quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A IMPORTÂNCIA DAS ATITUDES EXTERNAS EM NOSSAS ORAÇÕES


A IMPORTÂNCIA DAS ATITUDES EXTERNAS EM NOSSAS ORAÇÕES


As palavras de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira

CASTEL GANDOLFO, quarta-feira, 08 de agosto de 201
Queridos irmãos e irmãs
Hoje a Igreja celebra a memória de São Domingos de Gusmão, Sacerdote e Fundador da Ordem dos Pregadores, chamados Dominicanos. Numa catequese anterior eu já descrevi esta figura ilustre e a contribuição fundamental que ele trouxe à renovação da Igreja de seu tempo. Hoje, gostaria de destacar um aspecto essencial de sua espiritualidade: a vida de oração. São Domingos era um homem de oração. Apaixonado por Deus, não teve outra aspiração que a salvação das almas, especialmente daquelas que caíram na rede das heresias de seu tempo; imitador de Cristo, encarnou radicalmente os três conselhos evangélicos, unindo à proclamação da Palavra o testemunho de uma vida pobre; sob a inspiração do Espírito Santo, progrediu na via da perfeição cristã. Em todos os momentos, a oração era a força que o renovava e tornava sempre mais fecunda sua obra apostólica.
O Beato Jordão da Saxônia, morto em 1237, seu sucessor como líder da Ordem, escreve: “Durante o dia ninguém se mostrava mais sociável que ele... e por outro lado, à noite, ninguém era mais assíduo que ele na oração. O dia dedicava ao próximo, mas a noite era para Deus” (P.Filippi, São Domingos visto por seus contemporâneos, Bologna 1982, pág. 133). Em São Domingos podemos ver um exemplo de integração harmoniosa entre a contemplação dos mistérios divinos e a atividade apostólica. Segundo alguns testemunhos de pessoas mais próximas, “ele falava sempre com Deus ou de Deus”. Tal observação indica sua profunda comunhão com o Senhor e, ao mesmo tempo, o constante empenho de conduzir os outros a essa comunhão com Deus. Não deixou escritos sobre sua oração, mas a tradição dominicana recolheu e transmitiu sua experiência viva em uma obra intitulada: As nove maneiras de rezar de São Domingos. Este livro foi composto entre 1260 e 1288 por um frade dominicano; isso nos ajuda a entender algo da vida interior do Santo e nos ajuda também, com todas as diferenças, a aprender algo sobre como rezar.
São portanto nove as maneiras de rezar segundo São Domingos e cada uma delas, que realizava sempre diante de Jesus Crucificado, expressa uma atitude corporal e espiritual que, intimamente compenetrados, favorecem o recolhimento e o fervor. Os primeiros sete modos seguem uma linha ascendente, como passos de um caminho, rumo à comunhão com Deus, com a Trindade: São Domingos reza em pé, inclinado para exprimir humildade, deitado no chão para pedir perdão por seus pecados, de joelhos em penitencia para participar dos sofrimentos do Senhor, com os braços abertos olhando para o crucifixo para contemplar o Amor Supremo e olhando para o céu, sentindo-se atraído ao mundo de Deus. Portanto são três formas: em pé, ajoelhado, deitado no chão, mas Sempre com o olhar voltado para o Senhor Crucificado. Os dois últimos aspectos, no entanto, que gostaria de deter-me brevemente, correspondem a duas práticas de piedade geralmente vividas pelo santo. Antes de tudo, a meditação pessoal, onde a oração adquire uma dimensão ainda mais íntima, fervorosa e tranquilizante. No final da recitação da Liturgia das Horas e após a celebração da Missa, São Domingos prolongava a conversa com Deus, sem colocar-se um limite de tempo. Sentado calmamente, recolhia-se numa atitude de escuta, lendo um livro ou olhando para o crucifixo. Vivia tão intensamente estes momentos de relacionamento com Deus que exteriormente era possível compreender suas reações de alegria ou de prantos. Assim, assimilou em si mesmo, meditando, a realidade da fé. Testemunhas dizem que, às vezes, entrava em uma espécie de êxtase, com o rosto transfigurado, mas logo retomava suas atividades diárias, humildemente revigorado pela força que vem do Alto. Depois, a oração durante as viagens de um convento ao outro, recitava as Laudes, ao meio-dia, as Vésperas com os colegas e, atravessando os vales ou colinas, contemplava a beleza da criação. De seu coração jorrava um hino de louvor e agradecimento a Deus por tantos dons, especialmente a maior maravilha: a redenção realizada por Cristo.
Caros amigos, São Domingos lembra-nos que, na origem do testemunho de fé, que todo cristão deve dar em família, no trabalho, na vida social, e até mesmo em momentos de relaxamento, está a oração, o contato pessoal com Deus; somente este relacionamento real com Deus nos dá força para viver intensamente cada acontecimento, especialmente os momentos mais sofridos. Este santo nos lembra também a importância das atitudes externas em nossas orações. O ajoelhar-se, o permanecer em pé diante do Senhor, fixar o olhar no crucifixo, o parar e se recolher em silêncio, não são atitudes secundárias, mas nos ajudam a nos colocar interiormente, toda a pessoa, em relação com Deus. Quero recordar mais uma vez, para a nossa vida espiritual, a necessidade de encontrar diariamente momentos de oração com tranquilidade; devemos aproveitar este momento especialmente durante as férias, ter um pouco de tempo para conversar com Deus. Será também uma maneira de ajudar aqueles que estão mais próximos a entrar nos raios luminosos da presença de Deus, que traz a paz e o amor que todos nós precisamos. Obrigado. 
O Papa dirigiu a seguinte saudação em português:
Com paterno afeto, saúdo os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os fiéis da paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Évora. Agradeço a presença e sobretudo a oração que fazeis por mim. Hoje a Igreja recorda São Domingos, de quem se diz que sempre falava de Deus ou com Deus. A oração abre a porta da nossa vida a Deus; e nela Deus ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros, envolvendo a todos na luminosa presença de Deus que nos habita. Sede para vossos familiares e amigos a Bênção de Deus!

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