quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A VERDADE É A VERDADE E NÃO TOLERA INTERESSES PESSOAIS


"A VERDADE É A VERDADE E NÃO TOLERA INTERESSES PESSOAIS"

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

MARIA É A VISITA DE DEUS QUE CRIA ALEGRIA


MARIA É A VISITA DE DEUS QUE CRIA ALEGRIA


Homilia de Bento XVI na Solenidade da Assunção da Beata Virgem Maria.

CASTEL GANDOLFO, quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Queridos irmãos e irmãs,
Em 1º de novembro de 1950, o Venerável Papa Pio XII proclamava como dogma que a Virgem Maria “terminado o curso da vida terrena, foi assunta à glória celeste em alma e corpo”. Esta verdade de fé era conhecida pela Tradição, afirmada pelos Padres da Igreja, e era, sobretudo, um aspecto relevante do culto rendido à Mãe de Cristo. O elemento cultual constitui, por assim dizer, a força motora que determinou a formulação deste dogma: o dogma parece um ato de louvor e de exaltação em relação à Virgem Santa. Este emerge também do próprio texto da Constituição apostólica, onde se afirma que o dogma é proclamado “em honra ao Filho, para a glorificação da Mãe e a alegria de toda a Igreja”. É expresso assim na forma dogmática algo que já foi celebrado no culto da devoção do Povo de Deus como a mais alta e estável glorificação de Maria: o ato de proclamação da Assunta se apresentou quase como uma liturgia da fé. E no Evangelho que escutamos agora, Maria mesma pronuncia profeticamente algumas palavras que orientam nesta perspectiva. Diz: “Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz” (Lc 1,48). é uma profecia para toda a história da Igreja. Esta expressão do Magnificat, referida por São Lucas, indica que o louvor à Virgem Santa, Mãe de Deus, intimamente unida a Cristo, seu filho, diz respeito à Igreja de todos os tempos e de todos os lugares. E a anotação destas palavras da parte do Evangelista pressupõe que a glorificação de Maria estivesse já presente no período de São Lucas e ele a considerou um dever e um compromisso da comunidade cristã para todas as gerações. As palavras de Maria indicam que é um dever da Igreja recordar a grandeza de Nossa Senhora para a fé. Esta solenidade é um convite, portanto, a louvar Deus, e a olhar para a grandeza de Nossa Senhora, para que conheçamos Deus na face dos seus.
Mas, por que Maria é glorificada na assunção ao Céu? São Lucas, como ouvimos, vê a raiz da exaltação e do louvor à Maria na expressão de Isabel: “Feliz aquela que acreditou” (Lc 1, 45). E o Magnificat, este canto ao Deus vivo e operante na história é um hino de fé e de amor, que brota do coração da Virgem. Ela viveu com fidelidade exemplar e guardou no mais íntimo do seu coração as palavras de Deus ao seu povo, as promessas feitas a Abraão, Isaac e Jacó, fazendo do seu conteúdo sua oração: a Palavra de Deus estava no Magnificat transformada em Palavra de Deus, lâmpada do seu caminho, até torná-la disponível a acolher também em seu ventre o Verbo de Deus feito carne. A atual página evangélica apresenta esta presença de Deus na história e no próprio desenvolver-se dos eventos; especialmente, há uma referência ao Segundo livro de Samuel no capítulo sexto (6, 1-15), no qual Davi transporta a Arca Santa da Aliança. O paralelo que faz o Evangelista é claro: Maria à espera do nascimento do Filho Jesus e a Arca Santa que porta em si a presença de Deus, uma presença que é fonte de consolação, de alegria plena. João, de fato, dança no ventre de Isabel, exatamente como Davi dançava diante da Arca. Maria é a “visita” de Deus que cria alegria. Zacarias, em seu canto de louvor, dirá explicitamente: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e libertou o seu povo” (Lc 1,68). A casa de Zacarias experimentou a visita de Deus com o nascimento inesperado de João Batista, mas, sobretudo, com a presença de Maria, que porta em seu ventre o Filho de Deus.
Mas agora nos perguntamos: o que a Assunção de Maria ensina ao nosso caminho, à nossa vida? A primeira resposta é: na Assunção vemos que em Deus há espaço para o homem, Deus mesmo é a casa com muitas moradas da qual fala Jesus (Jo 14, 2). O próprio Deus é a casa do homem, em Deus há espaço de Deus. E Maria, unindo-se a Deus, não se distancia de nós, não vai para uma galáxia desconhecida, mas quem vai a Deus se aproxima, porque Deus está perto de todos nós, e Maria, unida a Deus, participa da presença de Deus, está muito perto de nós, cada um de nós.Há uma bela palavra de São Gregório Magno sobre São Bento que podemos aplicar ainda também a Maria: São Gregório Magno diz que o coração de São Bento tornou-se grande que toda a criação podia entrar neste coração. Isso vale ainda mais para Maria: Maria, unidade totalmente a Deus, tem um coração tão grande que toda a criação pode entrar neste coração, e os testemunhos em todas as partes da terra o demonstram. Maria está perto, pode escutar, pode ajudar, está perto de todos nós. Em Deus, há espaço para o homem, e Deus está perto, e Maria, unida a Deus, está muito perto, tem um coração alargado como o coração de Deus.
Mas tem também outro aspecto: não só em Deus há espaço para o homem; no homem há espaço para Deus. Também vemos isso em Maria, a Arca Santa que porta a presença de Deus. Em nós, há espaço para Deus e nesta presença de Deus em nós, tão importante para iluminar o mundo na sua tristeza, em seus problemas, esta presença se realiza na fé: na fé abrimos as portas do nosso ser para que Deus entre em nós, para que Deus possa ser a força que dá vida e caminho ao nosso ser. Em nós, há espaço, vamos nos abrir como Maria se abriu, dizendo: “Seja realizada a Tua vontade, eu sou serva do Senhor”. Abrindo a Deus, não perdemos nada. Ao contrário: nossa vida torna-se rica e grande. 
E assim, fé, esperança e amor se combinam. Existem hoje muitas palavras sobre um mundo melhor a esperar: seria a nossa esperança. Se e quando este mundo melhor vem, não sabemos, não sei. Certo é que um mundo que se afasta de Deus não se torna melhor, mas pior. Só a presença de Deus pode garantir também um mundo bom. Mas deixemos isso. Uma coisa, uma esperança é certa: Deus nos espera, nos aguarda, não caminhamos no vazio, somos esperados. Deus nos espera e encontramos, indo ao outro mundo, a bondade da Mãe, encontramos os nossos, encontramos o Amor eterno. Deus nos espera: esta é a grande alegria e a grande esperança que nasce exatamente desta festa. Maria nos visita, é a alegria da nossa vida e é a esperança da alegria.
O que dizer, portanto? Coração grande, presença de Deus no mundo, espaço de Deus em nós e espaço de Deus para nós, esperança, ser esperados: esta é a sinfonia desta festa, a indicação que a meditação desta Solenidade nos dá. Maria é aurora e esplendor da Igreja triunfante; ela é a consolação e a esperança para o povo ainda em caminho, diz o Prefácio de hoje. Vamos nos confiar à sua materna intercessão, para que o Senhor nos ajude a reforçar nossa fé na vida eterna; nos ajude a viver bem o tempo que Deus nos oferece com esperança. Uma esperança cristã, que não é somente nostalgia do Céu, mas vivo e operoso desejo de Deus aqui no mundo, desejo de Deus que nos torna peregrinos incansáveis, alimentando em nós a coragem e a força da fé que, ao mesmo tempo, é coragem e força no amor. Amém.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A IMPORTÂNCIA DAS ATITUDES EXTERNAS EM NOSSAS ORAÇÕES


A IMPORTÂNCIA DAS ATITUDES EXTERNAS EM NOSSAS ORAÇÕES


As palavras de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira

CASTEL GANDOLFO, quarta-feira, 08 de agosto de 201
Queridos irmãos e irmãs
Hoje a Igreja celebra a memória de São Domingos de Gusmão, Sacerdote e Fundador da Ordem dos Pregadores, chamados Dominicanos. Numa catequese anterior eu já descrevi esta figura ilustre e a contribuição fundamental que ele trouxe à renovação da Igreja de seu tempo. Hoje, gostaria de destacar um aspecto essencial de sua espiritualidade: a vida de oração. São Domingos era um homem de oração. Apaixonado por Deus, não teve outra aspiração que a salvação das almas, especialmente daquelas que caíram na rede das heresias de seu tempo; imitador de Cristo, encarnou radicalmente os três conselhos evangélicos, unindo à proclamação da Palavra o testemunho de uma vida pobre; sob a inspiração do Espírito Santo, progrediu na via da perfeição cristã. Em todos os momentos, a oração era a força que o renovava e tornava sempre mais fecunda sua obra apostólica.
O Beato Jordão da Saxônia, morto em 1237, seu sucessor como líder da Ordem, escreve: “Durante o dia ninguém se mostrava mais sociável que ele... e por outro lado, à noite, ninguém era mais assíduo que ele na oração. O dia dedicava ao próximo, mas a noite era para Deus” (P.Filippi, São Domingos visto por seus contemporâneos, Bologna 1982, pág. 133). Em São Domingos podemos ver um exemplo de integração harmoniosa entre a contemplação dos mistérios divinos e a atividade apostólica. Segundo alguns testemunhos de pessoas mais próximas, “ele falava sempre com Deus ou de Deus”. Tal observação indica sua profunda comunhão com o Senhor e, ao mesmo tempo, o constante empenho de conduzir os outros a essa comunhão com Deus. Não deixou escritos sobre sua oração, mas a tradição dominicana recolheu e transmitiu sua experiência viva em uma obra intitulada: As nove maneiras de rezar de São Domingos. Este livro foi composto entre 1260 e 1288 por um frade dominicano; isso nos ajuda a entender algo da vida interior do Santo e nos ajuda também, com todas as diferenças, a aprender algo sobre como rezar.
São portanto nove as maneiras de rezar segundo São Domingos e cada uma delas, que realizava sempre diante de Jesus Crucificado, expressa uma atitude corporal e espiritual que, intimamente compenetrados, favorecem o recolhimento e o fervor. Os primeiros sete modos seguem uma linha ascendente, como passos de um caminho, rumo à comunhão com Deus, com a Trindade: São Domingos reza em pé, inclinado para exprimir humildade, deitado no chão para pedir perdão por seus pecados, de joelhos em penitencia para participar dos sofrimentos do Senhor, com os braços abertos olhando para o crucifixo para contemplar o Amor Supremo e olhando para o céu, sentindo-se atraído ao mundo de Deus. Portanto são três formas: em pé, ajoelhado, deitado no chão, mas Sempre com o olhar voltado para o Senhor Crucificado. Os dois últimos aspectos, no entanto, que gostaria de deter-me brevemente, correspondem a duas práticas de piedade geralmente vividas pelo santo. Antes de tudo, a meditação pessoal, onde a oração adquire uma dimensão ainda mais íntima, fervorosa e tranquilizante. No final da recitação da Liturgia das Horas e após a celebração da Missa, São Domingos prolongava a conversa com Deus, sem colocar-se um limite de tempo. Sentado calmamente, recolhia-se numa atitude de escuta, lendo um livro ou olhando para o crucifixo. Vivia tão intensamente estes momentos de relacionamento com Deus que exteriormente era possível compreender suas reações de alegria ou de prantos. Assim, assimilou em si mesmo, meditando, a realidade da fé. Testemunhas dizem que, às vezes, entrava em uma espécie de êxtase, com o rosto transfigurado, mas logo retomava suas atividades diárias, humildemente revigorado pela força que vem do Alto. Depois, a oração durante as viagens de um convento ao outro, recitava as Laudes, ao meio-dia, as Vésperas com os colegas e, atravessando os vales ou colinas, contemplava a beleza da criação. De seu coração jorrava um hino de louvor e agradecimento a Deus por tantos dons, especialmente a maior maravilha: a redenção realizada por Cristo.
Caros amigos, São Domingos lembra-nos que, na origem do testemunho de fé, que todo cristão deve dar em família, no trabalho, na vida social, e até mesmo em momentos de relaxamento, está a oração, o contato pessoal com Deus; somente este relacionamento real com Deus nos dá força para viver intensamente cada acontecimento, especialmente os momentos mais sofridos. Este santo nos lembra também a importância das atitudes externas em nossas orações. O ajoelhar-se, o permanecer em pé diante do Senhor, fixar o olhar no crucifixo, o parar e se recolher em silêncio, não são atitudes secundárias, mas nos ajudam a nos colocar interiormente, toda a pessoa, em relação com Deus. Quero recordar mais uma vez, para a nossa vida espiritual, a necessidade de encontrar diariamente momentos de oração com tranquilidade; devemos aproveitar este momento especialmente durante as férias, ter um pouco de tempo para conversar com Deus. Será também uma maneira de ajudar aqueles que estão mais próximos a entrar nos raios luminosos da presença de Deus, que traz a paz e o amor que todos nós precisamos. Obrigado. 
O Papa dirigiu a seguinte saudação em português:
Com paterno afeto, saúdo os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os fiéis da paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Évora. Agradeço a presença e sobretudo a oração que fazeis por mim. Hoje a Igreja recorda São Domingos, de quem se diz que sempre falava de Deus ou com Deus. A oração abre a porta da nossa vida a Deus; e nela Deus ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros, envolvendo a todos na luminosa presença de Deus que nos habita. Sede para vossos familiares e amigos a Bênção de Deus!