, de que o anjo falara, apoderara-se dos seus corações e dava-lhes asas.<br />
Vamos até lá, a Belém: diz-nos hoje a liturgia da Igreja. <i>Trans-eamus </i>– lê-se na Bíblia latina – «atravessar», ir até lá, ousar o passo que vai mais além, que faz a «travessia», saindo dos nossos hábitos de pensamento e de vida e ultrapassando o mundo meramente material para chegarmos ao essencial, ao além, rumo àquele Deus que, por sua vez, viera ao lado de cá, para nós. Queremos pedir ao Senhor que nos dê a capacidade de ultrapassar os nossos limites, o nosso mundo; que nos ajude a encontrá-Lo, sobretudo no momento em que Ele mesmo, na Santa Eucaristia, Se coloca nas nossas mãos e no nosso coração.<br />
Vamos até lá, a Belém! Ao dizermos estas palavras uns aos outros, como fizeram os pastores, não devemos pensar apenas na grande travessia até junto do Deus vivo, mas também na cidade concreta de Belém, em todos os lugares onde o Senhor viveu, trabalhou e sofreu. Rezemos nesta hora pelas pessoas que actualmente vivem e sofrem lá. Rezemos para que lá haja paz. Rezemos para que Israelitas e Palestinianos possam conduzir a sua vida na paz do único Deus e na liberdade. Peçamos também pelos países vizinhos – o Líbano, a Síria, o Iraque, etc. – para que lá se consolide a paz. Que os cristãos possam conservar a sua casa naqueles países onde teve origem a nossa fé; que cristãos e muçulmanos construam, juntos, os seus países na paz de Deus.<br />
Os pastores apressaram-se… Uma curiosidade santa e uma santa alegria os impelia. No nosso caso, talvez aconteça muito raramente que nos apressemos pelas coisas de Deus. Hoje, Deus não faz parte das realidades urgentes. As coisas de Deus – assim o pensamos e dizemos – podem esperar. E todavia Ele é a realidade mais importante, o Único que, em última análise, é verdadeiramente importante. Por que motivo não deveríamos também nós ser tomados pela curiosidade de ver mais de perto e conhecer o que Deus nos disse? Supliquemos-Lhe para que a curiosidade santa e a santa alegria dos pastores nos toquem nesta hora também a nós e assim vamos com alegria até lá, a Belém, para o Senhor que hoje vem de novo para nós. Amen.<br />
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Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-75925823205575214282012-11-03T08:56:00.000-02:002012-11-03T08:56:26.573-02:00É NA COMUNIDADE ECLESIAL QUE A FÉ PESSOAL CRESCE E AMADURECE<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
É NA COMUNIDADE ECLESIAL QUE A FÉ PESSOAL CRESCE E AMADURECE.</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>Bento XVI prossegue a catequese sobre a fé durante a Audiência Geral</b></div>
<div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="font-size: 1em; line-height: 1.6em;"><br /></span></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="font-size: 1em; line-height: 1.6em;">CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 31 de outubro de 2012.</span></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Queridos irmãos e irmãs,</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Continuamos no nosso caminho de meditação sobre a fé católica. Na semana passada mostrei como a fé é um dom, porque é Deus quem toma a iniciativa e vem ao nosso encontro; e assim a fé é uma resposta com a qual nós O acolhemos como fundamento estável da nossa vida. É um dom que transforma a existência, porque nos faz entrar na mesma visão de Jesus, que opera em nós e nos abre ao amor a Deus e aos outros. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Hoje gostaria de dar outro passo em nossa reflexão, começando mais uma vez, por algumas perguntas: a fé tem um caráter somente pessoal, individual? Interessa somente a minha pessoa? Vivo a minha fé sozinho? Certo, o ato de fé é um ato eminentemente pessoal, que vem do íntimo mais profundo e sinaliza uma troca de direção, uma conversão pessoal: é a minha existência que recebe uma mudança, uma orientação nova. Na Liturgia do Batismo, no momento das promessas, o celebrante pede para manifestar a fé católica e formula três perguntas: crês em Deus Pai onipotente? Crês em Jesus Cristo seu único Filho? Crês no Espírito Santo? Antigamente, estas perguntas eram voltadas pessoalmente àqueles quem iriam receber o Batismo, antes que se imergisse por três vezes na água. E também hoje a resposta é no singular: ‘Creio’. Mas este meu crer não é resultado de uma reflexão minha, solitária, não é o produto de um pensamento meu, mas é fruto de uma relação, de um diálogo, no qual tem um escutar, um receber e um responder; é o comunicar com Jesus que me faz sair do meu “eu” fechado em mim mesmo para abrir-me ao amor de Deus Pai. É como um renascimento no qual me descubro unido não somente a Jesus, mas também a todos aqueles que caminharam e caminham pela mesma via; e este novo nascimento, que inicia com o Batismo, continua por todo o percurso da existência. Não posso construir a minha fé pessoal em um diálogo privado com Jesus, porque a fé é doada a mim por Deus através de uma comunidade que crê que é a Igreja e me insere assim na multidão dos crentes em uma comunhão que não é somente sociológica, mas enraizada no amor eterno de Deus, que em Si mesmo é comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é Amor trinitário. A nossa fé é realmente pessoal, somente se é também comunitária: pode ser a minha fé somente se vive e se move no “nós” da Igreja, só se a nossa fé é, a fé comum da única Igreja.<strong><br /></strong><br />Aos domingos, na Santa Missa, recitando o “Credo”, nós nos expressamos em primeira pessoa, mas confessamos comunitariamente a única fé da Igreja. Aquele “credo” pronunciado singularmente nos une àquele de um imenso coro no tempo e no espaço, no qual cada um contribui, por assim dizer, a uma harmoniosa polifonia na fé. O <em>Catecismo da Igreja Católica </em>resume de modo claro assim: “‘Crer’ é um ato eclesial. A fé da Igreja antecede, gera, sustenta e nutre a nossa fé. A Igreja é a Mãe de todos os crentes. ‘Ninguém pode dizer que tem Deus como Pai, se não tem a Igreja como Mãe’ [são Cipriano]” (n. 181). Então, a fé nasce na Igreja, conduz a essa e vive nessa. Isso é importante recordar. <strong><br /></strong><br />Nos começos da aventura cristã, quando o Espírito Santo desce com potência sobre os discípulos, no dia de Pentecoste – como narram os <em>Atos dos Apóstolos</em> (cfr 2, 1-13) – a Igreja nascente recebe a força para implementar a missão confiada pelo Senhor Ressuscitado: difundir em cada canto da terra o Evangelho, a boa nova do Reino de Deus, e conduzir, assim, cada homem ao encontro com Ele, à fé que salva. Os Apóstolos superam todo o medo ao proclamar o que tinham escutado, visto e experimentado pessoalmente com Jesus. Pela potência do Espírito Santo, começam a falar em línguas novas, anunciando abertamente o mistério do qual foram testemunhas. Nos <em>Atos dos Apóstolos</em> nos vem relatado o grande discurso que Pedro pronuncia exatamente no dia de Pentecoste. Ele parte de uma passagem do profeta Joel (3, 1-5), referindo-se a Jesus, e proclamando o núcleo central da fé cristã: Aquele que tinha beneficiado todos, que tinha sido creditado por Deus com milagres e grandes sinais, foi pregado na cruz e morto, mas Deus o ressuscitou dos mortos, constituindo-lhe Senhor e Cristo. Com Ele entramos na salvação definitiva anunciada pelos profetas e quem invocar o seu nome será salvo (cfr At 2,17-24). Escutando estas palavras de Pedro, muitos se sentem pessoalmente desafiados, se arrependem de seus pecados e são batizados recebendo o dom do Espírito Santo (cfr At 2, 37-41). Assim começa o caminho da Igreja, comunidade que leva este anúncio no tempo e no espaço, comunidade que é o Povo de Deus fundado na nova aliança graças ao sangue de Cristo e cujos membros não pertencem a um determinado grupo social ou étnico, mas são homens e mulheres provenientes de toda nação e cultura. É um povo “católico”, que fala línguas novas, universalmente aberto a acolher a todos, além de todos os confins, quebrando todas as barreiras. Diz São Paulo: “Aqui não há grego ou judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cidadão, escravo, livre, mas Cristo é tudo em todos” (Col 3,11).<br /><br />A Igreja, portanto, desde o início é o lugar da fé, o lugar da transmissão da fé, o lugar onde, pelo Batismo, se é imersa no Mistério Pascal da Morte e Ressurreição de Cristo, que nos liberta da escravidão do pecado, nos doa a liberdade de filhos e nos introduz da comunhão com o Deus Trinitário. Ao mesmo tempo, somos imersos na comunhão com os outros irmãos e irmãs de fé, com todo o Corpo de Cristo, retirados do nosso isolamento. O Concílio Ecumênico Vaticano II o recorda: “Deus quis salvar e santificar os homens não individualmente e sem qualquer ligação entre eles, mas quis constituir deles um povo, que o reconhecesse na verdade e fielmente O servisse” (Cost. dogm. <em>Lumen gentium</em>, 9). Recordando ainda a liturgia do Batismo, notamos que, na conclusão das promessas em que expressamos a renúncia ao mal e repetimos “creio” na verdade da fé, o celebrante declara: “Esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja e nós nos glorificamos de professá-la em Cristo Jesus Nosso Senhor”. A fé é virtude teologal, doada por Deus, mas transmitida pela Igreja ao longo da história. São Paulo mesmo, escrevendo aos Coríntios, afirma ter comunicado a eles o Evangelho que por sua vez também ele tinha recebido (cfr 1 Cor 15,3).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Há uma cadeia ininterrupta de vida da Igreja, de anúncio da Palavra de Deus, de celebração dos Sacramentos, que chega a nós e que chamamos de Tradição. Essa nos dá a garantia de que aquilo em que acreditamos é a mensagem original de Cristo, pregada pelos apóstolos. O núcleo do anúncio primordial é o evento da morte e ressurreição do Senhor, do qual decorre todo o patrimônio da fé. Diz o Concílio: "A pregação apostólica, que está expressa de modo especial nos livros inspirados, devia ser repassada com sucessão contínua até o fim dos tempos" (Constituição dogmática. <em>Dei Verbum</em>, 8). Deste modo, se a Sagrada Escritura contém a Palavra de Deus, a Tradição da Igreja a preserva e a transmite com fidelidade, para que os homens de cada época possam ter acesso a seus imensos recursos e se enriqueçam de seus tesouros de graça. Assim, a Igreja, "em sua doutrina, em sua vida e em seu culto transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo em que acredita" (<em>ibidem</em>).<strong><br /></strong><br />Gostaria, por fim, de ressaltar que é na comunidade eclesial que a fé pessoal cresce e amadurece. É interessante observar que no Novo Testamento, a palavra "santos" designa os cristãos no seu conjunto e, certamente, não todos tinham as qualidades para ser declarado santo pela Igreja. O que se queria indicar, então, com este termo? O fato de que aqueles que viviam a fé em Cristo ressuscitado eram chamados a se tornar um ponto de referência para todos os outros, colocando-os em contato com a Pessoa e com a Mensagem de Jesus, que revela a face do Deus vivo. E isso vale também para nós: um cristão que se deixa guiar e plasmar pouco a pouco pela fé da Igreja, apesar de suas fraquezas, suas limitações e suas dificuldades, torna-se como uma janela aberta à luz do Deus vivo, que recebe essa luz e a transmite ao mundo. O Beato João Paulo II, na Encíclica <em>Redemptoris missio</em>, afirmava que "a missão renova a Igreja, revigora a fé e a identidade cristã, dá novo entusiasmo e novas motivações. A fé se fortalece doando. "(n. 2).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A tendência, hoje difundida, de relegar a fé ao âmbito privado, contradiz então, a sua própria natureza. Nós precisamos da Igreja para ter a confirmação da nossa fé e para ter experiência com os dons de Deus: a Sua Palavra, os Sacramentos, o sustento da graça e o testemunho do amor. Assim, o nosso "eu" no "nós" da Igreja poderá ser percebido, ao mesmo tempo, destinatário e protagonista de um evento que o supera: a experiência da comunhão com Deus, que estabelece a comunhão entre as pessoas. Em um mundo onde o individualismo parece regular as relações entre as pessoas, tornando-as sempre mais frágeis, a fé nos chama a ser povo de Deus, a ser Igreja, portadores do amor e da comunhão de Deus para todo gênero humano. (ver Constituição Pastoral. Gaudium et spes, 1). Obrigado pela atenção.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>O Papa dirigiu a seguinte saudação em português:</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, especialmente os fiéis vindos de São Tomé e Príncipe e os grupos de brasileiros, de Imperatriz, Toledo e Guaxupé. Deixai-vos plasmar pela fé da Igreja, pois esta, apesar das dificuldades, fará de vós janelas abertas para a luz Deus, de modo que a recebendo, possais transmiti-la ao mundo. Obrigado pela vossa presença!</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-8422243057178610852012-11-03T08:46:00.000-02:002012-11-03T08:46:34.313-02:00"MIGRAÇÕES: PEREGRINAÇÃO DE FÉ E DE ESPERANÇA"<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
"MIGRAÇÕES: PEREGRINAÇÃO DE FÉ E DE ESPERANÇA"</h1>
<br /><div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>Mensagem de Bento XVI para o dia mundial do migrante e do refugiado</b></div>
<div id="article" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em;">CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 30 de outubro de 2012</span><span style="font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em;">.</span></div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
"Migrações: peregrinação de fé e de esperança"</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Queridos irmãos e irmãs!</em></div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Na Constituição pastoral <em><a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Gaudium et spes</a></em>, o Concílio Ecuménico Vaticano II recordou que «a Igreja caminha juntamente com toda a humanidade» (n. 40), pelo que «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração» <em>(ibid.,</em>1). Na linha destas afirmações, o Servo de Deus Paulo VI designou a Igreja como sendo «perita em humanidade» (Enc. <em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_26031967_populorum_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Populorum progressio</a>, </em>13), e o Beato João Paulo II escreveu que a pessoa humana é «o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer na realização da sua missão (...), caminho traçado pelo próprio Cristo» (Enc. <em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_01051991_centesimus-annus_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Centesimus annus</a>, </em>53). Na esteira dos meus Predecessores, quis especificar –na Encíclica <em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Caritas in veritate</a></em> – que «a Igreja inteira, em todo o seu ser e agir, quando anuncia, celebra e actua na caridade, tende a promover o desenvolvimento integral do homem» (n. 11), referindo-me também aos milhões de homens e mulheres que, por diversas razões, vivem a experiência da emigração. Na verdade, os fluxos migratórios são «um fenómeno impressionante pela quantidade de pessoas envolvidas, pelas problemáticas sociais, económicas, políticas, culturais e religiosas que levanta, pelos desafios dramáticos que coloca à comunidade nacional e internacional» <em>(<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">ibid</a>., </em>62), porque «todo o migrante é uma pessoa humana e, enquanto tal, possui direitos fundamentais inalienáveis que hão-de ser respeitados por todos em qualquer situação» <em>(<a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">ibidem</a></em>).</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Neste contexto, em concomitância com as celebrações do cinquentenário da abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II e do sexagésimo aniversário da promulgação da Constituição apostólica <em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19520801_exsul-familia_lt.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Exsul familia</a></em> e quando toda a Igreja está comprometida na vivência do <em><a href="http://www.vatican.va/special/annus_fidei/index_po.htm" style="color: #011287; text-decoration: none;">Ano da Fé</a></em> abraçando com entusiasmo o desafio da nova evangelização, quis dedicar a Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado de 2013 ao tema «Migrações: peregrinação de fé e de esperança».</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Na realidade, fé e esperança formam um binómio indivisível no coração de muitos migrantes, dado que neles existe o desejo de uma vida melhor, frequentemente unido ao intento de ultrapassar o «desespero» de um futuro impossível de construir. Ao mesmo tempo, muitos encetam a viagem animados por uma profunda confiança de que Deus não abandona as suas criaturas e de que tal conforto torna mais suportáveis as feridas do desenraizamento e da separação, talvez com a recôndita esperança de um futuro regresso à terra de origem. Por isso, fé e esperança enchem muitas vezes a bagagem daqueles que emigram, cientes de que, com elas, «podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho» (Enc. <em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20071130_spe-salvi_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Spe salvi</a>, </em>1).</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
No vasto campo das migrações, a solicitude materna da Igreja estende-se em diversas direcções. Por um lado a sua solicitude contempla as migrações sob o perfil dominante da pobreza e do sofrimento que muitas vezes produz dramas e tragédias, intervindo lá com acções concretas de socorro que visam resolver as numerosas emergências, graças à generosa dedicação de indivíduos e de grupos, associações de voluntariado e movimentos, organismos paroquiais e diocesanos, em colaboração com todas as pessoas de boa vontade. E, por outro, a Igreja não deixa de evidenciar também os aspectos positivos, as potencialidades de bem e os recursos de que as migrações são portadoras; e, nesta direcção, ganham corpo as intervenções de acolhimento que favorecem e acompanham uma inserção integral dos migrantes, requerentes de asilo e refugiados no novo contexto sociocultural, sem descuidar a dimensão religiosa, essencial para a vida de cada pessoa. Ora a Igreja, pela própria missão que lhe foi confiada por Cristo, é chamada a prestar particular atenção e solicitude precisamente a esta dimensão: ela constitui o seu dever mais importante e específico. Visto que os fiéis cristãos provêm das várias partes do mundo, a solicitude pela dimensão religiosa engloba também o diálogo ecuménico e a atenção às novas comunidades; ao passo que, para os fiéis católicos, se traduz, entre outras coisas, na criação de novas estruturas pastorais e na valorização dos diversos ritos, até se chegar à plena participação na vida da comunidade eclesial local. Entretanto, a promoção humana caminha lado a lado com a comunhão espiritual, que abre os caminhos «a uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo» (Carta ap. <em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/motu_proprio/documents/hf_ben-xvi_motu-proprio_20111011_porta-fidei_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Porta fidei</a>, </em>6). É sempre um dom precioso tudo aquilo que a Igreja proporciona visando conduzir ao encontro de Cristo, que abre para uma esperança sólida e credível.</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A Igreja e as diversas realidades que nela se inspiram são chamadas a evitar o risco do mero assistencialismo na sua relação com os migrantes e refugiados, procurando favorecer a autêntica integração numa sociedade onde todos sejam membros activos e responsáveis pelo bem-estar do outro, prestando generosamente as suas contribuições originais, com pleno direito de cidadania e participação nos mesmos direitos e deveres. Aqueles que emigram trazem consigo sentimentos de confiança e de esperança que animam e alentam a procura de melhores oportunidades de vida; mas eles não procuram apenas a melhoria da sua condição económica, social ou política. É verdade que a viagem migratória muitas vezes inicia com o medo, sobretudo quando perseguições e violências obrigam a fugir, com o trauma de abandonar os familiares e os bens que, em certa medida, asseguravam a sobrevivência; e, todavia, o sofrimento, as enormes perdas e às vezes um sentido de alienação diante do futuro incerto não destroem o sonho de reconstruir, com esperança e coragem, a vida num país estrangeiro. Na verdade, aqueles que emigram nutrem a confiança de encontrar acolhimento, obter ajuda solidária e entrar em contacto com pessoas que, compreendendo as contrariedades e a tragédia dos seus semelhantes e também reconhecendo os valores e recursos de que eles são portadores, estejam dispostas a compartilhar humanidade e bens materiais com quem é necessitado e desfavorecido. Na realidade, é preciso reafirmar que «a solidariedade universal é para nós um facto e um benefício, mas também um dever» (Enc. <em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Caritas in veritate</a>, </em>43). E assim, a par das dificuldades, os migrantes e refugiados podem experimentar também relações novas e hospitaleiras que os encorajem a contribuir para o bem-estar dos países de chegada com suas competências profissionais, o seu património sociocultural e também com o seu testemunho de fé, que muitas vezes dá impulso às comunidades de antiga tradição cristã, encoraja a encontrar Cristo e convida a conhecer a Igreja.</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
É verdade que cada Estado tem o direito de regular os fluxos migratórios e implementar políticas ditadas pelas exigências gerais do bem comum, mas assegurando sempre o respeito pela dignidade de cada pessoa. O direito que a pessoa tem de emigrar – como recorda o número 65 da Constituição conciliar <em><a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Gaudium et spes</a></em> – conta-se entre os direitos humanos fundamentais, com faculdade de cada um se estabelecer onde crê mais oportuno para uma melhor realização das suas capacidades e aspirações e dos seus projectos. No contexto sociopolítico actual, porém, ainda antes do direito a emigrar há que reafirmar o direito a não emigrar, isto é, a ter condições para permanecer na própria terra, podendo repetir, com o Beato João Paulo II, que «o direito primeiro do homem é viver na própria pátria. Este direito, entretanto, só se torna efectivo se se têm sob controle os factores que impelem à emigração (<em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/1998/october/documents/hf_jp-ii_spe_19981009_migranti_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Discurso ao IV Congresso Mundial das Migrações</a></em>, 9 de Outubro de 1998). De facto, hoje vemos que muitas migrações são consequência da precariedade económica, da carência dos bens essenciais, de calamidades naturais, de guerras e desordens sociais. Então emigrar, em vez de uma peregrinação animada pela confiança, pela fé e a esperança, torna-se um «calvário» de sobrevivência, onde homens e mulheres resultam mais vítimas do que autores e responsáveis das suas vicissitudes de migrante. Assim, enquanto há migrantes que alcançam uma boa posição e vivem com dignidade e adequada integração num ambiente de acolhimento, existem muitos outros que vivem em condições de marginalidade e, por vezes, de exploração e privação dos direitos humanos fundamentais, ou até assumem comportamentos danosos para a sociedade onde vivem. O caminho da integração compreende direitos e deveres, solicitude e cuidado pelos migrantes para que levem uma vida decorosa, mas supõe também a atenção dos migrantes aos valores que lhes proporciona a sociedade onde se inserem.</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A este respeito, não podemos esquecer a questão da imigração ilegal, que se torna ainda mais impelente nos casos em que esta se configura como tráfico e exploração de pessoas, com maior risco para as mulheres e crianças. Tais delitos hão-de ser decididamente condenados e punidos, ao mesmo tempo que uma gestão regulamentada dos fluxos migratórios – que não se reduza ao encerramento hermético das fronteiras, ao agravamento das sanções contra os ilegais e à adopção de medidas que desencorajem novos ingressos – poderia pelo menos limitar o perigo de muitos migrantes acabarem vítimas dos referidos tráficos. Na verdade, hoje mais do que nunca são oportunas intervenções orgânicas e multilaterais para o desenvolvimento dos países de origem, medidas eficazes para erradicar o tráfico de pessoas, programas orgânicos dos fluxos de entrada legal, maior disponibilidade para considerar os casos individuais que requerem intervenções de protecção humanitária bem como de asilo político. As normativas adequadas devem estar associadas com uma paciente e constante acção de formação da mentalidade e das consciências. Em tudo isto, é importante reforçar e desenvolver as relações de bom entendimento e cooperação entre realidades eclesiais e institucionais que estão ao serviço do desenvolvimento integral da pessoa humana. Na perspectiva cristã, o compromisso social e humanitário recebe força da fidelidade ao Evangelho, com a consciência de que «aquele que segue Cristo, o homem perfeito, torna-se mais homem» (<em><a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Gaudium et spes</a>, </em>41).</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs migrantes, oxalá esta Jornada Mundial vos ajude a renovar a confiança e a esperança no Senhor, que está sempre junto de vós! Não percais ocasião de encontrá-Lo e reconhecer o seu rosto nos gestos de bondade que recebeis ao longo da vossa peregrinação de migrantes. Alegrai-vos porque o Senhor está ao vosso lado e, com Ele, podereis superar obstáculos e dificuldades, valorizando os testemunhos de abertura e acolhimento que muitos vos oferecem. Na verdade, «a vida é como uma viagem no mar da história, com frequência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com rectidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele, precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d'Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia» (Enc. <em><a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20071130_spe-salvi_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Spe salvi</a>, </em>49). Confio cada um de vós à Bem-aventurada Virgem Maria, sinal de consolação e segura esperança, «estrela do caminho», que nos acompanha com a sua materna presença em cada momento da vida, e, com afecto, a todos concedo a Bênção Apostólica.</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Vaticano, 12 de Outubro de 2012</em>.</div>
<div>
<br /></div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-86966597419133774952012-11-03T08:35:00.001-02:002012-11-03T08:35:37.930-02:00"O QUE SIGNIFICA CRER HOJE?"<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
"O QUE SIGNIFICA CRER HOJE?"</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>Catequese de Bento XVI na Audiência Geral de quarta- feira</b></div>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 24 de outubro de 2012.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs,</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Quarta-feira passada, com o início do Ano da Fé, comecei uma nova série de catequeses sobre a fé. E hoje gostaria de refletir com vocês sobre uma questão fundamental: o que é a fé? Ainda há um sentido para a fé em um mundo cuja ciência e a técnica abriram horizontes até pouco tempo impensáveis? O que significa crer hoje? De fato, no nosso tempo é necessária uma renovada educação para a fé, que inclua um conhecimento das suas verdades e dos eventos da salvação, mas que sobretudo nasça de um verdadeiro encontro com Deus em Jesus Cristo, de amá-lo, de confiar Nele, de modo que toda a vida seja envolvida. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Hoje, junto a tantos sinais do bem, cresce ao nosso redor também um certo deserto espiritual. Às vezes, tem-se a sensação, por certos acontecimentos dos quais temos notícia todos os dias, que o mundo não vai em direção à construção de uma comunidade mais fraterna e mais pacífica; as mesmas ideias de progresso e de bem estar mostram também as suas sombras. Apesar da grandeza das descobertas da ciência e dos sucessos da técnica, hoje o homem não parece verdadeiramente mais livre, mais humano; permanecem tantas formas de exploração, de manipulação, de violência, de abusos, de injustiça...Um certo tipo de cultura, então, educou a mover-se somente no horizonte das coisas, do factível, a crer somente no que se vê e se toca com as próprias mãos. Por outro lado, cresce também o número daqueles que se sentem desorientados e, na tentativa de ir além de uma visão somente horizontal da realidade, estão dispostos a crer em tudo e no seu contrário. Neste contexto, surgem algumas perguntas fundamentais, que são muito mais concretas do que parecem à primeira vista: que sentido tem viver? Há um futuro para o homem, para nós e para as novas gerações? Em que direção orientar as escolhas da nossa liberdade para um êxito bom e feliz da vida? O que nos espera além do limiar da morte? <strong><br /></strong><br />Destas insuprimíveis perguntas emergem como o mundo do planejamento, do cálculo exato e do experimento, em uma palavra o saber da ciência, mesmo sendo importante para a vida do homem, sozinho não basta. Nós precisamos não apenas do pão material, precisamos de amor, de significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que nos ajude a viver com um senso autêntico também nas crises, na escuridão, nas dificuldades e nos problemas cotidianos. A fé nos dá exatamente isto: é um confiante confiar em um “Tu”, que é Deus, o qual me dá uma certeza diferente, mas não menos sólida daquela que me vem do cálculo exato ou da ciência. A fé não é um simples consentimento intelectual do homem e da verdade particular sobre Deus; é um ato com o qual confio livremente em um Deus que é Pai e me ama; é adesão a um “Tu” que me dá esperança e confiança. Certamente esta adesão a Deus não é privada de conteúdo: com essa sabemos que Deus mesmo se mostrou a nós em Cristo, mostrou a sua face e se fez realmente próximo a cada um de nós. Mais, Deus revelou que o seu amor pelo homem, por cada um de nós, é sem medida: na Cruz, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus feito homem, nos mostra do modo mais luminoso a que ponto chega este amor, até a doação de si mesmo, até o sacrifício total. Com o Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, Deus desce até o fundo na nossa humanidade para trazê-la de volta a Ele, para elevá-la à sua altura. A fé é crer neste amor de Deus que não diminui diante da maldade do homem, diante do mal e da morte, mas é capaz de transformar cada forma de escravidão, dando a possibilidade da salvação.Ter fé, então, é encontrar este “Tu”, Deus, que me sustenta e me concede a promessa de um amor indestrutível que não só aspira à eternidade, mas a doa; é confiar-se em Deus como a atitude de uma criança, que sabe bem que todas as suas dificuldades, todos os seus problemas estão seguros no “Tu” da mãe. E esta possibilidade de salvação através da fé é um dom que Deus oferece a todos os homens. Acho que deveríamos meditar com mais frequência – na nossa vida cotidiana, caracterizada por problemas e situações às vezes dramáticas – sobre o fato de que crer de forma cristã significa este abandonar-me com confiança ao sentido profundo que sustenta a mim e ao mundo, aquele sentido que nós não somos capazes de dar, mas somente de receber como dom, e que é o fundamento sobre o qual podemos viver sem medo. E esta certeza libertadora e tranquilizante da fé devemos ser capazes de anunciá-la com a palavra e de mostrá-la com a nossa vida de cristãos. <strong><br /></strong><br />Ao nosso redor, porém, vemos todos os dias que muitos permanecem indiferentes ou recusam-se a acolher este anúncio. No final do Evangelho de Marcos, hoje temos palavras duras do Ressuscitado que diz: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16, 16), perde a si mesmo. Gostaria de convidá-los a refletir sobre isso. A confiança na ação do Espírito Santo, nos deve impulsionar sempre a andar e anunciar o Evangelho, ao corajoso testemunho da fé; mas além da possibilidade de uma resposta positiva ao dom da fé, há também o risco de rejeição ao Evangelho, do não acolhimento ao encontro vital com Cristo. Santo Agostinho já colocava este problema em seu comentário da parábola do semeador: “Nós falamos – dizia – lançamos a semente, espalhamos a semente. Existem aqueles que desprezam, aqueles que reprovarão, aquelas que zombam. Se nós temos medo deles, não temos mais nada a semear e no dia da ceifa ficaremos sem colheita. Por isso venha a semente da terra boa” (Discurso sobre a disciplina cristã, 13, 14: PL 40, 677-678). A recusa, portanto, não pode nos desencorajar. Como cristãos somos testemunhas deste terreno fértil: a nossa fé, mesmo com nossos limites, mostra que existe a terra boa, onde a semente da Palavra de Deus produz frutos abundantes de justiça, de paz e de amor, de nova humanidade, de salvação. E toda a história da Igreja, com todos os problemas, demonstra também que existe a terra boa, existe a semente boa, e traz fruto. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas perguntamo-nos: de onde atinge o homem aquela abertura do coração e da mente para crer no Deus que se fez visível em Jesus Cristo morto e ressuscitado, para acolher a sua salvação, de forma que Ele e seu Evangelho sejam o guia e a luz da existência? Resposta: nós podemos crer em Deus porque Ele se aproxima de nós e nos toca, porque o Espírito Santo, dom do Ressuscitado, nos torna capazes de acolher o Deus vivo. A fé então é primeiramente um dom sobrenatural, um dom de Deus. O Concílio Vaticano II afirma: “Para que se possa fazer este ato de fé, é necessária a graça de Deus que previne e socorre, e são necessários os auxílios interiores do Espírito Santo, o qual mova o coração e o volte a Deus, abra os olhos da mente, e doe ‘a todos doçura para aceitar e acreditar na verdade’” (Cost. dogm. Dei Verbum, 5). Na base do nosso caminho de fé tem o Batismo, o sacramento que nos doa o Espírito Santo, fazendo-nos tornar filhos de Deus em Cristo, e marca o ingresso na comunidade de fé, na Igreja: não se crê por si próprio, sem a vinda da graça do Espírito; e não se crê sozinho, mas junto aos irmãos. A partir do Batismo cada crente é chamado a re-viver e fazer própria esta confissão de fé, junto aos irmãos. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A fé é dom de Deus, mas é também ato profundamente livre e humano. O Catecismo da Igreja Católica o diz com clareza: “É impossível crer sem a graça e os auxílios interiores do Espírito Santo. Não é, portanto, menos verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade e nem à inteligência do homem” (n. 154). Mas, as implica e as exalta, em uma aposta de vida que é como um êxodo, isso é, um sair de si mesmo, das próprias seguranças, dos próprios esquemas mentais, para confiar na ação de Deus que nos indica a sua estrada para conseguir a verdadeira liberdade, a nossa identidade humana, a verdadeira alegria do coração, a paz com todos. Crer é confiar com toda a liberdade e com alegria no desenho providencial de Deus na história, como fez o patriarca Abraão, como fez Maria de Nazaré. A fé, então, é um consentimento com o qual a nossa mente e o nosso coração dizem o seu “sim” a Deus, confessando que Jesus é o Senhor. E este “sim” transforma a vida, abre a estrada para uma plenitude de significado, a torna nova, rica de alegria e de esperança confiável. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Caros amigos, o nosso tempo requer cristãos que foram apreendidos por Cristo, que cresçam na fé graças à familiaridade com a Sagrada Escritura e os Sacramentos. Pessoas que sejam como um livro aberto que narra a experiência da vida nova no Espírito, a presença daquele Deus que nos sustenta no caminho e nos abre à vida que nunca terá fim. Obrigado.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Ao final o Santo Padre dirigiu a seguinte saudação em português:</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Uma cordial saudação para todos os peregrinos de língua portuguesa, com menção particular dos grupos de diversas paróquias e cidades do Brasil, que aqui vieram movidos pelo desejo de afirmar e consolidar a sua fé e adesão a Cristo: o Senhor vos encha de alegria e o seu Espírito ilumine as decisões da vossa vida para realizardes fielmente o projeto de Deus a vosso respeito. Acompanha-vos a minha oração e a minha Bênção.</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-20229585117707617762012-10-14T09:01:00.000-03:002012-10-14T09:01:41.102-03:00CRISTO COMO O CENTRO DO COSMOS E DA HISTÓRIA<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
CRISTO COMO O CENTRO DO COSMOS E DA HISTÓRIA</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>Homilia de Bento XVI na abertura do Ano da Fé</b></div>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
CIDADE DO VATICANO, sábado, 13 de outubro de 2012.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Venerados Irmãos,<br />Queridos irmãos e irmãs!</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Hoje, com grande alegria, 50 anos depois da abertura do <a href="http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/index_po.htm" style="color: #011287; text-decoration: none;">Concílio Vaticano II</a>, damos início ao <a href="http://www.annusfidei.va/" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Ano da fé</em></a>. Tenho o prazer de saudar a todos vós, especialmente Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca de Constantinopla, e Sua Graça Rowan Williams, Arcebispo de Cantuária. Saúdo também, de modo especial, os Patriarcas e Arcebispos Maiores das Igrejas Orientais católicas, e os Presidentes das Conferências Episcopais. Para fazer memória do Concílio, que alguns dos aqui presentes – a quem saúdo com afeto especial - tivemos a graça de viver em primeira pessoa, esta celebração foi enriquecida com alguns sinais específicos: a procissão inicial, que quis recordar a memorável procissão dos Padres conciliares, quando entraram solenemente nesta Basílica; a entronização do Evangeliário, cópia daquele que foi utilizado durante o Concílio; e a entrega das <a href="http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/speeches/1965/index_po.htm#As_grandes_mensagens_do_Conc%C3%ADlio_Vaticano_II_(8_de_dezembro_de_1965)" style="color: #011287; text-decoration: none;">sete mensagens finais do Concílio</a> e do <a href="http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Catecismo da Igreja Católica</em></a>, que realizarei no termo desta celebração, antes da Bênção Final. Estes sinais, não nos fazem apenas recordar, mas também nos oferecem a possibilidade de ir além da comemoração. Eles nos convidam a entrar mais profundamente no movimento espiritual que caracterizou o Vaticano II, para que se possa assumi-lo e levá-lo adiante no seu verdadeiro sentido. E este sentido foi e ainda é a fé em Cristo, a fé apostólica, animada pelo impulso interior que leva a comunicar Cristo a cada homem e a todos os homens, no peregrinar da Igreja nos caminhos da história.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O <a href="http://www.annusfidei.va/" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Ano da fé</em></a> que estamos inaugurando hoje está ligado coerentemente com todo o caminho da Igreja ao longo dos últimos 50 anos: desde o Concílio, passando pelo Magistério do Servo de Deus Paulo VI, que proclamou um<a href="http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/audiences/1967/documents/hf_p-vi_aud_19670614_it.html" style="color: #011287; text-decoration: none;"> "Ano da Fé", em 1967</a>, até chegar ao o <a href="http://www.vatican.va/jubilee_2000/index_po.htm" style="color: #011287; text-decoration: none;">Grande Jubileu do ano 2000</a>, com o qual o Bem-Aventurado João Paulo II propôs novamente a toda a humanidade Jesus Cristo como único Salvador, ontem, hoje e sempre. Entre estes dois Pontífices, Paulo VI e João Paulo II, houve uma profunda e total convergência na visão de Cristo como o centro do cosmos e da história, e no ardente desejo apostólico de anunciá-lo ao mundo. Jesus é o centro da fé cristã. O cristão crê em Deus através de Jesus Cristo, que nos revelou a face de Deus. Ele é o cumprimento das Escrituras e seu intérprete definitivo. Jesus Cristo não é apenas o objeto de fé, mas, como diz a Carta aos Hebreus, é aquele «que em nós começa e completa a obra da fé» (<em>Hb</em> 12,2).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O Evangelho de hoje nos fala que Jesus Cristo, consagrado pelo Pai no Espírito Santo, é o verdadeiro e perene sujeito da evangelização. «O Espírito do Senhor está sobre mim, / porque ele me consagrou com a unção / para anunciar a Boa-Nova aos pobres» (<em>Lc</em> 4,18). Esta missão de Cristo, este movimento, continua no espaço e no tempo, ao longo dos séculos e continentes. É um movimento que parte do Pai e, com a força do Espírito, impele a levar a Boa-Nova aos pobres, tanto no sentido material como espiritual. A Igreja é o instrumento primordial e necessário desta obra de Cristo, uma vez que está unida a Ele como o corpo à cabeça. «Como o Pai me enviou, também eu vos envio» (<em>Jo</em> 20,21). Estas foram as palavras do Senhor Ressuscitado aos seus discípulos, que soprando sobre eles disse: «Recebei o Espírito Santo» (v. 22). O sujeito principal da evangelização do mundo é Deus, através de Jesus Cristo; mas o próprio Cristo quis transmitir à Igreja a missão, e o fez e continua a fazê-lo até o fim dos tempos infundindo o Espírito Santo nos discípulos, o mesmo Espírito que repousou sobre Ele, e n’Ele permaneceu durante toda a vida terrena, dando-lhe a força de «proclamar a libertação aos cativos / e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor» (<em>Lc</em> 4,18-19).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O Concílio Vaticano II não quis colocar a fé como tema de um documento específico. E, no entanto, o Concílio esteve inteiramente animado pela consciência e pelo desejo de ter que, por assim dizer, imergir mais uma vez no mistério cristão, para poder propô-lo novamente e eficazmente para o homem contemporâneo. Neste sentido, o Servo de Deus Paulo VI, dois anos depois da conclusão do Concílio, se expressava usando estas palavras: «Se o Concílio não trata expressamente da fé, fala da fé a cada página, reconhece o seu caráter vital e sobrenatural, pressupõe-na íntegra e forte, e estrutura as suas doutrinas tendo a fé por alicerce. Bastaria recordar [algumas] afirmações do Concílio (...) para dar-se conta da importância fundamental que o Concílio, em consonância com a tradição doutrinal da Igreja, atribui à fé, a verdadeira fé, que tem a Cristo por fonte e o Magistério da Igreja como canal» (<a href="http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/audiences/1967/documents/hf_p-vi_aud_19670308_it.html" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Catequese </em>na Audiência Geral de 8 de março de 1967</a>). Até aqui, a citação de Paulo VI, em 1967.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Agora, porém, temos de voltar para aquele que convocou o Concílio Vaticano II e que o inaugurou: o Bem-Aventurado João XXIII. No <a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/speeches/1962/documents/hf_j-xxiii_spe_19621011_opening-council_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;">Discurso de Abertura</a>, ele apresentou a finalidade principal do Concílio usando estas palavras: «O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz. (...) Por isso, o objetivo principal deste Concílio não é a discussão sobre este ou aquele tema doutrinal... Para isso, não havia necessidade de um Concílio... É necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de forma a responder às exigências do nosso tempo» (<em>AAS</em> 54 [1962], 790791-792). Até aqui, a citação do Papa João XIII, na inauguração do Concílio.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
À luz destas palavras, entende-se aquilo que eu mesmo pude então experimentar: durante o Concílio havia uma tensão emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé no hoje do nosso tempo, sem sacrificá-la frente às exigências do presente, nem mantê-la presa ao passado: na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não torna a repetir-se. Por isso, julgo que a coisa mais importante, especialmente numa ocasião tão significativa como a presente, seja reavivar em toda a Igreja aquela tensão positiva, aquele desejo ardente de anunciar novamente Cristo ao homem contemporâneo. Mas para que este impulso interior à nova evangelização não seja só um ideal e não peque de confusão, é necessário que ele se apoie sobre uma base de concreta e precisa, e esta base são os documentos do Concílio Vaticano II, nos quais este impulso encontrou a sua expressão. É por isso que repetidamente tenho insistido na necessidade de retornar, por assim dizer, à «letra» do Concílio - ou seja, aos seus textos - para também encontrar o seu verdadeiro espírito; e tenho repetido que neles se encontra a verdadeira herança do Concílio Vaticano II. A referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrônicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade. O Concílio não definiu nada de novo em matéria de fé, nem quis substituir aquilo que existia antes. Pelo contrário, preocupou-se em fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé viva em um mundo em mudança.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Se nos colocarmos em sintonia com a orientação autêntica que o Bem-Aventurado João XXIII queria dar ao Vaticano II, poderemos atualizá-la ao longo deste Ano da Fé, no único caminho da Igreja que quer aprofundar continuamente a «bagagem» da fé que Cristo lhe confiou. Os Padres conciliares queriam voltar a apresentar a fé de uma forma eficaz, e se quiseram abrir-se com confiança ao diálogo com o mundo moderno foi justamente porque eles estavam seguros da sua fé, da rocha firme em que se apoiavam. Contudo, nos anos seguintes, muitos acolheram acriticamente a mentalidade dominante, questionando os próprios fundamentos do <em>depositum fidei</em> a qual infelizmente já não consideravam como própria diante daquilo que tinham por verdade.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Se a Igreja hoje propõe um novo <a href="http://www.annusfidei.va/" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Ano da fé</em></a> e a nova evangelização, não é para prestar honras a uma efeméride, mas porque é necessário, ainda mais do que há 50 anos! E a resposta que se deve dar a esta necessidade é a mesma desejada pelos Papas e Padres conciliares e que está contida nos seus documentos. Até mesmo a iniciativa de criar um <a href="http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/new-evangelization/index_po.htm" style="color: #011287; text-decoration: none;">Concílio Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização</a> – ao qual agradeço o empenho especial para o <a href="http://www.annusfidei.va/" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Ano da fé</em></a> – enquadra-se nessa perspectiva. Nos últimos decênios tem-se visto o avanço de uma "desertificação" espiritual. Qual fosse o valor de uma vida, de um mundo sem Deus, no tempo do Concílio já se podia perceber a partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente, o vemos ao nosso redor todos os dias. É o vazio que se espalhou. No entanto, é precisamente a partir da experiência deste deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua importância vital para nós homens e mulheres. No deserto é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E no deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança. A fé vivida abre o coração à Graça de Deus que liberta do pessimismo. Hoje, mais do que nunca, evangelizar significa testemunhar uma vida nova, transformada por Deus, indicando assim o caminho. A primeira Leitura falava da sabedoria do viajante (cf. <em>Eclo</em> 34,9-13): a viagem é uma metáfora da vida, e o viajante sábio é aquele que aprendeu a arte de viver e pode compartilhá-la com os irmãos - como acontece com os peregrinos no Caminho de Santiago, ou em outros caminhos de peregrinação que, não por acaso, estão novamente em voga nestes últimos anos. Por que tantas pessoas hoje sentem a necessidade de fazer esses caminhos? Não seria porque neles encontraram, ou pelo menos intuíram o significado do nosso estar no mundo? Eis aqui o modo como podemos representar este <a href="http://www.annusfidei.va/" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Ano da fé</em></a>: uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas - como o Senhor exorta aos Apóstolos ao enviá-los em missão (cf. <em>Lc</em> 9,3), mas sim o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Vaticano II são uma expressão luminosa, assim como é o <a href="http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Catecismo da Igreja Católica</em></a>, publicado há 20 anos.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Venerados e queridos irmãos, no dia 11 de outubro de 1962, celebrava-se a festa de Santa Maria, Mãe de Deus. A Ela lhe confiamos o <a href="http://www.annusfidei.va/" style="color: #011287; text-decoration: none;"><em>Ano da fé</em></a>, tal como fiz há uma semana, <a href="http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2012/index_loreto_po.htm" style="color: #011287; text-decoration: none;">quando fui, em peregrinação, a Loreto</a>. Que a Virgem Maria brilhe sempre qual estrela no caminho da nova evangelização. Que Ela nos ajude a pôr em prática a exortação do Apóstolo Paulo: «A palavra de Cristo, em toda a sua riqueza, habite em vós. Ensinai e admoestai-vos uns aos outros, com toda a sabedoria... Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus. Por meio dele dai graças a Deus Pai» (<em>Col</em> 3,16-17). Amém.</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-54874236672064677902012-10-09T16:31:00.000-03:002012-10-09T16:31:48.530-03:00A IGREJA EXISTE PARA EVANGELIZAR<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
A IGREJA EXISTE PARA EVANGELIZAR</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>Homilia de Bento XVI pronunciada na Celebração Eucaristica por ocasião do Sínodo dos Bispos</b></div>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
CIDADE DO VATICANO, domingo, 07 de outubro de 2012.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Veneráveis Irmãos,<br />Queridos irmãos e irmãs,</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Com esta solene concelebração inauguramos a XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem como tema: <em>A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã</em>. Esta temática responde a uma orientação programática para a vida da Igreja, de todos os seus membros, das famílias, comunidades, e das suas instituições. Tal perspectiva se reforça pela coincidência com o início do Ano da Fé, que terá lugar na próxima quinta-feira, dia 11 de outubro, no 50º aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II. Dirijo a minha cordial saudação de boas-vindas, cheia de gratidão, a vós que viestes formar parte nesta Assembléia sinodal, em especial, ao Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos e aos seus colaboradores. Estendo a minha saudação aos delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades Eclesiais, e a todos os presentes, convidando-os a acompanhar com a sua oração diária, os trabalhos que realizaremos nas próximas três semanas.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
As leituras bíblicas, que compõem a Liturgia da Palavra deste domingo, nos oferecem dois pontos principais de reflexão: o primeiro sobre o matrimônio, que tratarei adiante; e o segundo sobre Jesus Cristo, que abordarei em seguida. Não temos tempo para comentar esta passagem da Carta aos Hebreus, mas devemos, no início desta Assembléia sinodal, aceitar o convite para fixar o olhar no Senhor Jesus, «coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte» (<em>Hb</em> 2,9). A Palavra de Deus nos coloca diante do crucificado glorioso, de modo que toda a nossa vida e, em particular, o compromisso desta assembléia sinodal, se desenrole presença d’Ele e à luz do seu mistério. A evangelização, em todo tempo e lugar, teve sempre como ponto central e último Jesus, o Cristo, o Filho de Deus (cf. <em>Mc</em> 1,1); e o Crucificado é por excelência o sinal distintivo de quem anuncia o Evangelho: sinal de amor e de paz, chamada à conversão e à reconciliação. Sejamos nós, Venerados Irmãos, os primeiros a ter o olhar do coração dirigido a Ele, deixando-nos purificar pela sua graça.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queria agora refletir, brevemente, sobre a «nova evangelização», relacionando-a com a evangelização ordinária e com a missão <em>ad gentes</em>. A Igreja existe para evangelizar. Fiéis ao mandamento do Senhor Jesus Cristo, seus discípulos partiram pelo mundo inteiro para anunciar a Boa Nova, fundando, por toda a parte, comunidades cristãs. Com o passar do tempo, essas comunidades tornaram-se Igrejas bem organizadas, com numerosos fiéis. Em determinados períodos da história, a Divina Providência suscitou um renovado dinamismo na ação evangelizadora na Igreja. Basta pensar na evangelização dos povos anglo-saxões e eslavos, ou na transmissão do Evangelho no continente americano, e, em seguida, nos distintos períodos missionários junto dos povos da África, Ásia e Oceania. Sobre este pano de fundo dinâmico, apraz-me também dirigir o olhar para as duas figuras luminosas que acabo de proclamar Doutores da Igreja: São João de Ávila e Santa Hildegarda de Bingen. Também nos nossos tempos, o Espírito Santo suscitou na Igreja um novo impulso para proclamar a Boa Nova, um dinamismo espiritual e pastoral que encontrou a sua expressão mais universal e o seu impulso mais autorizado no Concílio Ecumênico Vaticano II. Este renovado dinamismo de evangelização produz uma influência benéfica sobre os dois "ramos" concretos que desenvolvem a partir dela, ou seja, por um lado, a <em>missio ad gentes</em>, isto é, a proclamação do Evangelho para aqueles que ainda não conhecem a Jesus Cristo e a Sua mensagem de salvação; e, por outro lado, a <em>nova evangelização</em>, destinada principalmente às pessoas que, embora batizadas, se distanciaram da Igreja e vivem sem levar em conta prática cristã. A Assembléia sinodal que se abre hoje é dedicada a essa nova evangelização, para ajudar essas pessoas a terem um novo encontro com o Senhor, o único que dá sentido profundo e paz para a nossa existência; para favorecer a redescoberta da fé, a fonte de graça que traz alegria e esperança na vida pessoal, familiar e social. Obviamente, esta orientação particular não deve diminuir nem o impulso missionário, em sentido próprio, nem as atividades ordinárias de evangelização nas nossas comunidades cristãs. Na verdade, os três aspectos da única realidade de evangelização se completam e se fecundam mutuamente.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Neste sentido, o tema do matrimônio, que nos ofereceu o Evangelho e a primeira leitura, merece uma atenção especial. A mensagem da Palavra de Deus pode ser resumida na expressão contida no livro do Gênesis e retomada pelo próprio Jesus: «Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne» (<em>Gn </em>2,24, <em>Mc</em> 10,7-8). O que significa hoje para nós essa palavra? Parece-me que nos convida a nos tornarmos mais conscientes de uma realidade já conhecida, mas talvez não totalmente apreciada, ou seja, que o matrimônio se constitui, em si mesmo, um Evangelho, uma Boa Nova para o mundo de hoje, em particular para o mundo descristianizado. A união do homem e da mulher, o ser «uma só carne» na caridade, no amor fecundo e indissolúvel, é um sinal que fala de Deus com força, com uma eloqüência que hoje se torna ainda maior porque, infelizmente, por diversas razões, o matrimônio, justamente nas regiões de antiga tradição cristã, está passando por uma profunda crise. Não é uma coincidência. O matrimônio está ligado à fé, não num sentido genérico. O matrimônio se fundamenta, enquanto união do amor fiel e indissolúvel, na graça que vem do Deus Uno e Trino, que em Cristo nos amou com um amor fiel até a Cruz. Hoje, somos capazes de compreender toda a verdade desta afirmação, em contraste com a dolorosa realidade de muitos matrimônios que, infelizmente, acabam mal. Há uma clara correspondência entre a crise da fé e a crise do matrimônio. E, como a Igreja afirma e testemunha há muito tempo, o matrimônio é chamado a ser não apenas objeto, mas o sujeito da nova evangelização. Isso já se vê em muitas experiências ligadas a comunidades e movimentos, mas também se observa, cada vez mais, no tecido das dioceses e paróquias, como demonstrou o recente Encontro Mundial das Famílias.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A chamada universal à santidade é uma das idéias chave do renovado impulso que o Concílio Vaticano II deu à evangelização que, como tal, aplica-se a todos os cristãos (cf. <em>Lumen gentium</em>, 39-42). Os santos são os verdadeiros protagonistas da evangelização em todas as suas expressões. Eles são, em particular, também os pioneiros e os impulsionadores da nova evangelização: pela sua intercessão e exemplo de vida, atentos à criatividade que vem do Espírito Santo, eles mostram às pessoas, indiferentes ou mesmo hostis, a beleza do Evangelho e da comunhão em Cristo; e convidam os fiéis, por assim dizer, tíbios, a viverem a alegria da fé, da esperança e da caridade; a redescobrirem o «gosto» da Palavra de Deus e dos Sacramentos, especialmente do Pão da Vida, a Eucaristia. Santos e santas florescem entre os missionários generosos que anunciam a Boa Nova aos não-cristãos, tradicionalmente nos países de missão e atualmente em todos os lugares onde vivem pessoas não cristãs. A santidade não conhece barreiras culturais, sociais, políticas ou religiosas. Sua linguagem - a do amor e da verdade - é entendida por todos os homens de boa vontade e lhes aproxima de Jesus Cristo, fonte inesgotável de vida nova.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Neste ponto, detenhamo-nos por um momento para admirar os dois santos que hoje foram agregados ao grupo seleto dos Doutores da Igreja. São João de Ávila viveu no século XVI. Profundo conhecedor das Sagradas Escrituras, era dotado de um ardente espírito missionário. Soube adentrar, com uma profundidade particular, nos mistérios da Redenção operada por Cristo para a humanidade. Homem de Deus, unia a oração constante à atividade apostólica. Dedicou-se à pregação e ao aumento da prática dos sacramentos, concentrando seus esforços para melhorar a formação dos futuros candidatos ao sacerdócio, dos religiosos, religiosas e dos leigos, em vista de uma fecunda reforma da Igreja.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Santa Hildegarda de Bingen, importante figura feminina do século XII, ofereceu a sua valiosa contribuição para o crescimento da Igreja do seu tempo, valorizando os dons recebidos de Deus e mostrando-se uma mulher de grande inteligência, sensibilidade profunda e de reconhecida autoridade espiritual. O Senhor dotou-a com um espírito profético e de fervorosa capacidade de discernir os sinais dos tempos. Hildegard nutria um grande amor pela a criação, cultivou a medicina, a poesia e a música. Acima de tudo, sempre manteve um amor grande e fiel a Cristo e à sua Igreja.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O olhar sobre o ideal da vida cristã, expressado na chamada à santidade, nos encoraja a ver com humildade a fragilidade de muitos cristãos, antes, o seu pecado, pessoal e comunitário, que se apresenta como um grande obstáculo para a evangelização; e nos encoraja a reconhecer a força de Deus que, na fé, vem ao encontro da fraqueza humana. Portanto, não se pode falar da nova evangelização sem uma disposição sincera de conversão. Deixar-se reconciliar com Deus e com o próximo (cf. 2 <em>Cor </em>5,20) é a via mestra da nova evangelização. Só purificados, os cristãos podem encontrar o legítimo orgulho da sua dignidade de filhos de Deus, criados à Sua imagem e redimidos pelo sangue precioso de Jesus Cristo, e podem experimentar a sua alegria, para compartilhá-la com todos, com os de perto e os de longe.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs, confiamos a Deus o trabalho da Assembléia sinodal com o sentimento vivo da comunhão dos santos invocando, em particular, a intercessão dos grandes evangelizadores, dentre os quais queremos incluir com grande afeto, o Beato Papa João Paulo II, cujo longo pontificado foi também um exemplo da nova evangelização. Colocamo-nos sob a proteção da Virgem Maria, Estrela da nova evangelização. Com ela, invocamos uma especial efusão do Espírito Santo, que ilumine do alto a Assembléia sinodal e torne-a fecunda para o caminho da Igreja, hoje no nosso tempo. Amen</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-76084424151553244322012-10-09T16:25:00.000-03:002012-10-09T16:25:55.395-03:00"É PRECISO VOLTAR PARA DEUS PARA QUE O HOMEM VOLTE A SER HOMEM"<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
"É PRECISO VOLTAR PARA DEUS PARA QUE O HOMEM VOLTE A SER HOMEM"</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>Homilia de Bento XVI pronunciada durante missa em honra à Virgem Maria de Loreto</b></div>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
LORETO, quinta-feira, 04 de outubro de 2012. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Senhores Cardeais,<br />Venerados Irmãos no episcopado,<br />Queridos irmãos e irmãs!</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
No dia 4 de outubro de 1962, o Beato João XXIII veio em peregrinação a este Santuário para confiar à Virgem Maria o Concílio Ecumênico Vaticano II, que seria inaugurado uma semana depois. Naquela ocasião, ele, que alimentava uma filial e profunda devoção a Nossa Senhora, se dirigiu a ela com estas palavras: «Hoje, mais uma vez, e em nome de todo o episcopado, a Vós, dulcíssima Mãe, que sois invocada como <em>Auxilium Episcoporum</em>, pedimos por Nós, Bispo de Roma e por todos os Bispos do mundo que nos alcance a graça de entrar na sala conciliar da Basílica de São Pedro como entraram no Cenáculo os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus: um só coração, uma pulsação única de amor a Cristo e pelas almas, um propósito único de viver e de nos imolarmos pela salvação de cada pessoa e dos povos. Assim, por vossa intercessão materna, nos anos e nos séculos futuros, possa se dizer que a graça de Deus precedeu, acompanhou e coroou o vigésimo primeiro Concílio Ecumênico, infundindo em todos os filhos da Santa Igreja novo fervor, ímpeto de generosidade, firmeza de propósitos» (<em>AAS</em>54 [1962], 727).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
À distância de cinqüenta anos, após ter sido chamado pela Divina Providência a suceder, na Cátedra de Pedro, aquele Papa inesquecível, também vim aqui em peregrinação para confiar à Mãe de Deus duas importantes iniciativas eclesiais: o Ano da Fé, que terá início daqui a uma semana, no dia 11 de outubro, no qüinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, e a Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, por mim convocada para o mês de outubro, com o tema «<em>A Nova Evangelização para a transmissão da Fé Cristã</em>». Queridos amigos! A todos vós dirijo a minha mais cordial saudação. Agradeço ao Arcebispo de Loreto, Dom Giovanni Tonucci, pelas calorosas expressões de boas-vindas. Saúdo os demais Bispos presentes, os Sacerdotes, os Padres Capuchinhos, aos quais está confiada a cura pastoral do santuário, e às Religiosas. Dirijo um deferente pensamento ao Prefeito, Dr. Paolo Niccoletti, a quem também agradeço por suas amáveis palavras, ao Representante do Governo e às Autoridades civis e militares presentes. Expresso o meu reconhecimento a todos aqueles que generosamente contribuíram com a realização desta minha Peregrinação.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Como recordei na Carta Apostólica de sua convocação, através do <em>Ano da Fé</em>, "pretendo convidar os Irmãos Bispos de todo o mundo para que se unam ao Sucessor de Pedro, no tempo de graça espiritual que o Senhor nos oferece, a fim de comemorar o dom precioso da fé" (<em>Porta fidei</em>,8). E justamente aqui em Loreto temos a oportunidade de nos colocarmos na escola de Maria, d’ela que foi proclamada "Bem-aventurada" porque "acreditou" (<em>Lc</em> 1,45). Este Santuário, construído ao redor de sua casa terrena, guarda a memória do momento no qual o Anjo do Senhor veio a Maria com o grande anúncio da Encarnação, e ela lhe deu sua resposta. Esta humilde habitação é um testemunho concreto e tangível do maior acontecimento da nossa história: a Encarnação; o Verbo se fez carne, e Maria, a serva do Senhor, é o canal privilegiado através do qual Deus habitou entre nós (cf.<em> Jo </em>1,14). Maria ofereceu a sua carne, colocou-se inteiramente à disposição da vontade de Deus, tornando-se "lugar" de sua presença, "lugar" no qual habita o Filho de Deus. Aqui podemos repetir as palavras do Salmo com as quais, segundo a Carta aos Hebreus, Cristo iniciou a sua vida terrena dizendo ao Pai: «Tu não quiseste vítima e oferenda, mas formaste-me um corpo... Por isso eu disse: "Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade"» (10,5.7). Maria disse palavras semelhantes diante do Anjo que lhe revela o plano de Deus sobre ela: «Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (<em>Lc </em>1,38). A vontade de Maria coincide com a vontade do Filho no único projeto de amor do Pai e nele se unem céu e terra, Deus criador e sua criatura. Deus torna-se homem, Maria se faz "casa viva" do Senhor, templo onde mora o Altíssimo. O Beato João XXIII há cinqüenta anos, aqui em Loreto, convidava a contemplar este mistério, a "refletir sobre esta união do céu com a terra, que é a finalidade da Encarnação e da Redenção", e continuava afirmando que o próprio Concílio tinha como objetivo estender sempre mais o alcance benéfico da Encarnação e Redenção de Cristo em todas as formas da vida social (<em>cf. AAS</em> 54 [1962], 724). É um convite que ressoa hoje com particular intensidade. Na crise atual que atinge não apenas a economia, mas vários setores da sociedade, a Encarnação do Filho de Deus nos fala de quanto o homem é importante para Deus e Deus para o homem. Sem Deus o homem acaba por deixar prevalecer o seu egoísmo sobre a solidariedade e sobre o amor, as coisas materiais sobre os valores, o ter sobre o ser. É preciso voltar para Deus para que o homem volte a ser homem. Com Deus mesmo nos momentos difíceis, de crise, o horizonte da esperança não desaparece: a Encarnação nos diz que jamais estamos sozinhos, Deus entrou em nossa humanidade e nos acompanha.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas o habitar do Filho de Deus na "casa viva", no templo, que é Maria, nos leva a outro pensamento: onde Deus mora, devemos reconhecer que todos estamos "em casa"; onde Cristo mora, os seus irmãos e as suas irmãs não são mais estrangeiros. Maria, que é a mãe de Cristo é também nossa mãe, nos abre a porta da sua Casa, nos guia para entrarmos na vontade de seu Filho. É a fé, então, que nos dá uma casa neste mundo, que nos reúne em uma única família e que nos faz todos irmãos e irmãs. Contemplando Maria, devemos nos perguntar se também nós queremos ser abertos ao Senhor, se queremos oferecer nossa vida para que seja uma morada para Ele; ou então, ao contrário, se tememos que a presença do Senhor possa ser um limite para nossa liberdade, e se queremos reservar para nós uma parte de nossa vida, de modo que possa pertencer apenas a nós. Mas é Deus mesmo que liberta nossa liberdade, que a liberta do fechamento em si mesma, de possuir, da sede de poder, de posse, de domínio, e a torna capaz de abrir-se à dimensão que a realiza no sentido pleno: o do dom de si, do amor, que se faz serviço e partilha.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A fé nos faz habitar, morar, mas nos faz também trilhar o caminho da vida. Também a Santa Casa de Loreto conserva um ensinamento importante. Como sabemos, ela foi colocada numa estrada. Isso poderia parecer deveras estranho: do nosso ponto de vista, de fato, a casa e a estrada parecem se excluir. Na realidade, justamente nesse aspecto particular, encontra-se uma mensagem singular desta Casa. Ela não é uma casa privada, não pertence a uma pessoa ou a uma família, mas é uma habitação aberta para todos, que está, por assim dizer, na estrada de todos nós. Então, aqui em Loreto, encontramos uma casa que nos faz permanecer, habitar, e que ao mesmo tempo nos faz caminhar: recorda-nos que somos todos peregrinos, que devemos estar sempre a caminho para outra habitação, para a casa definitiva, para a Cidade eterna, a morada de Deus com a humanidade redimida (cf. <em>Ap</em> 21,3).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Existe ainda um ponto importante do relato evangélico da Anunciação que quero destacar, um aspecto que jamais deixa de maravilharmos: Deus pede o "sim" do homem, criou um interlocutor livre, pede que sua criatura Lhe responda com plena liberdade. São Bernardo de Claraval, em um de seus Sermões mais célebres, quase "representa" a espera da parte de Deus e da humanidade pelo "sim" de Maria, dirigindo-se a ela com uma súplica: «O anjo espera a vossa resposta, porque chegou o tempo de voltar ao que o enviou... Ó Senhora, dai essa resposta, que a terra, os infernos, antes, que os céus esperam. Como o Rei e Senhor de todos desejava ver a vossa beleza, assim deseja ardentemente a vossa resposta afirmativa... Levantai-vos, correi, abri! Levantai-vos com a fé, apressai-vos com vossa oferta, abri com a vossa adesão!» (<em>In laudibus Virginis Matris</em>, Hom. IV, 8: <em>Opera omnia</em>, Edit. Cisterc. 4, 1966, p. 53s). Deus pede a livre adesão de Maria para se tornar homem. Certo, o "sim" da Virgem é fruto da Graça divina. Mas a graça não elimina a liberdade, ao contrário, a cria e a sustém. A fé não tolhe nada à criatura humana, mas permite a sua plena e definitiva realização.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs, nesta peregrinação que repercorre a do Beato João XXIII – e que se dá, providencialmente, no dia em que se celebra a memória de São Francisco de Assis, verdadeiro "Evangelho Vivo" – quero confiar à Santíssima Mãe de Deus todas as dificuldades que vive o nosso mundo na busca de serenidade e de paz; os problemas de tantas famílias que olham para o futuro com preocupação, os desejos dos jovens que se abrem à vida, os sofrimentos dos que esperam gestos e escolhas de solidariedade e de amor. Quero confiar à Mãe de Deus também este especial tempo de graça para a Igreja, que se abre diante de nós. Vós, Mãe do "sim", que escutastes Jesus, falai-nos d’Ele, contai-nos sobre vossa estrada para segui-Lo no caminho da fé, ajudai-nos a anunciá-lo para que cada homem possa acolhê-lo e se tornar morada de Deus. Amém!</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-33598237878438668032012-10-09T16:15:00.000-03:002012-10-09T16:15:46.872-03:00A ORAÇÃO CRISTÃ É OLHAR CONSTANTEMENTE E DE MANEIRA SEMPRE NOVA A CRISTO<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
A ORAÇÃO CRISTÃ É OLHAR CONSTANTEMENTE E DE MANEIRA SEMPRE NOVA A CRISTO</h1>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="font-size: 1em; line-height: 1.6em;">CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 03 de outubro de 2012.</span></div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="font-size: 1em; line-height: 1.6em;"><br /></span></div>
<div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs,</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Na última catequese, comecei a falar de uma das fontes privilegiadas de oração cristã: a liturgia sagrada, que - como afirma o Catecismo da Igreja Católica - é "participação na oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo. Na liturgia, toda oração cristã encontra a sua fonte e o seu termo". Hoje, eu gostaria que nos perguntássemos: na minha vida, eu reservo espaço suficiente para a oração e, acima de tudo, que lugar na minha relação com Deus ocupa a oração litúrgica, especialmente a Santa Missa, como participação na oração comum do Corpo de Cristo que é a Igreja?</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Ao responder a esta questão devemos primeiramente lembrar que a oração é a relação viva dos filhos de Deus com seu Pai que é infinitamente bom, com seu Filho, Jesus Cristo, e com <span style="font-size: 1em; line-height: 1.6em;">o Espírito Santo. Assim, a vida de oração é o hábito de estar na presença de Deus e ter consciência de viver a relação com Deus como se vive as relações habituais de nossas vidas, com os familiares mais queridos, com amigos de verdade; e de fato, a relação com o Senhor é a que ilumina a todos os nossos outros relacionamentos. Esta comunhão de vida com Deus, Uno e Trino, é possível porque, pelo Batismo fomos introduzidos em Cristo, passamos a ser um com Ele (cf. Rm 6:5).</span></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
De fato, somente em Cristo podemos dialogar com Deus Pai como filhos, caso contrário não é possível, mas em comunhão com o Filho também nos podemos dizer como Ele disse: "Abba". Em comunhão com Cristo, podemos conhecer a Deus como verdadeiro Pai (cf. Mt 11:27). Por isso, a oração cristã é olhar constantemente e de maneira sempre nova a Cristo, conversar com Ele, ficar em silêncio com Ele, ouvi-lo, agir e sofrer com Ele. O cristão descobre sua verdadeira identidade em Cristo, "primogênito de toda criatura», em quem todas as coisas (cf. Cl 1,15 ss). Identificando-se com Ele, sendo um com Ele, redescubro a minha identidade pessoal, a de verdadeiro filho que vê a Deus como um Pai cheio de amor.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas não esqueçamos: Cristo, nós o encontramos, o conhecemos como uma pessoa viva, na Igreja. É o "seu corpo". Esta corporeidade pode ser entendida a partir das palavras bíblicas sobre o homem e a mulher: os dois serão uma só carne (cf. Gn 2:24; Efésios 5,30 ss; 1 Cor 6,16 s.). O vínculo indissolúvel entre Cristo e a Igreja, através do poder unificador do amor, não anula o “você” e o “eu”, mas eleva-as a sua unidade mais profunda. Encontrar a própria identidade em Cristo significa alcançar uma comunhão com Ele, que não me anula, mas eleva-me a mais alta dignidade, àquela de filho de Deus em Cristo: “a história de amor entre Deus e o homem consiste no fato de que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, a nossa vontade e a vontade de Deus coincidem cada vez mais "(Encíclica Deus caritas est, 17). Rezar significa elevar-se à altura de Deus através de uma necessária e gradual transformação do nosso ser.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Assim, participando da liturgia, fazemos nossa a linguagem da mãe Igreja, aprendemos a falar nessa e através dessa. Claro que, como eu já disse, isso acontece gradualmente, pouco a pouco. Devo imergir progressivamente nas palavras da Igreja, com a minha oração, com a minha vida, com o meu sofrimento, com a minha alegria, com o meu pensamento. É um caminho que nos transforma.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Penso que essas reflexões nos permitem responder à pergunta que fizemos no início: como aprendo a rezar, como eu cresço na minha oração? Olhando para o modelo que Jesus nos ensinou, o Pai Nosso, vemos que a primeira palavra é "Pai" e a segunda é "nosso". A resposta, então, é clara: aprendo a rezar, alimento a minha oração, dirigindo-me a Deus como Pai e rezando com outros, rezando com a Igreja, aceitando o dom de suas palavras, que tornam pouco a pouco familiar e rica de sentido. O diálogo que Deus estabelece com cada um de nós, e nós com Ele, na oração inclui sempre um "com"; não podemos rezar a Deus de maneira individualista. Na oração litúrgica, especialmente a Eucaristia, e - formados pela liturgia - em cada oração, não falamos apenas como pessoa individualmente, mas entramos no "nós" da Igreja que reza. E precisamos transformar nosso "eu" entrando neste "nós".</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Gostaria de lembrar outro aspecto importante. No Catecismo da Igreja Católica, lemos: "Na liturgia da Nova Aliança, cada ação litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e dos sacramentos, é um encontro entre Cristo e a Igreja" (n. 1097), por isso, é o "Cristo total", toda a Comunidade, o Corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra. A liturgia não é, então, uma espécie de "auto-manifestação" de uma comunidade, mas é a saída de simplesmente "ser para si mesmo", ser fechado em si mesmo para entrar no grande banquete, na grande comunidade viva, na qual o próprio Deus nos alimenta. A liturgia implica universalidade e esse caráter universal deve entrar novamente no conhecimento de todos. A liturgia cristã é o culto do templo universal que é Cristo Ressuscitado, cujos braços estão estendidos na cruz para atrair todos ao abraço do amor eterno de Deus. É o culto do céu aberto. Nunca é somente o evento de uma única comunidade, com o seu lugar no tempo e no espaço. É importante que cada cristão sinta-se realmente inserido nesse "nós" universal, que fornece o fundamento e o refúgio ao "eu", no Corpo de Cristo que é a Igreja.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Nisto devemos estar cientes e aceitar a lógica da Encarnação de Deus: Ele se fez próximo, presente, entrando na história e natureza humana, tornando-se um de nós. E esta presença continua na Igreja, seu Corpo. A liturgia, então, não é a memória de eventos passados, mas é a presença viva do Mistério Pascal de Cristo que transcende e une todos os tempos e espaços. Se na celebração não emerge a centralidade de Cristo, não temos a liturgia cristã totalmente dependente do Senhor e sustentada pela sua presença criadora. Deus age através de Cristo e nós não podemos agir a não ser por meio Dele e Nele. Todos os dias deve crescer em nós a convicção de que a liturgia não é o nosso, o meu "fazer", mas é a ação de Deus em nós e conosco.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Assim, não é o indivíduo - sacerdote ou fiel - ou o grupo que celebra a liturgia, mas é principalmente a ação de Deus através da Igreja, que tem a sua própria história, sua rica tradição e a sua criatividade. Esta universalidade e abertura fundamental, que é característica de toda a liturgia é uma das razões pelas quais não podem ser idealizada ou modificada pela comunidade individual ou por especialistas, mas deve ser fiel às formas da Igreja universal.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mesmo na liturgia das menores comunidades está sempre presente toda a Igreja. Por esta razão, não há "estrangeiro" na comunidade litúrgica. Em toda celebração litúrgica participa junto toda a Igreja, o céu e a terra, Deus e os homens. A liturgia cristã, mesmo que celebrada em um lugar e um espaço concreto e exprime o "sim" de uma determinada comunidade, é naturalmente Católica, vem do todo e leva ao todo, em união com o Papa, os Bispos, com os fiéis de todos os tempos e lugares. Quanto mais uma celebração é animada por esta consciência, mais frutuosamente nessa se realiza o autentico sentido da liturgia.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Caros amigos, a Igreja torna-se visível de muitas maneiras: na ação caritativa, nos projetos de missão, no apostolado pessoal que cada cristão deve realizar no próprio ambiente. Mas, o lugar no qual a Igreja é experimentada plenamente como Igreja é na liturgia: essa é o ato em que acreditamos que Deus entra em nossa realidade e podemos encontra-Lo, podemos toca-Lo. É o ato no qual entramos em contato com Deus, Ele vem até nós, e nós somos iluminados por Ele. Por isso, quando nas reflexões sobre liturgia nós centramos a nossa atenção somente sobre como torná-la atraente, interessante, bonita, corremos o risco de esquecer o essencial: a liturgia se celebra por Deus e não por nós mesmos; é obra sua; é Ele o sujeito; e nós devemos nos abrir a Ele e nos deixar guiar por Ele e pelo seu Corpo que é a Igreja.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Peçamos ao Senhor para aprendermos a cada dia viver a sagrada liturgia, especialmente a Celebração Eucarística, rezando no "nós" da Igreja, que dirige o olhar não para si, mas para Deus, e nos sintamos parte da Igreja viva de todos os lugares e de todos os tempos. Obrigado.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Amados peregrinos vindos do Brasil e demais peregrinos de língua portuguesa: sede todos bem-vindos! Aprendei a viver bem a liturgia, pois esta é o caminho para dirigir o vosso olhar a Deus, superando todo individualismo e egoísmo, através da comunhão com a Igreja viva de todos os tempos e lugares. Que Deus vos abençoe! </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Obrigado!</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-86314893933498259812012-09-28T16:15:00.000-03:002012-09-28T16:15:58.607-03:00VIVEMOS BEM A LITURGIA SOMENTE SE PERMANECEMOS EM ATITUDE DE ORAÇÃO<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
VIVEMOS BEM A LITURGIA SOMENTE SE PERMANECEMOS EM ATITUDE DE ORAÇÃO</h1>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>Catequese de Bento XVI na Audiência Geral</b></div>
<div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="font-size: 1em; line-height: 1.6em;">CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 26 de setembro de 2012.</span></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Nestes meses fizemos um caminho à luz da Palavra de Deus, para aprender a rezar de modo sempre mais autêntico, olhando para algumas grandes figuras do Antigo Testamento, dos Salmos, das Cartas de São Paulo e do Apocalipse, mas sobretudo, olhando para a experiência única e fundamental de Jesus, no seu relacionamento com o Pai celeste. Na verdade, somente em Cristo o homem se torna capaz de unir-se a Deus com a profundidade e a intimidade de um filho no confronto de um pai que o ama, somente Nele podemos nos voltar com toda a verdade a Deus chamando-O afetuosamente “Abbá, Pai”. Como os Apóstolos, também nós repetimos nestas semanas e repetimos a Jesus hoje: “Senhor, ensinai-nos a rezar” (Lc 11,1).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Além disso, para aprender a viver ainda mais intensamente a relação pessoal com Deus, aprendemos a invocar o Espírito Santo, primeiro dom do Ressuscitado aos que crêem, porque é Ele que “vem em auxílio à nossa fraqueza: nós não sabemos como rezar de modo conveniente” (Rm 8,26), diz São Paulo, e nós sabemos como ele tem razão.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A esse ponto, depois de uma longa série de catequeses sobre oração na Escritura, podemos nos perguntar: como posso eu deixar-me formar pelo Espírito Santo e assim tornar-me capaz de entrar na atmosfera de Deus, de rezar com Deus? Qual é esta escola na qual Ele me ensina a rezar, vem em auxílio ao meu esforço de dirigir-me de modo justo a Deus? A primeira escola para a oração – como vimos nestas semanas – é a Palavra de Deus, a Sagrada Escritura. A Sagrada Escritura é um permanente diálogo entre Deus e o homem, um diálogo progressivo no qual Deus se mostra sempre mais próximo, no qual podemos conhecer sempre melhor a sua face, a sua voz, o seu ser; e o homem aprende a aceitar o conhecer a Deus, a falar com Deus. Então, nestas semanas, lendo a Sagrada Escritura, buscamos, da Escritura, deste diálogo permanente, aprender como podemos entrar em contato com Deus.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Há ainda um outro precioso “espaço”, uma outra preciosa “fonte” para crescer na oração, uma fonte de água viva em estreitíssima relação com a anterior. Refiro-me à liturgia, que é um âmbito privilegiado no qual Deus fala a cada nós, aqui e agora, e espera a nossa resposta.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O que é a liturgia? Se abrirmos o Catecismo da Igreja Católica – subsídio sempre precioso, direi indispensável – podemos ler que originalmente a palavra “liturgia” significa “serviço da parte do povo e em favor do povo” (n. 1069). Se a teologia cristã tomou esta palavra do mundo grego, o fez obviamente pensando no novo Povo de Deus nascido de Cristo que abriu os seus braços na Cruz para unir os homens na paz do único Deus. “Serviço em favor do povo”, um povo que não existe por si só, mas que se formou graças ao Mistério Pascal de Jesus Cristo. De fato, o Povo de Deus não existe por laços de sangue, de território, de nação, mas nasce sempre da obra do Filho de Deus e da comunhão com o Pai que Ele nos concede.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O Catecismo indica também que “na tradição cristã (a palavra “liturgia”) quer dizer que o Povo de Deus participa da obra de Deus” (n. 1069), porque o povo de Deus como tal existe somente por obra de Deus.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Isso nos recordou o próprio desenvolvimento do Concílio Vaticano II, que iniciou seus trabalhos, cinquenta anos atrás, com a discussão do esquema sobre a sagrada liturgia, solenemente aprovado em 4 de dezembro de 1963, o primeiro texto aprovado pelo Concílio. Que o documento sobre a liturgia fosse o primeiro resultado da assembleia conciliar, talvez tenha sido considerado por alguns um acaso. Entre tantos projetos, o texto sobre a sagrada liturgia parecia ser aquele menos controverso, e, por isso mesmo, capaz de constituir uma espécie de exercício para aprender a metodologia do trabalho conciliar. Mas sem dúvida alguma, o que à primeira vista pode parecer um acaso, demonstrou-se como a escolha mais certa, também a partir da hierarquia dos temas e das tarefas mais importantes da Igreja. Iniciando, de fato, com o tema da “liturgia” o Concílio trouxe à luz de modo muito claro o primado de Deus, a sua prioridade absoluta. Antes de tudo Deus: por isso mesmo nos diz a escolha conciliar de partir da liturgia. Onde o olhar sobre Deus não é determinante, todas as outras coisas perdem a sua orientação. O critério fundamental para a liturgia é a sua orientação para Deus, para poder assim participar de sua própria obra.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas podemos nos questionar: qual é esta obra de Deus à qual somos chamados a participar? A resposta que nos oferece a Constituição conciliar sobre a sagrada liturgia é aparentemente dupla. O número 5 nos indica, de fato, que a obra de Deus são as suas ações históricas que nos levam à salvação, culminada na Morte e Ressurreição de Jesus Cristo; mas no número7 a Constituição define a própria celebração da liturgia como “obra de Cristo”. Na verdade, esses dois significados são inseparavelmente ligados. Se nos perguntarmos quem salva o mundo e o homem, a única resposta é: Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, crucificado e ressuscitado. E onde se torna atual para nós, para mim hoje o Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, que traz a salvação? A resposta é: na ação de Cristo através da Igreja, na liturgia, em particular no Sacramento da Eucaristia, que torna presente a oferta do sacrifício do Filho de Deus, que nos redimiu; no Sacramento da Reconciliação, no qual se passa da morte do pecado à vida nova; e nos outros sacramentos que nos santificam (cfr Presbyterorum ordinis, 5). Assim, o Mistério Pascal da Morte e Ressurreição de Cristo é o centro da teologia litúrgica do Concílio.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Façamos outro passo adiante e perguntemo-nos: de que modo se torna possível esta atualização do Mistério Pascal de Cristo? O beato Papa João Paulo II, 25 anos após a Constituição Sacrosanctum Concilium, escreveu: “Para atualizar o seu Mistério Pascal, Cristo está sempre presente na sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. A liturgia é, por consequência, o lugar privilegiado do encontro dos cristãos com Deus e com aquele que Ele enviou, Jesus Cristo (cfr Gv 17,3)” (Vicesimus quintus annus, n. 7). Nessa mesma linha, lemos no Catecismo da Igreja Católica assim: “Cada celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com o seu Pai, em Cristo e no Espírito Santo, e tal encontro se apresenta como um diálogo, através de ações e palavras” (n. 1153). Portanto, a primeira exigência para uma boa celebração litúrgica é que seja oração, diálogo com Deus, antes de tudo escuta e então resposta. São Bento, em sua “Regra”, falando da oração dos Salmos, indica aos monges: <em>mens concordet voci</em>, “que a mente concorde com a voz”. O Santo ensina que na oração dos Salmos as palavras devem preceder a nossa mente. Geralmente não acontece assim, primeiro devemos pensar e depois de ter pensado, se converte em palavra.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas aqui, na liturgia, é o inverso, a palavra precede. Deus nos deu a palavra e a sagrada liturgia nos oferece as palavras; devemos entrar no interior das palavras, nos seus significados, acolhê-las em nós, colocar-nos em sintonia com estas palavras; assim nos tornamos filhos de Deus, semelhantes a Deus. Como recorda o <em>Sacrosanctum Concilium</em>, para garantir a plena eficácia da celebração “é necessário que os fiéis se aproximem da sagrada liturgia com reta disposição de espírito, colocando o próprio espírito em consonância com a própria voz e cooperar com a graça divina para não recebê-la em vão” (n. 11). Elemento fundamental, primordial, do diálogo com Deus na liturgia, é a concordância entre o que dizemos com os lábios e o que trazemos no coração. Entrando nas palavras da grande história da oração nós mesmos seremos conformes ao espírito destas palavras e nos tornamos capazes de falar com Deus.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Nesta linha, gostaria apenas de mencionar um momento que, durante a própria liturgia, nos chama e nos ajuda a encontrar tal concordância, este conformar-se ao que escutamos, dizemos e fazemos na celebração da liturgia. Refiro-me ao convite que faz o Celebrante antes da Oração Eucarística: “<em>Sursum corda</em>”, elevamos nossos corações fora do emaranhado de nossas preocupações, de nossos desejos, de nossas angústias, de nossas distrações. O nosso coração, o íntimo de nós mesmos, deve abrir-se docilmente à Palavra de Deus e recolher-se na oração da Igreja, para receber sua orientação em direção a Deus pelas próprias palavras que escuta e diz. O olhar do coração deve dirigir-se ao Senhor, que está no meio de nós: é uma disposição fundamental.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Quando vivemos a liturgia com esta atitude de fundo, o nosso coração é como retirado da força da gravidade, que o atrai para baixo, e eleva-se interiormente em direção ao alto, em direção a verdade, ao amor, em direção a Deus. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica: “A missão de Cristo e do Espírito Santo que, na Liturgia sacramental da Igreja, anuncia, atualiza e comunica o Mistério da salvação, prossegue no coração que reza. Os Pais da vida espiritual às vezes comparam o coração a um altar” (n. 2655): <em>altare Dei est cor nostrum.</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Caros amigos, celebramos e vivemos bem a liturgia somente se permanecemos em atitude de oração, não se queremos “fazer qualquer coisa”, para nos fazer ver ou agir, mas se voltamos o nosso coração a Deus e estamos em atitude de oração nos unindo ao Mistério de Cristo e ao seu diálogo de Filho com o Pai. O próprio Deus nos ensina a rezar, afirma São Paulo (cfr Rm 8,26). Ele mesmo nos deu as palavras adequadas para nos dirigirmos a Ele, palavras que encontramos no Livro dos Salmos, nas grandes orações da sagrada liturgia e na própria Celebração eucarística. Rezemos ao Senhor para sermos cada dia mais conscientes do fato de que a Liturgia é ação de Deus e do homem; oração que vem do Espírito Santo e de nós, inteiramente voltada ao Pai, em união com o Filho de Deus feito homem (cfr Catecismo da Igreja Católica, n. 2564). Obrigado.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Ao final, o Santo Padre dirigiu a seguinte saudação em português:</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos peregrinos de língua portuguesa, a todos vós dirijo uma calorosa saudação! Particularmente, saúdo os membros da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém e todos os grupos vindos do Brasil. Tende por centro da vossa vida de oração a liturgia, que vos une ao Mistério de Cristo e ao Seu diálogo com o Pai, procurando que concordem as palavras de vossos lábios com os sentimentos do coração. E que desça sobre vós as bênçãos de Deus.</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-31863407484409350032012-09-14T13:34:00.000-03:002012-09-14T13:34:15.823-03:00A APARENTE ONIPOTÊNCIA DO MALIGNO COLIDE COM A VERDADEIRA ONIPOTÊNCIA DE DEUS<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
A APARENTE ONIPOTÊNCIA DO MALIGNO COLIDE COM A VERDADEIRA ONIPOTÊNCIA DE DEUS</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>A catequese de Bento XVI na Audiência Geral</b></div>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 12 de setembro de 2012.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Caros irmãos e irmãs,</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Quarta-feira passada falei sobre a oração na primeira parte do Apocalipse, hoje passamos para a segunda parte do livro, enquanto na primeira parte, a oração é orientada para o interior da vida eclesial, a atenção da segunda parte é voltada ao mundo inteiro; a Igreja, de fato, caminha na história, é sua parte segundo o projeto de Deus. A assembleia que, escutando a mensagem de João apresentada pelo narrador, redescobriu a própria missão de colaborar com o desenvolvimento do Reino de Deus como “sacerdotes de Deus e de Cristo” (<em>Ap 20,6; cfr 1,5; 5,10</em>), e se abre ao mundo dos homens. E aqui emergem dois modos de viver em uma relação dialética entre eles: o primeiro podemos definir como o “sistema de Cristo”, ao qual a assembleia é feliz de pertencer, e o segundo é o “sistema terrestre anti-Reino e anti-aliança posto em prática pela influência do Maligno”, o qual, enganando o homem, quer implantar um mundo oposto àquele desejado por Cristo e por Deus. A Assembleia deve então saber ler de forma profunda a história que está vivendo, aprendendo a discernir com a fé os acontecimentos para colaborar, com sua ação, para o desenvolvimento do Reino de Deus. E esta obra de leitura e de discernimento, como também de ação, está ligado à oração. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Primeiro, após o apelo insistente de Cristo que, na primeira parte do <em>Apocalipse</em>, sete vezes disse: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz à Igreja” (<em>cfr Ap 2,7.11.17.29; 3,6.13.22</em>), a assembleia é convidada a subir ao céu para assistir à realidade com os olhos de Deus; e aqui encontramos três símbolos, pontos de referência para a leitura da história: o trono de Deus, o Cordeiro e o livro (<em>cfr Ap 4,1 – 5,14</em>).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O primeiro símbolo é o trono, sobre o qual está sentado um personagem que João não descreve, porque supera qualquer representação humana; pode somente sugerir o sentido de beleza e alegria que se prova encontrando-se diante dele. Este personagem misterioso é Deus, Deus onipotente que não permaneceu fechado no seu Céu, mas se fez próximo ao homem, entrando em aliança com ele; Deus que faz sentir na história, de modo misterioso mas real, a sua voz simbolizada por relâmpagos e trovões. Há vários elementos que aparecem ao redor do trono de Deus, como os vinte e quatro anciãos e quatro seres viventes, que constantemente louvam o único Senhor da história.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Primeiro símbolo, o trono. Segundo símbolo é o livro, que contém o plano de Deus sobre os acontecimentos e sobre os homens; é fechado hermeticamente por sete selos e ninguém é capaz de lê-lo. Diante dessa incapacidade do homem de analisar o projeto de Deus, João sente uma tristeza profunda que o leva às lágrimas. Mas há um remédio para a perda do homem diante do mistério da história: alguém é capaz de abrir o livro e de iluminá-lo. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
E aqui aparece o terceiro símbolo: Cristo, o Cordeiro imolado no Sacrifício da Cruz, mas que está em pé, sinal da Ressurreição. É o próprio Cordeiro, o Cristo morto e ressuscitado, que progressivamente abre os selos e revela o plano de Deus, o sentido profundo da história. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O que dizem estes símbolos? Eles nos recordam qual é a estrada para saber ler os fatos da história e da nossa própria vida. Olhando para o Céu de Deus, no relacionamento constante com Cristo, abrindo a Ele o nosso coração a nossa mente na oração pessoal e comunitária, nós aprendemos a ver as coisas de um modo novo e a colher o sentido mais verdadeiro. A oração é como uma janela aberta que nos permite ter o olhar voltado para Deus, não somente para nos recordar a meta para a qual nos dirigimos, mas também para deixar que a vontade de Deus ilumine o nosso caminho terrestre e nos ajude a vivê-lo com intensidade e compromisso.<br /><br />De que modo o Senhor guia a comunidade cristã a uma leitura mais profunda da história? Primeiro convidando-a a considerar com realismo o presente que estamos vivendo. O Cordeiro abre agora os primeiros quatro selos do livro e a Igreja vê o mundo em que está inserida, um mundo em que existem vários elementos negativos. Existem os males que o homem causa, como a violência, que nasce do desejo de possuir, de prevalecer uns sobre os outros, a ponto de se matar (segundo selo); ou a injustiça, porque os homens não respeitam as leis que lhes são dadas (terceiro selo). A estes se unem os males que o homem deve sofrer, como a morte, a fome, a enfermidade (quarto selo). Diante dessa realidade, muitas vezes dramática, a comunidade eclesial é convidada a não perder nunca a esperança, a crer firmemente que a aparente onipotência do Maligno colide com a verdadeira onipotência de Deus. E o primeiro selo que o Cordeiro dissolve contém exatamente esta mensagem. Narra João: “Eu vi: eis um cavalo branco. Com aquele que nele cavalgava tinha um arco; lhe foi dada uma coroa e ele saiu vitorioso para vencer ainda” (Ap 6,2). Na história do homem entrou a força de Deus, que não somente é capaz de equilibrar o mal, mas vencê-lo; a cor branca recorda a Ressurreição: Deus se fez tão próximo descendo na escuridão da morte para iluminá-la com o esplendor de sua vida divina; tomou sobre si o mal do mundo para purificá-lo com o fogo do seu amor.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Como crescer nesta leitura cristã da realidade? O <em>Apocalipse</em> nos diz que a oração alimenta em cada um de nós e nas nossas comunidades esta visão de luz e de profunda esperança: convida-nos a não nos deixarmos vencer pelo mal, mas a vencer o mal com o bem, a olhar para Cristo Crucificado e Ressuscitado que nos associa à sua vitória. A Igreja vive na história, não se fecha em si mesma, mas enfrenta com coragem o seu caminho em meio à dificuldade e ao sofrimento, afirmando com força que o mal em definitivo não vence o bem, a escuridão não ofusca o esplendor de Deus. Este é um ponto importante para nós; como cristãos, jamais podemos ser pessimistas; sabemos bem que no caminho da nossa vida encontramos muita violência, mentira, ódio, perseguição, mas isto não nos desencoraja. Sobretudo, a oração nos educa a ver os sinais de Deus, a sua presença e ação faz sermos nós mesmos luzes do bem, que espalham a esperança e indicam que a vitória é de Deus. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Esta perspectiva leva a elevar a Deus e ao Cordeiro graças e louvores: os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes cantam juntos o “canto novo” que celebra a obra de Cristo Cordeiro, o qual faz “novas todas as coisas” (<em>Ap 21, 5</em>). Mas esta renovação é acima de tudo um dom a ser pedido. E aqui encontramos outro elemento que deve caracterizar a oração: invocar ao Senhor com insistência para que o seu Reino venha, que o homem tenha o coração dócil à soberania de Deus, que seja a sua vontade a orientar a nossa vida e a do mundo. Na visão do <em>Apocalipse</em> esta oração de petição é representada por um particular importante: “os vinte e quatro anciãos” e “os quatro seres viventes” têm em mãos, junto à harpa que acompanha o seu canto, “taças de ouro cheias de incenso” (5,8a) que, como é explicado, “são as orações dos santos” (5,8b), daqueles, isso é, que já alcançaram Deus, mas também de todos nós que nos encontramos no caminho. E vemos que diante do trono de Deus, um anjo tem em mãos um incensário de ouro em que coloca continuamente os grãos de incenso, que são nossas orações, cuja fragrância doce é oferecida junto às orações que apresentam-se diante de Deus. (<em>cfr Ap 8,1-4</em>). É um simbolismo que nos diz como todas as nossas orações – com todas as limitações, a fadiga, a pobreza, a aridez, as imperfeições que podem ter – vêm quase purificadas e alcançam o coração de Deus. Devemos ter certeza, ou seja, que não existem orações supérfluas, inúteis; nenhuma é perdida. E elas são respondidas, mesmo que às vezes de forma misteriosa, porque Deus é amor e misericórdia infinita. O anjo – escreve João – “tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e jogou-o na terra: sendo seguido de trovões, sons, relâmpagos e um terremoto” (<em>Ap 8,5</em>). Esta imagem significa que Deus não é insensível à nossas súplicas, intervém e faz sentir a sua potencia e a sua voz sobre a terra, faz tremer e perturba o sistema do Maligno. Muitas vezes, diante do mal se tem a sensação de não poder fazer nada, mas é exatamente a nossa oração a primeira resposta e a mais eficaz que podemos dar e que torna mais forte o nosso cotidiano empenho em difundir o bem. A potencia de Deus torna fecunda a nossa fraqueza (<em>cfr Rm 8,26-27</em>).<strong><br /></strong><br />Gostaria de concluir com algumas palavras sobre diálogo final (<em>cfr Ap 22,6-21</em>). Jesus repete várias vezes: “Eis que venho sem demora” (<em>Ap 22,7.12</em>). Esta afirmação não indica somente a perspectiva futura ao final dos tempos, mas também aquela presente: Jesus vem, coloca sua morada sobre quem acredita Nele e O acolhe. A assembleia, então, guiada pelo Espírito Santo, repete a Jesus o convite a tornar-se cada vez mais perto: “Vem” (<em>Ap 22,17a</em>). É como a ‘noiva’ (22,17) que aspira ardentemente a plenitude do casamento. Pela terceira vez recorre à invocação: “Amém. Vem, Senhor Jesus” (22,20b); e o narrador conclui com uma expressão que manifesta o sentido dessa presença: “A graça do Senhor Jesus esteja com todos” (22,21).</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O Apocalipse, mesmo na complexidade de símbolos, nos envolve numa oração muito rica, pela qual também nós escutamos, louvamos, agradecemos, contemplamos o Senhor, lhe pedimos perdão. A sua estrutura de grande oração litúrgica comunitária é também um forte chamado a redescobrir o encargo extraordinário e o poder transformador que tem a Eucaristia; em particular quero convidar com força a serem fiéis à Santa Missa dominical no Dia do Senhor, o Domingo, verdadeiro centro da semana! A riqueza da oração no <em>Apocalipse</em> nos faz pensar em um diamante, que tem uma fascinante variedade de facetas, mas cuja preciosidade reside na pureza de um único núcleo central. As sugestivas formas de oração que encontramos no <em>Apocalipse</em> fazem brilhar então a preciosidade única e indizível de Jesus Cristo. Obrigado.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, especialmente os portugueses de Avintes e Alpendurada, bem como os fiéis de Curitiba, acompanhados de seu Bispo, Dom Moacyr Vitti e todos os demais grupos de brasileiros. Lembrai-vos de que a vida de oração do cristão deve ter por centro a Missa dominical. É na Eucaristia que experimentareis como o Senhor Jesus vem e faz morada em quem n’Ele crê e acolhe. E que Deus vos abençoe em todas as vossas necessidades! Ide em paz!</em></div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-32242135293667279802012-09-08T10:10:00.001-03:002012-09-08T10:10:40.011-03:00QUANTO MAIS E MELHOR REZARMOS, MAIS NOS TORNAREMOS SEMELHANTES A ELE<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
QUANTO MAIS E MELHOR REZARMOS, MAIS NOS TORNAREMOS SEMELHANTES A ELE</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>As palavras de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira</b></div>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 05 de setembro de 2012.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs,</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Hoje, após as férias, retomamos as audiências no Vaticano, continuando a "escola de oração" que estamos vivendo juntos nas catequeses de quarta-feira.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Hoje gostaria de falar sobre a oração no livro de Apocalipse que, como vocês sabem, é o último do Novo Testamento. É um livro difícil, mas que contém uma grande riqueza. Nos coloca em contato com a oração viva e palpitante da assembléia cristã, reunida "no dia do Senhor" (Apocalipse 1:10), que é, de fato, o pano de fundo no qual se desenvolve o texto.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Um leitor apresenta à assembléia a mensagem confiada pelo Senhor ao evangelista João. O leitor e a assembléia são, por assim dizer, os dois protagonistas no desenvolvimento do livro. Para eles, desde o início, é dirigida uma saudação festiva: "Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras da profecia" (1,3). Através do diálogo constante entre eles, brota uma sinfonia de oração, que se desenvolve em uma variedade de formas até a sua conclusão. Ouvindo o leitor que apresenta a mensagem, ouvindo e observando a assembléia que reage, a oração deles tende a se tornar nossa.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A primeira parte do Apocalipse (1,4-3,22) tem, na atitude da assembléia que reza, três fases sucessivas. A primeira (1,4-8) consiste em um diálogo - único caso no Novo Testamento - que ocorre entre a assembléia reunida e o leitor, que lhe dirige uma saudação de bênção: "Graça e paz "(1,4). O leitor destaca a origem dessa saudação: vem da Trindade, do Pai, do Espírito Santo, de Jesus Cristo, juntos envolvidos no levar adiante o projeto de criação e de salvação para a humanidade. A assembléia escuta, e quando escuta nomear Jesus Cristo, há como uma explosão de alegria e responde com entusiasmo, elevando a seguinte oração de louvor: "Àquele que nos ama e nos libertou de nossos pecados com o seu sangue, que fez de nós um reino, sacerdotes para Deus e Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém" (1,5b-6). A assembléia, envolvida pelo amor de Cristo, se sente libertada da escravidão do pecado e proclama o "Reino" de Jesus Cristo, que pertence totalmente a Ele. Reconhece a grande missão que através do batismo foi confiada a ela, de levar ao mundo a presença de Deus. E conclui essa celebração de louvor olhando de novo diretamente para Jesus e, com crescente entusiasmo, reconhece Nele "a glória e o poder" para salvar a humanidade. O "Amém" final conclui o hino de louvor a Cristo. Já estes primeiros quatro versos contêm uma riqueza de evidências para nós, diz que a nossa oração deve ser, acima de tudo, escutar a Deus que fala. Submersos com tantas palavras, estamos pouco acostumados a ouvir, sobretudo a colocar-nos com disposição interior e exterior em silêncio para estar atentos ao que Deus quer nos dizer. Esses versículos ensinam-nos que a nossa oração, muitas vezes somente de pedidos, deve ser antes de tudo, de louvor a Deus por seu amor, pelo dom de Jesus Cristo, que nos trouxe força, esperança e salvação.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Uma nova intervenção do leitor chama, então, a assembléia, cativada pelo amor de Cristo, ao compromisso de assimilar sua presença na própria vida. Ele diz: Eis que vem com as nuvens e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram, e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele" (1,7a). Depois de subir ao céu em uma "nuvem", símbolo de transcendência (cf. Atos 1:9), Jesus Cristo retornará assim como ascendeu ao céu (cf. Atos 1,11b). Então, todos os povos o reconhecerão e, como exorta São João no quarto Evangelho, "olharão para Aquele que transpassaram" (19,37). Pensarão em seus pecados, causa de Sua crucifixão, e como aqueles que haviam testemunhado de forma direta no Calvário ", vão se lamentar" (cf. Lc. 23,48) pedindo perdão a Ele, para segui-Lo na vida e, assim, preparar a plena comunhão com Ele, após o seu retorno final. A assembléia reflete sobre a mensagem e diz: "Sim, Amém." (Ap 1,7 b). Exprime com o seu "sim" a plena aceitação do que foi comunicado e pede que isso possa se tornar uma realidade. É a oração da assembléia, que medita sobre o amor de Deus manifestado de modo supremo na Cruz e clama por viver com a coerência dos discípulos de Cristo.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
E esta é a resposta de Deus: "Eu sou o Alfa e o Ômega, Aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso" (1,8). Deus se revela como o começo e o fim da história, aceita e leva a sério o pedido da assembléia. Ele foi, é e será presente e ativo com o seu amor nas relações humanas, tanto no presente, como no futuro e no passado, até chegar o fim dos tempos. Esta é a promessa de Deus. E aqui encontramos outro elemento importante: a oração constante desperta em nós um senso de presença do Senhor em nossas vidas e na história, uma presença que nos sustenta, nos guia e nos dá grande esperança, mesmo em meio à escuridão de certos acontecimentos humanos; além disso, cada oração, mesmo na solidão radical, nunca é um isolar-se e nunca é estéril, mas é a força vital para a alimentação de uma vida cristã cada vez mais comprometida e coerente.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A segunda fase da oração da assembléia (1,9 a22) aprofunda ainda mais o relacionamento com Jesus Cristo, o Senhor aparece, fala, age, e a comunidade smpre mais próxima a ele, ouve, reage e acolhe. Na mensagem apresentada pelo leitor, São João relata sua experiência pessoal de encontro com Cristo: se encontra na ilha de Patmos, por causa da "palavra de Deus e do testemunho de Jesus" (1,9) e é “o dia do Senhor " (1,10a), o domingo, dia em que celebramos a Ressurreição. E São João está "tomado pelo Espírito" (1,10a). O Espírito Santo preenche e renova-o, ampliando sua capacidade de acolher Jesus, que o convida a escrever. A oração da assembléia que escuta, gradualmente assume uma atitude contemplativa motivada pelos verbos "ver", "olhar": contempla, tudo o que o leitor propõe, internalizando-o e tornando-o seu.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
João ouve "uma voz forte como de trombeta" (1,10b), a voz o ordena a enviar uma mensagem "às sete igrejas" (1,11) que se encontram na Ásia Menor e, por meio disso, a todas as igrejas de todos os tempos, juntamente com seus pastores. O termo "voz... de trombeta", tirado do livro do Êxodo (cf. 20,18), recorda a manifestação divina a Moisés no Monte Sinai e indica a voz de Deus que fala do céu, da sua transcendência. Aqui é atribuída a Jesus Cristo, o Ressuscitado, que da glória do Pai fala com a voz de Deus à assembléia em oração. Virando-se "para ver a voz" (1,12), João vê "sete candelabros de ouro e em meio a eles, algo semelhante ao Filho do homem" (1,12-13), termo particularmente familiar para João , que indica o próprio Jesus. Os castiçais de ouro com velas acesas, indicam a Igreja de todos os tempos em oração na Liturgia: Jesus ressuscitado, o "Filho do Homem" se encontra em meio a tudo isso, revestido com as vestes do sumo sacerdote do Antigo Testamento, atua como mediador junto ao Pai.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Na mensagem simbólica de João, segue uma manifestação visível de Cristo Ressuscitado, com as características próprias de Deus, citadas no Antigo Testamento. Ele fala de "cabelos brancos como a lã ..., branco como a neve" (1,14), símbolo da eternidade de Deus (cf. Dn. 7,9) e da Ressurreição. Um segundo símbolo é o fogo, que no Antigo Testamento muitas vezes refere-se a Deus para indicar duas propriedades.A primeira é a intensidade de seu amor ciumento, que anima a sua aliança com o homem (cf. Deuteronômio 04:24). E é essa intensidade ardente de amor, que lê-se nos olhos de Jesus Ressuscitado: "Seus olhos eram como chama de fogo" (Apocalipse1,14 a). A segunda é a capacidade irrestringível de vencer o mal como um "fogo devorador" (Dt 9:3). Assim também os "pés" de Jesus, no caminho de enfrentar e destruir o mal, tem o brilho do "bronze brilhante" (Ap 1,15). A voz de Jesus Cristo, então, "como a voz de muitas águas" (1,15 c), tem o ruído impressionante "da glória do Deus de Israel", que segue rumo a Jerusalém, mencionado pelo profeta Ezequiel (cf. 43, 2). Seguem ainda três outros elementos simbólicos que mostram o que Jesus Ressuscitado está fazendo por sua Igreja: a mantém firme em sua mão direita, uma imagem muito importante: Jesus tem a Igreja em sua mão - fala a ela com o poder penetrante de um espada afiada, e revela o esplendor de sua divindade: " Seu rosto era como o sol que brilha em todo o seu esplendor" (Rev. 1, 16). João fica tão impressionado com esta maravilhosa experiência do Ressuscitado, que se sente fraco e cai como morto.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Depois desta experiência da revelação, o Apóstolo diante do Senhor Jesus que fala com ele, tranquiliza-o, coloca a mão em sua cabeça, revela sua identidade de Crucificado e Ressuscitado, e confia a missão de transmitir a sua mensagem à Igreja (Apocalipse . 1,17-18). Algo belo é esse Deus diante daquele que perde as forças e cai como morto. É o amigo da vida, que coloca Sua mão em nossa cabeça. Assim será também para nós: somos amigos de Jesus. Depois da revelação de Deus Ressuscitado, Cristo Ressuscitado, não haverá temor, mas será o encontro com o amigo. A Assembléia também vive com João o momento especial de luz diante do Senhor, unidos.No entanto, é a experiência do encontro diário com Jesus, experimentando a riqueza do contato com o Senhor, que preenche todo o espaço da existência.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Na terceira e última fase da primeira parte do Apocalipse (AP 2-3), o leitor propõe à assembléia uma mensagemem que Jesus fala na primeira pessoa. Dirigida às sete igrejas da Ásia Menor localizadas ao redor de Éfeso, o discurso de Jesus parte da situação particular de cada igreja, e então se espalha para as igrejas de todos os tempos. Jesus entra na realidade particular de cada igreja, enfatizando luz e sombra, fazendo um apelo urgente: Convertei-vos" (2,5.16; 3,19c). "Guardai o que tens" (3,11), "praticai as primeiras obras" (2,5); "Sejais zelosos, portanto, e vos convertei" (3,19b)... Esta palavra de Jesus, se ouvida com fé, imediatamente passa a ser eficaz: a Igreja em oração, acolhendo a Palavra de Deus se transforma. Todas as igrejas devem se colocar em uma escuta atenta do Senhor, abrindo-se ao Espírito, como Jesus pede insistentemente, que repetiu este pedido sete vezes: "Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (2,7.11.17.29; 3,6.13.22). A assembléia ouve a mensagem recebendo um estímulo para o arrependimento, a conversão, a perseverança no amor, a orientação para o caminho.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Caros amigos, o Apocalipse apresenta uma comunidade reunida em oração, porque a oração é precisamente onde nós experimentamos a presença crescente de Jesus conosco e em nós. Quanto mais e melhor rezarmos com constância e intensidade, mais nos tornaremos semelhantes a Ele, e Ele realmente entrará em nossa vida e guiará, dando-nos alegria e paz. E quanto mais conhecermos, amarmos e seguirmos a Jesus, mais sentiremos a necessidade de ficarmos em oração com Ele, recebendo esperança, serenidade e força em nossas vidas. Obrigado pela atenção.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Bento XVI dirigiu a seguinte saudação em português:</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Amados fiéis brasileiros de Nossa Senhora das Dores e de São Bento e São Paulo, a graça e a paz de Jesus Cristo para todos vós e demais peregrinos de língua portuguesa. Quanto mais e melhor souberdes rezar, tanto mais sereis parecidos com o Senhor e Ele entrará verdadeiramente na vossa vida. É na oração que melhor podereis dar conta desta presença de Jesus em vós, recebendo serenidade, esperança e força na vossa vida. Tudo isto vos desejo, com a minha Bênção.</div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-59146709282944526062012-08-30T11:39:00.002-03:002012-08-30T11:39:29.065-03:00A VERDADE É A VERDADE E NÃO TOLERA INTERESSES PESSOAIS<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
<span style="font-size: small;">"A VERDADE É A VERDADE E NÃO TOLERA INTERESSES PESSOAIS"</span></h1>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b></b></div>
<a name='more'></a><b>Catequese de Bento XVI - </b><span style="line-height: 1.6em;">CASTEL GANDOLFO, quarta-feira, 29 de agosto de 2012.</span><br />
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="line-height: 1.6em;"><br /></span></div>
<div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Caros irmãos e irmãs,</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Nesta última quarta-feira de agosto, celebramos a memória litúrgica do martírio de São João Batista, o precursor de Jesus. No calendário romano, ele é o único santo de quem se recorda o nascimento, em 24 de junho, e também a morte, ocorrida por meio do martírio.</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
É uma memória que remonta à dedicação de uma cripta de Sebaste, na Samaria, onde, já em meados do século IV, era venerada a sua cabeça. O culto se espalhou para Jerusalém, para as Igrejas do Oriente e para Roma, com o título de Decapitação de São João Batista.</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O Martirológio Romano faz referência a uma segunda descoberta da preciosa relíquia, transportada, na ocasião, até a igreja de São Silvestre em Campo Marzio, Roma.</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Essas pequenas referências históricas nos ajudam a entender o quanto é antiga e profunda a veneração de João Batista. Os evangelhos destacam muito bem o seu papel em relação a Jesus. Em particular, São Lucas narra o seu nascimento, a vida no deserto, a pregação, e São Marcos nos fala da sua morte trágica, no evangelho de hoje.</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
João Batista inicia a sua pregação sob o imperador Tibério, em 27-28 d.C., e o claro convite que ele faz às pessoas que se reúnem para ouvi-lo é o de prepararem o caminho para acolher o Senhor, para endireitar as tortuosas estradas da vida através de uma mudança radical do coração (cf. Lc 3, 4).</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O Batista não se limita, porém, a pregar a penitência e a conversão. Reconhecendo Jesus como o "Cordeiro de Deus" que veio tirar o pecado do mundo (Jo 1, 29), ele tem a profunda humildade de mostrar em Jesus o verdadeiro Enviado de Deus, afastando-se para que Cristo cresça e seja ouvido e seguido. O Batista testemunha com o sangue a sua fidelidade aos mandamentos de Deus, sem ceder nem retroceder, cumprindo até o fim a sua missão.</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
São Beda, monge do século IX, assim o diz nas suas Homilias: São João, por Cristo, deu a vida, embora não tenha sido obrigado a negar a Cristo, mas apenas a calar a verdade. E ele não calou a verdade e assim morreu por Cristo, que é a Verdade. Precisamente por amor da verdade, ele não se comprometeu com os seus próprios interesses e não teve medo de bradar palavras fortes àqueles que tinham se perdido da estrada de Deus.</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Vemos agora esta grande figura, esta força na paixão, na resistência contra os poderosos. Perguntemos: de onde nasce esta vida, esta interioridade tão forte, tão reta, tão coerente, desgastada tão completamente por Deus para preparar o caminho para Jesus?</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
A resposta é simples: da relação com Deus, da oração, que é o fio condutor de toda a sua existência. João é o dom de Deus por muito tempo invocado pelos seus pais, Zacarias e Isabel (cf. Lc 1:13); um grande dom, humanamente inesperável, porque ambos eram avançados em anos e Isabel era estéril (cf. Lc 1:7); mas nada é impossível para Deus (cf. Lucas 1:36).</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O anúncio deste nascimento ocorre no próprio lugar da oração, no templo de Jerusalém, e justamente quando cabe a Zacarias o grande privilégio de adentrar no lugar mais sagrado do templo para queimar incenso ao Senhor (cf. Lc 1, 8-20). O nascimento de João Batista é marcado pela oração: o cântico de louvor, de alegria e de ação de graças, que Zacarias eleva ao Senhor e que recitamos todas as manhãs nas laudes, o <em>Benedictus</em>, exalta a ação de Deus na história e mostra profeticamente a missão do seu filho João: preceder o Filho de Deus feito carne a fim de preparar os seus caminhos (cf. Lc 1,67-79).</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Toda a existência do Precursor de Jesus é alimentada por um relacionamento com Deus, especialmente no tempo transcorrido no deserto (cf. Lc 1,80). As regiões desertas são o lugar da tentação, mas também o lugar onde o homem sente a própria pobreza, pela falta de apoios e de seguranças materiais. Ali ele entende que o único ponto de referência sólido é o próprio Deus. João Batista não é, porém, apenas homem de oração e de contato constante com Deus, mas também um guia para esta relação. O evangelista Lucas, transcrevendo a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos, o pai-nosso, observa que o pedido é feito pelos discípulos com estas palavras: "Senhor, ensina-nos a orar, assim como João ensinou aos seus discípulos" (cf. Lc 11, 1).</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs, o martírio de São João Batista recorda a todos nós, cristãos de hoje, que não podemos comprometer o amor de Cristo, a sua Palavra, a Verdade. A Verdade é a Verdade, não tolera compromissos com interesses particulares. A vida cristã exige, por assim dizer, o "martírio" da fidelidade diária ao evangelho, que é a coragem de deixar que Cristo cresça em nós e direcione o nosso pensamento e as nossas ações.</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas isto só pode acontecer em nossa vida se for sólido o nosso relacionamento com Deus. A oração não é um desperdício de tempo, não é roubar espaço de outras atividades, nem mesmo das atividades apostólicas. É exatamente o contrário: somente se formos capazes de ter uma vida de oração fiel, constante, confiante, o próprio Deus nos dará a força e a capacidade para vivermos felizes e em paz, para superarmos as dificuldades e testemunhá-lo com coragem.</div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
São João Batista interceda por nós, para que possamos manter sempre a primazia de Deus na nossa vida. </div>
<div style="line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Obrigado.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<br /></div>
</div>
Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-60842967965638729732012-08-17T09:22:00.000-03:002012-08-17T09:22:12.591-03:00MARIA É A VISITA DE DEUS QUE CRIA ALEGRIA<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
MARIA É A VISITA DE DEUS QUE CRIA ALEGRIA</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>Homilia de Bento XVI na Solenidade da Assunção da Beata Virgem Maria.</b></div>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
CASTEL GANDOLFO, quinta-feira, 16 de agosto de 2012</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Queridos irmãos e irmãs,</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Em 1º de novembro de 1950, o Venerável Papa Pio XII proclamava como dogma que a Virgem Maria “terminado o curso da vida terrena, foi assunta à glória celeste em alma e corpo”. Esta verdade de fé era conhecida pela Tradição, afirmada pelos Padres da Igreja, e era, sobretudo, um aspecto relevante do culto rendido à Mãe de Cristo. O elemento cultual constitui, por assim dizer, a força motora que determinou a formulação deste dogma: o dogma parece um ato de louvor e de exaltação em relação à Virgem Santa. Este emerge também do próprio texto da Constituição apostólica, onde se afirma que o dogma é proclamado “em honra ao Filho, para a glorificação da Mãe e a alegria de toda a Igreja”. É expresso assim na forma dogmática algo que já foi celebrado no culto da devoção do Povo de Deus como a mais alta e estável glorificação de Maria: o ato de proclamação da Assunta se apresentou quase como uma liturgia da fé. E no Evangelho que escutamos agora, Maria mesma pronuncia profeticamente algumas palavras que orientam nesta perspectiva. Diz: “Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz” (Lc 1,48). é uma profecia para toda a história da Igreja<strong>.</strong> Esta expressão do Magnificat, referida por São Lucas, indica que o louvor à Virgem Santa, Mãe de Deus, intimamente unida a Cristo, seu filho, diz respeito à Igreja de todos os tempos e de todos os lugares. E a anotação destas palavras da parte do Evangelista pressupõe que a glorificação de Maria estivesse já presente no período de São Lucas e ele a considerou um dever e um compromisso da comunidade cristã para todas as gerações. As palavras de Maria indicam que é um dever da Igreja recordar a grandeza de Nossa Senhora para a fé. Esta solenidade é um convite, portanto, a louvar Deus, e a olhar para a grandeza de Nossa Senhora, para que conheçamos Deus na face dos seus.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas, por que Maria é glorificada na assunção ao Céu? São Lucas, como ouvimos, vê a raiz da exaltação e do louvor à Maria na expressão de Isabel: “Feliz aquela que acreditou” (Lc 1, 45). E o Magnificat, este canto ao Deus vivo e operante na história é um hino de fé e de amor, que brota do coração da Virgem. Ela viveu com fidelidade exemplar e guardou no mais íntimo do seu coração as palavras de Deus ao seu povo, as promessas feitas a Abraão, Isaac e Jacó, fazendo do seu conteúdo sua oração: a Palavra de Deus estava no Magnificat transformada em Palavra de Deus, lâmpada do seu caminho, até torná-la disponível a acolher também em seu ventre o Verbo de Deus feito carne. A atual página evangélica apresenta esta presença de Deus na história e no próprio desenvolver-se dos eventos; especialmente, há uma referência ao Segundo livro de Samuel no capítulo sexto (6, 1-15), no qual Davi transporta a Arca Santa da Aliança. O paralelo que faz o Evangelista é claro: Maria à espera do nascimento do Filho Jesus e a Arca Santa que porta em si a presença de Deus, uma presença que é fonte de consolação, de alegria plena. João, de fato, dança no ventre de Isabel, exatamente como Davi dançava diante da Arca. Maria é a “visita” de Deus que cria alegria. Zacarias, em seu canto de louvor, dirá explicitamente: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e libertou o seu povo” (Lc 1,68). A casa de Zacarias experimentou a visita de Deus com o nascimento inesperado de João Batista, mas, sobretudo, com a presença de Maria, que porta em seu ventre o Filho de Deus.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas agora nos perguntamos: o que a Assunção de Maria ensina ao nosso caminho, à nossa vida? A primeira resposta é: na Assunção vemos que em Deus há espaço para o homem, Deus mesmo é a casa com muitas moradas da qual fala Jesus (Jo 14, 2). O próprio Deus é a casa do homem, em Deus há espaço de Deus. E Maria, unindo-se a Deus, não se distancia de nós, não vai para uma galáxia desconhecida, mas quem vai a Deus se aproxima, porque Deus está perto de todos nós, e Maria, unida a Deus, participa da presença de Deus, está muito perto de nós, cada um de nós.Há uma bela palavra de São Gregório Magno sobre São Bento que podemos aplicar ainda também a Maria: São Gregório Magno diz que o coração de São Bento tornou-se grande que toda a criação podia entrar neste coração. Isso vale ainda mais para Maria: Maria, unidade totalmente a Deus, tem um coração tão grande que toda a criação pode entrar neste coração, e os testemunhos em todas as partes da terra o demonstram. Maria está perto, pode escutar, pode ajudar, está perto de todos nós. Em Deus, há espaço para o homem, e Deus está perto, e Maria, unida a Deus, está muito perto, tem um coração alargado como o coração de Deus.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Mas tem também outro aspecto: não só em Deus há espaço para o homem; no homem há espaço para Deus. Também vemos isso em Maria, a Arca Santa que porta a presença de Deus. Em nós, há espaço para Deus e nesta presença de Deus em nós, tão importante para iluminar o mundo na sua tristeza, em seus problemas, esta presença se realiza na fé: na fé abrimos as portas do nosso ser para que Deus entre em nós, para que Deus possa ser a força que dá vida e caminho ao nosso ser. Em nós, há espaço, vamos nos abrir como Maria se abriu, dizendo: “Seja realizada a Tua vontade, eu sou serva do Senhor”. Abrindo a Deus, não perdemos nada. Ao contrário: nossa vida torna-se rica e grande. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
E assim, fé, esperança e amor se combinam. Existem hoje muitas palavras sobre um mundo melhor a esperar: seria a nossa esperança. Se e quando este mundo melhor vem, não sabemos, não sei. Certo é que um mundo que se afasta de Deus não se torna melhor, mas pior. Só a presença de Deus pode garantir também um mundo bom. Mas deixemos isso. Uma coisa, uma esperança é certa: Deus nos espera, nos aguarda, não caminhamos no vazio, somos esperados. Deus nos espera e encontramos, indo ao outro mundo, a bondade da Mãe, encontramos os nossos, encontramos o Amor eterno. Deus nos espera: esta é a grande alegria e a grande esperança que nasce exatamente desta festa. Maria nos visita, é a alegria da nossa vida e é a esperança da alegria.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O que dizer, portanto? Coração grande, presença de Deus no mundo, espaço de Deus em nós e espaço de Deus para nós, esperança, ser esperados: esta é a sinfonia desta festa, a indicação que a meditação desta Solenidade nos dá. Maria é aurora e esplendor da Igreja triunfante; ela é a consolação e a esperança para o povo ainda em caminho, diz o Prefácio de hoje. Vamos nos confiar à sua materna intercessão, para que o Senhor nos ajude a reforçar nossa fé na vida eterna; nos ajude a viver bem o tempo que Deus nos oferece com esperança. Uma esperança cristã, que não é somente nostalgia do Céu, mas vivo e operoso desejo de Deus aqui no mundo, desejo de Deus que nos torna peregrinos incansáveis, alimentando em nós a coragem e a força da fé que, ao mesmo tempo, é coragem e força no amor. Amém.</div>
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Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-85273408707456919702012-08-09T05:32:00.000-03:002012-08-09T05:32:34.789-03:00A IMPORTÂNCIA DAS ATITUDES EXTERNAS EM NOSSAS ORAÇÕES<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
A IMPORTÂNCIA DAS ATITUDES EXTERNAS EM NOSSAS ORAÇÕES</h1>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<b>As palavras de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira</b></div>
<br style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px;" /><div id="article" style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 16.792051315307617px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
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<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
CASTEL GANDOLFO, quarta-feira, 08 de agosto de 201</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>Queridos irmãos e irmãs</em>, </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Hoje a Igreja celebra a memória de São Domingos de Gusmão, Sacerdote e Fundador da Ordem dos Pregadores, chamados Dominicanos. Numa catequese anterior eu já descrevi esta figura ilustre e a contribuição fundamental que ele trouxe à renovação da Igreja de seu tempo. Hoje, gostaria de destacar um aspecto essencial de sua espiritualidade: a vida de oração. São Domingos era um homem de oração. Apaixonado por Deus, não teve outra aspiração que a salvação das almas, especialmente daquelas que caíram na rede das heresias de seu tempo; imitador de Cristo, encarnou radicalmente os três conselhos evangélicos, unindo à proclamação da Palavra o testemunho de uma vida pobre; sob a inspiração do Espírito Santo, progrediu na via da perfeição cristã. Em todos os momentos, a oração era a força que o renovava e tornava sempre mais fecunda sua obra apostólica.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
O Beato Jordão da Saxônia, morto em 1237, seu sucessor como líder da Ordem, escreve: “Durante o dia ninguém se mostrava mais sociável que ele... e por outro lado, à noite, ninguém era mais assíduo que ele na oração. O dia dedicava ao próximo, mas a noite era para Deus” (P.Filippi, São Domingos visto por seus contemporâneos, Bologna 1982, pág. 133). Em São Domingos podemos ver um exemplo de integração harmoniosa entre a contemplação dos mistérios divinos e a atividade apostólica. Segundo alguns testemunhos de pessoas mais próximas, “ele falava sempre com Deus ou de Deus”. Tal observação indica sua profunda comunhão com o Senhor e, ao mesmo tempo, o constante empenho de conduzir os outros a essa comunhão com Deus. Não deixou escritos sobre sua oração, mas a tradição dominicana recolheu e transmitiu sua experiência viva em uma obra intitulada: <em>As nove maneiras de rezar de São Domingos</em>. Este livro foi composto entre 1260 e 1288 por um frade dominicano; isso nos ajuda a entender algo da vida interior do Santo e nos ajuda também, com todas as diferenças, a aprender algo sobre como rezar.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
São portanto nove as maneiras de rezar segundo São Domingos e cada uma delas, que realizava sempre diante de Jesus Crucificado, expressa uma atitude corporal e espiritual que, intimamente compenetrados, favorecem o recolhimento e o fervor. Os primeiros sete modos seguem uma linha ascendente, como passos de um caminho, rumo à comunhão com Deus, com a Trindade: São Domingos reza em pé, inclinado para exprimir humildade, deitado no chão para pedir perdão por seus pecados, de joelhos em penitencia para participar dos sofrimentos do Senhor, com os braços abertos olhando para o crucifixo para contemplar o Amor Supremo e olhando para o céu, sentindo-se atraído ao mundo de Deus. Portanto são três formas: em pé, ajoelhado, deitado no chão, mas Sempre com o olhar voltado para o Senhor Crucificado. Os dois últimos aspectos, no entanto, que gostaria de deter-me brevemente, correspondem a duas práticas de piedade geralmente vividas pelo santo. Antes de tudo, a meditação pessoal, onde a oração adquire uma dimensão ainda mais íntima, fervorosa e tranquilizante. No final da recitação da Liturgia das Horas e após a celebração da Missa, São Domingos prolongava a conversa com Deus, sem colocar-se um limite de tempo. Sentado calmamente, recolhia-se numa atitude de escuta, lendo um livro ou olhando para o crucifixo. Vivia tão intensamente estes momentos de relacionamento com Deus que exteriormente era possível compreender suas reações de alegria ou de prantos. Assim, assimilou em si mesmo, meditando, a realidade da fé. Testemunhas dizem que, às vezes, entrava em uma espécie de êxtase, com o rosto transfigurado, mas logo retomava suas atividades diárias, humildemente revigorado pela força que vem do Alto. Depois, a oração durante as viagens de um convento ao outro, recitava as Laudes, ao meio-dia, as Vésperas com os colegas e, atravessando os vales ou colinas, contemplava a beleza da criação. De seu coração jorrava um hino de louvor e agradecimento a Deus por tantos dons, especialmente a maior maravilha: a redenção realizada por Cristo.</div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Caros amigos, São Domingos lembra-nos que, na origem do testemunho de fé, que todo cristão deve dar em família, no trabalho, na vida social, e até mesmo em momentos de relaxamento, está a oração, o contato pessoal com Deus; somente este relacionamento real com Deus nos dá força para viver intensamente cada acontecimento, especialmente os momentos mais sofridos. Este santo nos lembra também a importância das atitudes externas em nossas orações. O ajoelhar-se, o permanecer em pé diante do Senhor, fixar o olhar no crucifixo, o parar e se recolher em silêncio, não são atitudes secundárias, mas nos ajudam a nos colocar interiormente, toda a pessoa, em relação com Deus. Quero recordar mais uma vez, para a nossa vida espiritual, a necessidade de encontrar diariamente momentos de oração com tranquilidade; devemos aproveitar este momento especialmente durante as férias, ter um pouco de tempo para conversar com Deus. Será também uma maneira de ajudar aqueles que estão mais próximos a entrar nos raios luminosos da presença de Deus, que traz a paz e o amor que todos nós precisamos. Obrigado. </div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<em>O Papa dirigiu a seguinte saudação em português:</em></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
Com paterno afeto, saúdo os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os fiéis da paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Évora. Agradeço a presença e sobretudo a oração que fazeis por mim. Hoje a Igreja recorda São Domingos, de quem se diz que sempre falava de Deus ou com Deus. A oração abre a porta da nossa vida a Deus; e nela Deus ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros, envolvendo a todos na luminosa presença de Deus que nos habita. Sede para vossos familiares e amigos a Bênção de Deus!</div>
</div>Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8759164589386073850.post-33305726339292312392012-07-23T05:36:00.000-03:002012-07-23T05:36:53.574-03:00"O MALIGNO SEMEIA GUERRA; DEUS CRIA PAZ"<br />
<h1 style="color: #2f3b51; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.3em; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 19px 0px 0.2em; text-transform: uppercase;">
"O MALIGNO SEMEIA GUERRA; DEUS CRIA PAZ"</h1>
<a name='more'></a><div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; text-align: left;">Castel Gandolfo, domingo, 22 de julho de 2012.</span></div>
<div style="font-size: 1em; line-height: 1.6em; padding-left: 0px; padding-right: 0px;">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; text-align: left;"><br /></span></div>
<div id="article" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
Queridos irmãos e irmãs!</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
A palavra de Deus deste domingo nos propõe novamente um tema fundamental e sempre fascinante da Bíblia: recorda-nos que Deus é o Pastor da humanidade. Isto significa que Deus quer para nós a vida, quer guiar-nos para bons prados, onde poderemos nos alimentar e repousar; não quer que nos percamos e morramos, mas que cheguemos à meta de nosso caminho, que é exatamente a plenitude da vida. É isto que deseja todo pai e mãe para os próprios filhos: o bem, a felicidade, a realização. No Evangelho de hoje Jesus se apresenta como Pastor das ovelhas perdidas da casa de Israel. O seu olhar para as pessoas é um olhar como se fosse ‘pastoral’. Por exemplo, o Evangelho deste domingo, diz que ‘Ele desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas’(Mc 6,34). Jesus encarna Deus Pastor em seu modo de pregar e com as suas obras, cuidando dos doentes e dos pecadores, daqueles que estão ‘perdidos’ (cfr Lc 19, 10), para reconduzi-los em segurança, na misericórdia do Pai.</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
Entre as ‘ovelhas perdidas’ que Jesus trouxe em seguro, está uma mulher de nome Maria, originária do vilarejo de Magdala, no Mar da Galileia, e por isso Madalena. Hoje é sua memória litúrgica no calendário da Igreja. Diz o Evangelista Lucas que dela Jesus fez sair sete demônios (cfr Lc8,2), ou seja, a salvou de uma total escravatura do mal. Em que consiste esta cura profunda que Deus realiza através de Jesus? Consiste em uma paz verdadeira, completa, fruto da reconciliação da pessoa consigo mesma e em todas as suas relações: com Deus, com os outros, com o mundo. De fato, o maligno procura sempre destruir a obra de Deus, semeando divisão no coração do homem, entre o corpo e a alma, entre o homem e Deus, nas relações interpessoais, sociais, internacionais, e também entre o homem e a criação. O maligno semeia guerra; Deus cria paz. Com efeito, como afirma São Paulo, Cristo ‘é a nossa paz: de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro de separação e suprimido em sua carne a inimizade’( Ef 2, 14). Para realizar esta obra de reconciliação radical Jesus, o Bom Pastor precisou tornar-se Cordeiro, ‘o Cordeiro de Deus... que tira o pecado do mundo’(Jo1, 29). Somente assim pode realizar a maravilhosa promessa do Salmo: ‘Sim, felicidade e amor me seguirão todos os dias da minha vida; minha morada é a casa de Iahweh por dias sem fim’ (22/23, 6).</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
Queridos amigos, estas palavras faz vibrar o coração, porque exprimem nosso desejo mais profundo, dizem para o que fomos feitos: a vida, a vida eterna! São palavras daqueles que, como Maria Madalena, experimentaram Deus na própria vida e conhecem a sua paz. Palavras mais verdadeiras do que nunca na boca da Virgem Maria, que já vive para sempre nos prados do céu, onde a conduziu o Cordeiro Pastor. Maria, Mãe de Cristo nossa paz, rogai por nós!</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
(Após o Angelus)</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
Queridos irmãos e irmãs!</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
Entre alguns dias terá início, em Londres, a XXX edição dos Jogos Olímpicos. As Olimpíadas são o maior evento esportivo mundial, do qual participam atletas de muitas nações e, como tal se reveste de um forte valor simbólico. Por isso a Igreja Católica o vê com particular simpatia e atenção. Rezemos para que, segundo a vontade de Deus, os Jogos de Londres sejam uma verdadeira experiência de fraternidade entre os povos da Terra.</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
Em seguida concedeu a todos a sua Benção Apostólica.</div>
<div style="font-family: Verdana, arial, helvetica, sans-serif, Verdana, Tahoma, sans-serif; font-size: 10.995369911193848px; line-height: 1.6em; padding-bottom: 0.9em; padding-left: 0px; padding-right: 0px; text-align: left;">
<br /></div>
</div>Sidneihttp://www.blogger.com/profile/17620170469336026458noreply@blogger.com0